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Em alto-mar, a 20 quilômetros dos reatores nucleares danificados de Fukushima, uma gigantesca turbina eólica flutuante sinaliza o início da mais ambiciosa aposta em energia limpa já feita pelo Japão.

Esse moinho de vento com cem metros de altura começa a funcionar neste mês, com a expectativa de gerar energia suficiente para abastecer 1.700 casas. Mas a meta é alcançar até 2020 a geração de um gigawatt de eletricidade com 140 turbinas eólicas. Isso é o equivalente à energia gerada por um reator nuclear.

O Japão foi forçado a olhar mais seriamente para a energia renovável depois das múltiplas fusões nos núcleos dos reatores nucleares causadas pelo terremoto e tsunami de 2011 em Fukushima. Os 50 reatores japoneses estão fechados atualmente, aguardando inspeções.

Os partidários do projeto eólico dizem que os moinhos de vento em alto-mar podem ser um avanço importante para esta nação energeticamente pobre.

Eles permitiriam que o Japão usasse um recurso que possui em abundância: seu litoral, que é mais longo do que o norte-americano.

O projeto é também uma tentativa de assumir a iniciativa para um setor que deve dobrar de tamanho nos próximos cinco anos, chegando a uma capacidade global de 536 gigawatts, segundo a entidade setorial Conselho Global da Energia Eólica.

"É a maior esperança do Japão", disse Hideo Imamura, porta-voz da empresa Shimizu. "É um esforço totalmente japonês, quase 100% feito no Japão."

O que diferencia o projeto de outras fazendas eólicas em alto-mar no resto do mundo é que suas turbinas e até a subestação e os transformadores elétricos flutuam sobre plataformas gigantes ancoradas em alto-mar. A tecnologia amplia enormemente as possíveis localizações de fazendas eólicas em alto-mar.

O domínio do vento em águas profundas na costa japonesa pode gerar até 1.570 gigawatts de eletricidade, cerca de oito vezes a atual capacidade instalada de todas as companhias elétricas japonesas juntas, segundo simulações por computador feitas na Universidade de Tóquio.

Mas Paul Scalise, também da Universidade de Tóquio, disse que as previsões precisariam ser ajustadas levando em conta a taxa de utilização, as perturbações para as rotas marítimas e a oposição de pescadores.

Ele estima que a geração eólica potencial nos mares japoneses seja bem menor.

"Não devemos nos esquecer do óbvio confronto com a realidade", disse ele. "Quanto mais longe da costa eles colocarem essas fazendas eólicas flutuantes, mais cara se torna a sua construção e a transmissão da energia para o Japão."

Nove décimos da capacidade japonesa para a geração de energia limpa vêm da energia eólica, segundo o Ministério do Ambiente. Noruega e Portugal também estão testando fazendas eólicas flutuantes de pequena escala, mas o projeto japonês deve ser o maior de todos.

A maior contestação ao projeto de Fukushima vem dos pescadores locais, que não podem trabalhar desde o desastre de 2011 e temem que o projeto os prive de áreas de pesca. O custo é outra grande questão. A construção das três primeiras turbinas sai por cerca de US$ 20 mil por quilowatt, cerca de oito vezes o custo de construir uma turbina em terra.

A durabilidade é o terceiro grande ponto de interrogação. A construtora Shimizu diz que as lâminas da turbina foram projetadas para durar pelo menos duas décadas. Mas Imamura, da Shimizu, admite que ninguém tem certeza de quanto tempo —e em que condições— as turbinas vão durar.

Mas as possíveis recompensas animam os executivos. Yasuhiro Sato, diretor do Mizuho Financial Group, disse neste ano a uma comissão governamental que as cerca de 20 mil peças usadas nas turbinas eólicas em alto-mar podem agregar bilhões de ienes à economia japonesa.

Colaborou Hisako Ueno

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