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Num ônibus em Londres, homem lê a última edição do mais vendido jornal semanal britânico | Luke MacGregor/Reuters
Num ônibus em Londres, homem lê a última edição do mais vendido jornal semanal britânico| Foto: Luke MacGregor/Reuters

Negociação

Magnata reúne-se com diretora de tabloide

Pouco após chegar a Londres, o magnata australiano Rupert Murdoch, dono do conglomerado de mídia News Corporation, ao qual pertencia o tabloide News of the World, reuniu-se com Rebekah Brooks, numa demonstração de apoio à executiva considerada pivô do escândalo de escutas ilegais que forçou o fechamento do jornal neste domingo.

Com a 8.674ª edição do tabloide nas mãos, Murdoch foi visto sorridente no banco da frente de um carro ao chegar à capital britânica.

Tido como o principal responsável pela decisão de encerrar as atividades do jornal, Murdoch deve tentar de todas as formas impedir que o escândalo afete as negociações em torno da British Sky Broadcasting (BSkyB), a empresa de tevê por assinatura que seu grupo pretende comprar, num negócio de US$ 19 bilhões. O governo britânico sinalizou que o acordo será adiado.

O líder da oposição britânica, Ed Miliband, alertou que Murdoch não pode receber autorização para comprar a BSkyB enquanto as investigações ainda estiverem abertas e pediu um voto no parlamento sobre o assunto caso o primeiro-ministro não tente evitar o negócio. "Quando o público vir as revelações nauseantes que vimos nesta semana, a ideia desta organização, que adotou essas práticas terríveis, assumir o controle da BSkyB sem as investigações terem terminado... Francamente não vai agradar ao público", disse ele à BBC.

Após uma hora de reunião, Murdoch deixou o apartamento acompanhado de Brooks e com a mão sobre o ombro da executiva. Ela afirma que não sabia das escutas ilegais. Ambos sorriram para os fotógrafos e equipes de televisão que estavam reunidos no local antes de caminharem em direção a um hotel próximo. Cerca de 200 jornalistas serão demitidos com o fim do News of the World. Brooks deve manter o cargo.

Executiva de confiança do australiano, Rebekah Brooks chefia a News International, empresa que gerencia todos os jornais britânicos pertencentes à News Corporation, entre eles o tabloide The Sun, o Times e o Sunday Times.

O Guardian, outro jornal britânico, revelou ontem que e-mails e memorandos de 2007 entregues recentemente à polícia indicam que a News International tinha consciência de que o uso de escutas telefônicas ilegais pelos funcionários era uma prática mais disseminada do que se pensava.

Neste domingo, o tabloide britânico News of the World publicou sua última edição, depois de 168 anos de funcionamento, em meio a indícios de que a publicação teria usado grampos telefônicos ilegais para obter informações. O dono do jornal, Rupert Murdoch, responsável pela decisão de encerrar a publicação do News of the World, foi a Londres ontem para discutir o escândalo com seus funcionários.

Enquanto seguia para o escritório da News International, divisão britânica de jornais de seu conglomerado, Murdoch foi visto com a última edição do News of the World em mãos. A publicação continha um editorial de página inteira que dizia, entre outras coisas, "nós prezávamos por padrões elevados, exigíamos padrões elevados, mas, como ficamos sabendo dolorosamente, por um período de alguns anos até 2006 parte dos que trabalhavam para nós ou em nosso nome ficaram vergonhosamente aquém desses padrões."

Posteriormente, Murdoch, de 80 anos, reuniu-se em seu apartamento com a presidente da News International, Rebekah Brooks (leia mais na matéria abaixo), que dirigiu o News of the World quando os repórteres do jornal cometeram parte dos desvios éticos alegados até agora, que envolvem desde o pagamento de propinas a policiais para a obtenção de informações até a invasão do correio de voz do celular de uma adolescente morta. Três pessoas foram presas, incluindo o ex-chefe de comunicações do primeiro-ministro David Cameron.

Escândalo

O escândalo explodiu nesta semana, depois de surgirem informações de que o News of the World havia invadido o celular de Milly Dowler, uma menina de 13 anos vítima de assassinato, enquanto a família e a polícia buscavam informações sobre a adolescente. Os funcionários do tabloide teriam deletado algumas mensagens da caixa de correio de voz do celular de Milly, gerando falsa expectativa de que a menina estivesse viva.

Brooks disse a parlamentares que ela "não teve conhecimento" da invasão do telefone de Milly ou de qualquer outro caso semelhante enquanto foi editora do jornal, de acordo com uma carta publicada no sábado pelo comitê de assuntos internos da Grã -Bretanha.

A aquisição do News of the World por Murdoch em 1969 foi o primeiro passo do australiano na construção de sua influência na política britânica. Cameron admitiu recentemente que os políticos desenvolveram uma relação muito próxima com os tabloides e pediu um novo sistema regulatório para a imprensa.

O ex-chefe de comunicações do primeiro-ministro britânico, Andy Coulson, foi um dos editores do News of the World e foi preso em meio às investigações da polícia a respeito do jornal.

Leitores lamentam

Os londrinos correram às bancas ontem para comprar o último número do tradicional tabloide sensacionalista e muitos demonstraram tristeza pela extinção da publicação. "É uma pena ver desaparecer um jornal tão antigo e que, obviamente, sempre foi um sucesso. Mas o que estavam fazendo não é certo e estou de acordo que o tenham fechado", disse Kenny, um barbeiro de 24 anos, que exibia seu exemplar recém-comprado na estação de King’s Cross, no centro da capital. "Eles foram longe demais. Deve haver uma maneira melhor de conseguir notícias do que espionando as pessoas", criticou Shareen Geral, maquiadora de 26 anos, que considerou, apesar de tudo, muito triste perder "essa parte da cultura britânica". Shareen espera lucrar em breve com este item de colecionador. "Vou guardá-lo e colocá-lo no site de leilões eBay no futuro. Vai valer mais que uma libra (US$ 1,6), seu preço hoje", explicou a leitora.

Cinco milhões de exemplares do último número do tabloide mais vendido do país, quase o dobro que o de costume, chegaram às bancas ontem. A edição para colecionadores foi essencialmente dedicada a destacar os êxitos obtidos pelo, como se autoproclama sem modéstia, "melhor jornal do mundo".

Os londrinos, no entanto, não deverão ficar muito tempo sem um jornal substituto, já que a imprensa britânica antecipa que o grupo Murdoch anunciará em breve uma edição dominical do Sun, que até agora só era publicado de segunda a sábado.

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