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Professores da Universidade Stanford observam exemplar de RNA programado por jogadores: brincadeira pode resultar em avanços como o desenvolvi­mento de um supe rcompu­­tador e a desativação de vírus | Jim Wilson/The New York Times
Professores da Universidade Stanford observam exemplar de RNA programado por jogadores: brincadeira pode resultar em avanços como o desenvolvi­mento de um supe rcompu­­tador e a desativação de vírus| Foto: NYT

Cientistas da Universidade Carne­­gie Mellon e de Stanford estão tentando cap­­turar a sabedoria das multidões com um jogo on-line que desafia os participantes a criar novas formas de do­­brar moléculas de RNA – processo pelo qual es­­ses componentes trans­­mi­­tem informações ge­­néticas.

Os cientistas esperam descobrir prin­­cípios fundamentais por trás de um dos blocos de construção da vida, e acreditam que o jogo gratuito também servirá como campo de treinamento para um quadro de cidadãos-especialistas – que poderão ajudar a gerar um novo depósito de conhecimento biológico. O processo também pode ajudar pesquisadores a criar algoritmos automatizados mais poderosos para descobertas biológicas.

O jogo, chamado EteRNA, é acessado em http://eterna.cmu.edu/content/Ete RNA (disponível em inglês). Ele permite que não biólogos projetem complexas moléculas de ácido ribonucleico (RNA), além de oferecer um rápido parecer sobre a função biológica dos projetos.

A ideia é que o jogador solucione charadas envolvendo quatro elementos – adenina, guanina, uracila e ecitosina – que formam as moléculas de RNA. Os jogadores podem criar estruturas elaboradas com nós, grades e chaves.

Diferentemente de esforços anteriores na ciência voltada às multidões, o EteRNA irá atravessar a fronteira en­­tre simulação e biologia. A cada semana, os melhores projetos criados por jogadores e selecionados pela comunidade virtual serão sintetizados em Stanford, segundo os cientistas.

Sintetizar os projetos criados pelos jogadores permitirá que os pesquisadores vejam se os modelos se dobram corretamente, rendendo formatos previstos que sejam biologicamente ativos. A esperança é explorar novos caminhos em nanoengenharia.

"O sonho é que, dentro de um ano, sejamos capazes de criar um RNA que seja funcional e que possamos trans­­crever às células, para funções como perceber a luz ou desativar um vírus", disse Rhiju Das, físico que leciona no Departamento de Bioquímica de Stan­­ford e é um dos criadores do jogo.

É possível ainda que o RNA possa ser usado para construir um poderoso computador biológico, segundo Das.

Para a equipe do EteRNA, o RNA é uma molécula maravilhosa, pela simplicidade capaz de originar formas complexas.

"Do lado científico, há uma revolução do RNA acontecendo. A complexidade da vida poderia se dever à sinalização do RNA", diz Adrien Treuil­­le, professor-assistente de ciência da computação na CarnegieMellon.

Trabalho em equipe

Usar jogos para obter a participação de amadores explora um recurso que o cientista social Clay Shirky descreveu recentemente como "excedente cognitivo". A desenvolvedora de softwares Ro­­­­vio, por exemplo, estimou recentemente que seu jogo "Angry Birds", para o iPhone, consome algo como 200 mi­­lhões de minutos da atenção humana por dia.

"É como colocar um jogo de xadrez molecular à disposição das pessoas num nível de massa", disse Treuille. "Penso que estamos democratizando a ciência, tornando-a mais acessível".

Ainda não está claro se o que os pesquisadores definem como "computação social" terá um impacto significativo sobre as pesquisas científicas. Um jogo anterior, o Foldit, onde os jogadores competiam para prever o dobramento de proteínas, atraiu mais de 50 mil participantes. Nesse caso, não só os humanos conseguiram su­­perar os algoritmos protéicos do software, mas os cientistas determinaram que as estratégias humanas desenvolvidas durante o jogo eram significativamente mais flexíveis e adaptáveis do que o software com que eles competiam.

Outro empenho, o Ga­­­­laxy Zoo, de­­senvolvido para ajudar com a classificação de objetos no céu por uma ampla comunidade de astrônomos, já atraiu até agora mais de 250 mil pessoas – com um sistema on-line que emprega as habilidades de reconhecimento de padrões dos internautas. Inicialmente, os criadores acharam que levaria um ano para classificar o total de um mi­­lhão de imagens da ga­­láxia coletadas pela Sloan Digital Sky Survey. Mas, um dia depois do início do projeto, os ávidos usuários estavam classificando mais de 70 mil objetos por hora – e, no primeiro ano, foram inseridas 50 milhões de classificações por quase 150 mil pessoas.

Segundo Shirky, a experiência inicial com o Foldit e o Galaxy Zoo é apenas uma dica da força existente em entrelaçar seres humanos.

"Ainda estamos no mundo dos casos especiais", disse ele, "mas existem muitoslugares onde as pessoas estão sendo captadas por suas habilidades cognitivas nativas".

Por enquanto, Treuille afirmou que a criação de novas formas de RNA não causaria problemas de segurança, pois os componentes estão sendo criados em quantidades muito pequenas e estão isolados em tubos de ensaio. No futuro, questões éticas e legais verdadeiras po­­dem confrontar os jogadores.

"Queremos modificar pequenas partes do mecanismo celular que faz coisas reais", disse ele. "Existe a questão não só da segurança, mas também de a quem elas pertencem."

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