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Assange, fundador do WikiLeaks, em conferência sobre a guerra do Iraque, em outubro. Em janeiro, ele passará por audiência judicial sobre acusações de estupro supostamente cometidos na Suécia | Luke MacGregor/Reuters
Assange, fundador do WikiLeaks, em conferência sobre a guerra do Iraque, em outubro. Em janeiro, ele passará por audiência judicial sobre acusações de estupro supostamente cometidos na Suécia| Foto: Luke MacGregor/Reuters

Opinião

Surpresa para quem?

Marcio Antonio Campos, editor de Economia e blogueiro de ciência e religião da Gazeta do Povo.

Confesso: surpreso fiquei eu ao saber que a diplomacia norte-americana foi pega de calças curtas quando Joseph Ratzinger foi eleito Papa – ou seja, que os analistas sabiam menos que os frequentadores de sites de apostas, em que Ratzinger liderava quando o conclave começou. "Sua eleição foi uma surpresa para muitos", diz o telegrama, sem indicar quem são esses "muitos". É verdade que, em cada conclave, existe pelo menos uma meia dúzia de cotados, os chamados "papáveis", mas em 2005 ninguém estava tão em evidência quanto Ratzinger. Não só pela proximidade com João Paulo II, mas também por sua posição de decano do Colégio de Cardeais.

Ele era o líder natural do grupo, tendo inclusive solicitado aos outros cardeais que deixassem de dar entrevistas às vésperas da eleição papal – e foi atendido. Sua homilia (mencionada no telegrama) na missa pro eligendo pontifice, antes da abertura do conclave, foi vista praticamente como um "programa de governo", indicando como o futuro Papa deveria ser – o que levou muitos a considerar que, se o eleito não fosse o próprio Ratzinger, seria alguém apoiado por ele.

De resto, os autores do comunicado parecem saber muito de Ratzinger (inclusive mencionando seu caráter afável, oposto ao estereótipo que se fazia sobre ele) e pouco sobre a Igreja. Não é porque o eleito foi Ratzinger que a Igreja não mudará suas posições sobre aborto, contracepção ou ordenação de mulheres – essas doutrinas permaneceriam ainda que o Papa fosse Leonardo Boff ou Emanuel Milingo.

Mas os diplomatas acertaram ao avaliar que a Europa secularista seria uma prioridade do novo Pontífice, relacionando o continente à escolha do nome papal.

De resto, ligam o nome "Bento" a um papado de transição de forma errada. O aspecto mais marcante do pontificado de Bento XV (1914-1922) não foi sua duração, mas o fato de ter se desenrolado durante um momento difícil para a Europa, a Primeira Guerra Mundial. Além disso, papados curtos também podem ser significativos – João XXIII governou por cinco anos, mas foi o Papa que convocou o Concílio Vaticano II, cujo impacto na história da Igreja é inegável.

Dubai e Oslo - O jornal norueguês Aftenposten informou ontem ter conseguido todos os mais de 250 mil telegramas diplomáticos norte-americanos que vêm sendo divulgados paulatinamente pelo site Wiki­­Leaks, dedicado ao vazamento de arquivos secretos.

Ole Erik Almlid, editor do Af­­tenposten, disse que o jornal não tem nenhuma restrição quanto ao uso a ser feito do material e publicará reportagens citando os telegramas caso julgue relevante. Ainda de acordo com ele, trechos de documentos originais também serão divulgados no site do periódico na internet.

Almlid recusou-se a revelar co­­mo o Aftenposten obteve os documentos, mas assegurou que a direção do jornal não pagou por eles. Até o momento, o WikiLeaks divulgou apenas cerca de 1.900 dos mais de 250 mil telegramas de que dispõe. O teor dos documentos vazados pelo WikiLeaks tem sido publicado por diversos veículos de comunicação ao redor do mundo, alguns dos quais fizeram acordo com o site.

Novas revelações

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o fundador do site, Julian Assange, disse ainda ter "várias revelações que teriam um impacto político grande para o governo americano e para outros governos".

Ainda ontem, ele anunciou a publicação de centenas de documentos sensíveis sobre Israel dentro de quatro meses e negou ter chegado a um acordo com este país para não revelá-los, informou ontem o canal Al-Jazeera.

Os documentos confidenciais seriam sobre a guerra entre Israel e Líbano de 2006 e o assassinato do dirigente do Hamas, Mahmud al Mabhub, ocorrido em janeiro, em Dubai, e atribuído ao serviço de inteligência israelense, Mossad.

Da mesma forma, o fundador do WikiLeaks negou qualquer acordo para não publicar os documentos relativos a Israel, que seriam 3.700 ao todo. "Não temos nenhum acordo secreto com nenhum país", afirmou o australiano. "Não temos nenhum contato direto ou indireto com os israelenses", insistiu, afirmando ainda que o que foi publicado até agora sobre Israel não constitui sequer 2% dos documentos sobre esse país em posse do WikiLeaks.

Eleição de Ratzinger deixou EUA surpresos

Dentro da série de documentos diplomáticos vazada pelo Wiki­­Leaks, telegramas da embaixada americana na Santa Sé revelaram que a eleição de Bento XVI surpreendeu os americanos. Pelos textos, até mesmo um assessor próximo do então cardeal Ratzinger teria se surpreendido.

Os diplomatas americanos, de acordo com os arquivos vazados, esperavam que Joseph Ratzinger não alcançaria o apoio suficiente para se tornar Papa, apesar de contar com muitos votos de cardeais. Para eles, a entrada forçada no exército alemão no final da 2.ª Guer­­ra Mundial seria um fator grave demais para que chegasse a ser eleito. Outros documentos deram conta da opinião dos EUA sobre o Vaticano, que consideram "fechado e provinciano".

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