• Carregando...
Protestos seguem ocorrendo na Nicarágua, exigindo a renúncia do presidente Daniel Ortega | MARVIN RECINOS/AFP
Protestos seguem ocorrendo na Nicarágua, exigindo a renúncia do presidente Daniel Ortega| Foto: MARVIN RECINOS/AFP

Numa dura reação à morte da estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima durante repressão a protestos em Manágua, o governo brasileiro convocou, nesta terça-feira, a embaixadora da Nicarágua, Lorena Martínez, a dar explicações sobre o episódio. Além disso, chamou de volta o embaixador brasileiro na Nicarágua, Luis Cláudio Villafagne, num gesto diplomático que expressa uma forte insatisfação. 

As duas iniciativas se seguem a uma nota divulgada mais cedo pelo Itamaraty, na qual o governo brasileiro diz ter recebido com "profunda indignação" a notícia da morte da jovem e condena o uso excessivo da força e o uso de paramilitares para reprimir protestos.

Segundo o Itamaraty, Raynéia foi atingida por disparos "em circunstâncias sobre as quais está buscando esclarecimentos junto ao governo nicaraguense." Explicações foram pedidas à embaixadora, que foi recebida hoje mais cedo pelo subsecretário-geral de América Latina e Caribe, embaixador Paulo Estivallet de Mesquita.

Nossa opinião: A Nicarágua engolida pela barbárie

"Diante do ocorrido, o governo brasileiro torna a condenar o aprofundamento da repressão, o uso desproporcional e letal da força e o emprego de grupos paramilitares em operações coordenadas pelas equipes de segurança, conforme constatado pelo Mecanismo Especial de Seguimento para a Nicarágua instalado para implementar as recomendações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos", diz a nota. "Ao repudiar a perseguição de manifestantes, estudantes e defensores dos direitos humanos, o governo brasileiro volta a instar o governo da Nicarágua a garantir o exercício dos direitos individuais e das liberdades públicas."

O comunicado termina com um apelo para que autoridades nicaraguenses identifiquem e punam os responsáveis pelo "ato criminoso".

Raynéia pretendia voltar para o Brasil em breve

O pai de Raynéia, Ridevando Pereira, disse que a família está recebendo as informações sobre o caso da filha pelas redes sociais e pela imprensa e contou que ainda há poucas informações sobre as circunstâncias da morte da jovem. 

Segundo ele, Raynéia estava perto de se formar como médica na Universidade Americana de Manágua (UAM) e atuava no hospital da Universidade. Ridevando acrescentou que a filha era dedicada aos estudos e não tinha interesse nas questões políticas do país.  

Leia também: Nicarágua está no caminho de se tornar a próxima Venezuela

"Ela foi para lá só com o intuito de estudar, era muito estudiosa", afirmou, acrescentando que Raynéia não pensava em voltar para o Brasil antes de se formar, mesmo com a crescente violência e protestos contra o governo de Daniel Ortega no país. "Como ela era estrangeira, ela não opinava em nada", disse Ridevando. 

Raynéia morava em Manágua há cinco anos, sozinha, e não tinha parentes no país. Natural de Pernambuco, ela era filha única por parte de mãe, mas tinha três meias-irmãs e um meio-irmão por parte de pai. Segundo Ridevando, a jovem tinha o costume de conversar com a mãe sobre sua rotina na Nicarágua. 

Raynéia era natural de Pernambuco e filha única por parte de mãe, mas tinha três meias-irmãs e um meio-irmão por parte de pai Facebook/Raynéia Gabrielle Lima

Em um post no Facebook, Raynéia falou de seu amor pelos pais. "É doloroso já não contar com a presença de vocês aqui pertinho", escreveu, acrescentando sentir saudades da família. "Obrigada por serem meus pais, meus amigos, meu apoio, meu tudo! Amo vocês incondicionalmente!". 

A estudante planejava voltar para o Brasil quando se formasse, mas uma postagem do Facebook do dia 21 de junho mostra a possibilidade de antecipação do retorno. Na postagem, a jovem colocou seu cachorro de estimação para adoção. "Alfe, dois anos de idade, por motivo de viagem busca um novo lugar, muito brincalhão e carinhoso", escreveu. 

Leia mais: Presidente da Nicarágua nega renúncia e volta a acusar oposição e os EUA

Na mesma rede social, Raynéia demonstrava seu amor pela natureza e prática do ioga, além de sua relação com a Nicarágua. Ela se descrevia como "nascida no Brasil, renascida na Nicarágua".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]