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A jornalista Natalia Petrova foi espancada por três homens em Kazan, a 800 km de Moscou, "em nome de uma política deliberada de limpeza dos resquícios de democracia na Rússia", afirmou nesta quinta-feira a organização de defesa dos direitos humanos Memorial.

Em telefonema com a AFP, ela contou que os agressores ameaçaram levá-la para um hospital psiquiátrico se não se calasse antes das eleições legislativas de dezembro.

Os fatos aconteceram em 6 de setembro, mas a jornalista os revelou há alguns dias à Memorial.

Autora de documentários sobre o Cáucaso e principalmente sobre a Chechênia, ela foi agredida primeiro por dois homens na manhã do dia 6 de setembro nos corredores da escola de suas filhas, em Kazan.

Depois de conseguir escapar, voltou para casa e tentou telefonar para a polícia. "Eu havia notado na manhã daquele dia que o telefone não estava funcionando. Quando cheguei em casa depois da agressão, o telefone ainda não estava funcionando", declarou.

Mais tarde, ela pediu para que seu pai de 74 anos fosse buscar suas duas filhas gêmeas, de nove anos. Quando os três voltaram, os dois homens que a haviam atacado e um terceiro aproveitaram para entrar no apartamento e espancá-la novamente, assim como sua mãe e suas filhas, que tentavam impedi-los. Uma das meninas teve um dente quebrado.

Em seguida, os agressores pisaram forte em suas duas mãos dizendo: "assim você não vai mais escrever".

Um dos homens tinha "um daqueles telefones usados por policiais e falava com um certo Slava, que parecia lhe dar ordens", relatou a jornalista, afirmando ter então reconhecido a voz de um policial de Kazan que conheceu em 2005 e cujo nome correspondia ao diminutivo Slava.

"Vinte e quatro horas depois, recebi ameaças por telefone. Eles me disseram que minhas filhas não seriam poupadas", acrescentou a jornalista.

Na semana passada, Natalia Petrova foi acusada de "resistir às forças da ordem", informou Andrei Mironov, membro da ONG Memorial.

"Estamos assistindo a uma limpeza dos resquícios de democracia na Rússia. A imprensa livre está sendo destruída de forma sistemática, e a sociedade civil, sufocada por todos os meios possíveis", alertou Mironov à AFP.

"Eles estão ameaçando até agora matar suas filhas. Trata-se da mesma tática que a utilizada na Chechênia", explicou.

"Eu temo por sua segurança. Seria melhor que ela saísse do país", declarou a presidente da ONG Comitê de assistência cívica, Sveltana Gannushkina, que também integra a Memorial.

O advogado de Petrova, Fizuli Balafendiev, se encontrou com Gannushkina em Moscou depois de ter visto a jornalista em Kazan. Natalia Petrova ainda está "muito mal", e as seqüelas da agressão "ainda são visíveis", disse Gannushkina, destacando que uma das filhas da jornalista "tem um traumatismo na coluna vertebral".

"Exigimos que uma investigação seja aberta e que os responsáveis sejam identificados e punidos. Já não dá mais para as autoridades ignorarem o que aconteceu, e se Natalia Petrova ou sua família sofressem novamente esse tipo de agressão, consideraríamos o governo como cúmplice", afirmou, por sua vez, a organização de defesa dos jornalistas Repórteres Sem fronteiras, num comunicado publicado nesta quinta-feira.

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