• Carregando...

O vazamento da documentação médica sobre os últimos dias de Yasser Arafat, que deveria encerrar o mistério em torno da causa de sua morte, acentuou-o significativamente, nesta quinta-feira (8). Dois dos maiores jornais do mundo, o "New York Times" e o "Haaretz", publicaram conclusões inteiramente diferentes da análise dos dados: o jornal americano fala num derrame, relacionado a uma infecção inexplicada, e o diário israelense diz que Aids, envenenamento e uma infecção são as causas mais prováveis.

Os dois jornais tomam por base informações obtidas pelos autores do livro "A Sétima Guerra", os jornalistas israelenses Amos Harel e Avi Isacharoff - que, por sua vez, diz ser impossível dizer exatamente o que matou Arafat.

"Os registros médicos de Yasser Arafat, que foram mantidos em segredo desde sua morte inexplicada no ano passado, num hospital militar francês, mostram que ele morreu de um derrame, resultante de um problema hemorrágico causado por uma infecção não identificada", relata o "New York Times". "A primeira revisão independente dos registros, obtidos pelo 'New York Times', sugere que envenenamento seja altamente improvável e dissipa o rumor de que ele poderia ter morrido de Aids. Apesar disso, os registros mostram que, a despeito dos testes amplos, os médicos não puderam determinar qual era a infecção subjacente."

O "New York Times" relata que Amos Harel e Avi Isacharoff aceitaram compartilhar os dados com o jornal, que os encaminharam a especialistas independentes. Eles concordaram em analisá-los, desde que se mantivessem anônimos. Os especialistas consultados acharam estranho que os registros não mencionem um teste de Aids, que os médicos palestinos não tenham identificado o problema sangüíneo - coagulação intravascular disseminada - nem tenham dado antibióticos por 15 dias ao presidente palestino.

Arafat, cuja saúde já era claramente frágil meses antes de sua morte, caiu doente em 12 de outubro do ano passado. O diagnóstico inicial era "um problema gastrintestinal". Dezessete dias depois, sem sinal de melhora, ele foi enviado para um hospital militar nos arredores de Paris. Ele morreu em 11 de novembro.

O "Haaretz", que publica o capítulo da nova edição de "A Sétima Guerra" dedicado à morte de Arafat", consultou especialistas que apontam a Aids como uma causa altamente provável - bem como veneno.

Ashraf al-Kurdi, médico pessoal da Arafat, que não cuidou do presidente em seus últimos dias, disse que médicos franceses inocularam o vírus HIV no sangue de Arafat, para encobrir sinais de envenenamento. Ele não diz qual a fonte da informação.

Um médico israelense diz que os sinais de Aids eram claros e anteriores à internação em Paris. "Uma infecção que começa pelo sistema digestivo e se deteriora tão rapidamente até o colapso do sistema de coagulação é típica da Aids", disse ao jornal o professor Gil Lugassi, presidente da Associação de Hematologistas de Israel, que viu o relatório dos médicos franceses. "O que é simplesmente inaceitável e causa perplexidade é a absoluta desconsideração com a possibilidade da Aids. (...) Só posso presumir que, se houvesse um teste de Aids que desse resultado negativo, não haveria problema em mencioná-lo no relatório."

Já outro médico, não identificado, que leu os dados, se diz convencido da versão de envenenamento, suscitada desde o ano passado por autoridades palestinas. Ele lembra que Arafat caiu doente quatro horas depois do jantar. "É um caso clássico de envenenamento por comida, que é ensinado na escola de medicina."

O "New York Times", porém, diz que os registros anulam essa possibilidade. "Os médicos franceses enviaram amostras a três diferentes laboratórios para testes padrão de toxicologia que detectam metais e drogas, como barbitúricos, opiácios e anfetaminas. Nada foi detectado".

Mas o médico israelense consultado pelo "Haaretz" e citado anteriormente diz que a comida parece ter sido contaminada com uma bactéria que libera toxinas - o que, estranhamente, deveria ter sido descoberto por seus médicos em Ramallah, nas Cisjordânia, que não lançaram mão de antibióticos de imediato.

O ministro de Relações Exteriores da Autoridade Palestina, Naser al Kidua, sobrinho de Arafat, afirmou nesta quinta-feira que os novos relatos não acrescentam nada novo. O chefe dos negociadores palestinos, Saeb Erekat, reiterou que os documentos não indicam Aids e que a causa da morte de Arafat permanece um mistério. Ele pediu, porém, que a família de Arafat permita aos médicos franceses tornar públicas suas conclusões.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]