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O austríaco Joseph Fritzl chega ao tribunal pelo segundo dia ainda escondendo o rosto | Robert Jaeger/AFP
O austríaco Joseph Fritzl chega ao tribunal pelo segundo dia ainda escondendo o rosto| Foto: Robert Jaeger/AFP

Entrou no segundo dia o julgamento do austríaco Josef Fritzl, de 73 anos, acusado de sequestrar, estuprar e ter sete filhos com sua própria filha. A exemplo do que ocorreu na segunda-feira (16), ele voltou ao tribunal na Áustria nesta terça (17) com uma pasta azul para esconder o rosto e evitar fotos. O julgamento do austríaco ocorre em Sankt Poelten, a 60 km ao oeste de Viena. Usando um casaco cinza, ele entrou no tribunal ladeado por seis policiais.

Nesta segunda, Fritzl declarou-se culpado de estupro, incesto e sequestro, mas negou em juízo a acusação de homicídio de um de seus "filhos-netos". Fritzl também afirmou perante o tribunal que não é culpado da acusação de "escravidão".

Maltratado pela mãe

Falando ao tribunal no seu primeiro dia de julgamento, ele relembrou sua difícil infância, quando teria sido maltratado pela mãe.

Três juízes e oito jurados decidirão sobre a culpa ou inocência de Fritzl, acusado de incesto, escravidão, sequestro, estupro e assassinato. O veredicto deve ser conhecido até o fim da semana.

Fritlz é acusado de ter mantido sua filha Elisabeth em cárcere privado, pela maior parte da vida dela, em um porão da cidade de Amstetten, e de ter tido sete filhos com ela. O caso veio à tona em abril do ano passado. Três das crianças jamais haviam visto a luz do sol.

O acusado se disse "parcialmente" culpado de estupro - o que significa que ele está contestando os termos da acusação -- e privação de liberdade. Ele afirmou ser inteiramente culpado de privar a liberdade das crianças isoladas no subsolo.

Ele permaneceu em silêncio e imóvel, ignorando questões de equipes de TV antes que o juiz e o júri entrassem e as câmeras fossem retiradas do recinto.

Depois, trêmulo e com a voz embargada, Fritzl contou que foi várias vezes agredido pela mãe durante sua "duríssima infância" e que não tinha amigos.

"Minha mãe nunca me amou. Ela já tinha 42 anos (quando nasci). Ela me maltratava", falou o aposentado enquanto expunha à juíza Andrea Humer sua condição de filho indesejado.

O réu também contou que, aos 12 anos de idade, começou a se defender das agressões da mãe: "A partir desse momento virei um demônio para ela".

A mãe de Fritzl morreu após ficar trancafiada durante anos no piso superior de sua casa, cujas janelas o aposentado tapou para que ela não pudesse ver a luz do sol.

A relação do réu com a mãe veio à tona depois que parte de seu histórico psiquiátrico vazou à imprensa marrom da Áustria.

Durante o tratamento psiquiátrico, Fritzl confessou que tinha medo da mãe mais do que qualquer outra coisa e que a odiava por chamá-lo de "satã, inútil e criminoso" e porque ela o proibia de praticar esportes e ter amigos.

O tratamento ressaltou a falta de piedade de Fritzl para com o sofrimento alheio e o uso das pessoas à sua volta em benefício próprio, algo decorrente da falta de carinho durante a infância.

Apesar de tais distorções em sua personalidade, os peritos estabeleceram que o réu está em pleno uso de suas faculdades mentais e pode ser julgado.

O advogado de Fritzl argumentou que a acusação de escravidão era inapropriada e que ele contestaria a acusação mais grave, de assassinato.

A acusação diz que Fritzl é responsável pela morte de um gêmeo pouco depois de seu nascimento no porão, em 1996. Ela classifica o ato como um assassinato por negligência porque Fritzl não buscou ajuda para o bebê, cujo corpo foi queimado em um forno.

Fritzl construiu o porão, à prova de som e com uma porta reforçada, sob sua casa, na cidade de Amstetten.

Se for considerado culpado de assassinato pelo júri em St. Poelten, perto de Viena, ele pode pegar pena de prisão perpétua ou de 10 a 15 anos de prisão. Seu advogado diz que Fritzl não é um "monstro sexual", mas espera passar o resto da vida atrás das grades. A filha de Fritzl e os seis filhos que ela teve com o pai, três dos quais encarcerados desde o nascimento, vivem agora em um local secreto sob nova identidade.

Depoimento em vídeo

O júri popular que julga Josef Fritzl por trancar em um porão sua filha Elisabeth durante 24 anos escutou a primeira parte do depoimento da vítima, gravado em uma fita de vídeo para preservá-la de se ver frente a frente com o pai. A informação foi dada pelo porta-voz do tribunal, Franz Cutka.

Após a leitura da folha de acusações e das alegações iniciais da Promotoria e da defesa, o júri assistiu à primeira parte da fita de 11 de horas do testemunho de Elisabeth.

Após o vídeo, o réu foi questionado sobre o testemunho da filha, mas o porta-voz não deu qualquer informação sobre essa inquirição.

Cutka informou que outra parte do depoimento de Elisabeth será exibido. O vídeo foi fragmentado em pequenos trechos para ser mostrado ao júri.

Além do testemunho de Elisabeth, o porta-voz explicou que os jurados escutarão a declaração de três ou quatro peritos, entre eles um psiquiatra, sobre o estado mental de Fritzl.

Eles ouvirão também o depoimento de um neonatologista sobre a possível responsabilidade do acusado na morte, pouco depois do parto, de um dos bebês que teve com a filha.

Cutka explicou que a ausência de outras testemunhas se deve a que tanto a esposa quanto os outros filhos de Fritzl se recusaram a depor.

Somente a abertura oficial do processo foi pública e contou com a presença da imprensa, já que o julgamento ocorre a portas fechadas.

Quanto à atitude do réu na sala, o tenente-coronel Huber-Günsthofer, da penitenciária de Sankt Pölten, qualificou Fritzl de "sereno".

Durante o julgamento, Elisabeth e os seis filhos, que não querem enfrentar a curiosidade da imprensa, voltaram para a clínica psiquiátrica onde a família morou até o fim de 2008.

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