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O Itamaraty anunciou neste sábado que enviará diplomatas de Beirute para a região do Vale do Bekaa, região montanhosa no Líbano onde vive boa parte dos brasileiros naquele país. Os representantes do governo brasileiro, que devem chegar à localidade no domingo, tem como missão organizar comboios de ônibus para retirar moradores que desejem deixar a zona de conflito, indo para Damasco, na Síria.

Os diplomatas viajarão para a região em carro da embaixada brasileira no Líbano. O trajeto será feito por estradas secundárias, já que bombardeios israelenses destruíram pontes na via principal. O Itamaraty vai informar aos governos de Israel e do Líbano sobre o envio dos diplomatas. A maior preocupação é evitar que o veículo vire alvo do exército israelense.

- Estamos conscientes de que não é uma operação sem riscos, mas é necessária - disse Everton Vieira Vargas, coordenador do grupo de apoio aos brasileiros no Líbano.

O Itamaraty não sabe, ao certo, quantos brasileiros vivem no Vale do Bekaa. As estimativas apontariam a presença de 10 mil, 20 mil ou até mesmo 50 mil brasileiros na região. O Itamaraty já bancou a organização de três comboios para retirar moradores do vale, mas sempre houve menos procura do que o esperado. Quem cuidou da operação foram líderes comunitários. No último deslocamento, havia lugar para cerca de 300 pessoas, mas apenas 50 compareceram.

Neste sábado, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) deve deixar Adana, na Turquia, com 150 pessoas a bordo. A chegada no aeroporto internacional de Guarulhos, em são Paulo, está prevista para o fim da manhã de domingo. Outro vôo da FAB, com capacidade para 80 pessoas e previamente agendado para domingo, foi adiado para segunda-feira devido a problemas mecânicos. Segundo o embaixador, foi detectada falha em uma das três bombas hidráulicas do avião, que está em Natal. A peça de reposição teve de ser buscada no Rio de Janeiro.

De acordo com o embaixador, o número de brasileiros em Beirute tende a crescer. Há famílias deixando o sul do Líbano com destino à capital do país. Em Damasco, o número de brasileiros aumentou depois que 40 moradores do Vale do Bekaa chegaram à capital da Síria por meios próprios.

O último balanço do Itamaraty indica que 806 pessoas aguardam aviões para deixar a zona de conflito. São 462 em Beirute; 120 em Damasco, na Síria; e 224 em Adana. Quem está em Beirute depende ainda da saíde de ônibus para ir até Adana, de onde partem os vôos da FAB. O próximo comboio Beirute-Adana estava previsto para terça-feira, mas foi adiado para quarta.

Na madrugada deste sábado, um avião com 237 pessoas - entre elas doze bebês de colo - chegou em São Paulo, trazendo brasileiros que estavam na região do conflito entre o Hezbollah e o governo de Israel, no sul do Líbano. A aeronave, um Airbus da TAM, partiu de Damasco, capital da Síria.

Esse é o sexto vôo que o governo brasileiro e as companhias aéreas TAM e GOL organizam para retirar brasileiros que querem sair da região. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, 1.508 brasileiros já deixaram a região do conflito, a imensa maioria com a ajuda do governo.

A maior parte dos brasileiros que está sendo retirada do Líbano com auxílio do governo federal estava passando férias para visitar parentes no país quando começaram os bombardeios israelenses. De acordo com Sohel Iamuti, presidente do Instituto Futuro, entidade de cultura libanesa sediada na capital paulista, uma das que participaram da acolhida no Brasil dos brasileiros resgatados do Líbano, a maioria das pessoas trazidas tem familiares tanto no Brasil quanto no Líbano e não devem enfrentar problemas para se instalarem e permanecerem no país.

Rola Abdo, nascida no Líbano e naturalizada brasileira, é moradora de São Paulo, mas foi com o marido e mais três filhos passar as férias de julho em Trípoli, região norte do Líbano. Com o início dos ataques, Rola disse que procurou o consulado brasileiro em Beirute mais por precação do que devido ao medo.

- Eu nem queria vir, eu só fiquei com medo de fechar todas as fronteiras e eu não poder mais voltar. Minha casa é aqui, eu moro aqui. Fiquei com medo de ficar presa lá, não fiquei com medo da guerra - disse.

Rola que chegou no Brasil na última segunda-feira, em um avião da Força Aérea Brasileira, disse que teve de ir pessoalmente ao consulado brasileiro em Beirute para conseguir vaga nos vôos da Força Aérea. Ela e seus três filhos conseguiram, mas seu marido permaneceu no Líbano, e está tentando encontrar uma vaga nos novos vôos.

- Eu não conseguia pelo telefone, porque é muito difícil, sempre dava ocupado, aí eu fui direto para lá. É longe, mas é melhor ir pessoalmente. Vi que a cidade já estava bem acabada, mas não estava perigoso - contou.

Fátima Mohammed Yussef, libanesa, e residente no Brasil há 38 anos, não teve uma saída tão tranqüila do país. Apavorada com os ataques, Fátima chegou a deixar Beirute e fugir com a família para as montanhas, antes de saber que poderia requisitar uma vaga nos vôos. Fátima é naturalizada e tem seis filhos nascidos no Brasil.

- De repente começaram a bombardear. Ninguém sabia o que estava acontecendo, começou a cair prédio em cima de todo mundo. E a gente ficou sabendo que iam entrar com o exército e então a gente fugiu para a montanha - disse.

Ela disse que ficou com os parentes oito dias nas montanhas, região que, segundo ela, dificilmente é atacada. Para conseguir uma vaga nos comboios de retirada, Fátima disse que teve algum trabalho, mas não foi difícil.

- A gente chorou tanto que eles aceitaram - contou.

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