Numa decisão histórica, a Argentina condenou 16 repressores que atuaram na última ditadura militar do país (1976-1983), responsabilizados por 86 crimes, entre eles homicídios, sequestros, torturas e roubo de bens.
O anúncio da decisão ocorreu na noite de quarta-feira, e foi acompanhado com euforia por parte de representantes de organizações de direitos humanos e familiares dos desaparecidos.
Em contraste, os parentes dos condenados, também presentes à sessão, choravam e protestavam. Alguns cantaram o hino nacional.
Os repressores chegaram algemados ao local. Doze deles receberam a pena máxima, prisão perpétua, e outros quatro foram condenados a períodos menores, entre 18 a 25 anos de prisão.
Trata-se do mais importante julgamento já realizado por conta dos delitos cometidos na Esma (Escola Mecânica da Armada), um dos principais centro de tortura e de extermínio do país, por onde estima-se que passaram 4.500 prisioneiros. Era dali que partiam os condenados aos "voos da morte", que eram atirados no Rio da Prata.
Entre os crimes listados, estão os sequestros e as desaparições da fundadora das Mães da Praça de Maio, Azucena Villaflor, do escritor e jornalista Rodolfo Walsh e das freiras francesas Leonie Duquet e Alice Domon.
"É importante que a justiça tenha sido feita, porém, há que se perguntar como foi possível demorar mais de 30 anos para emitir essas sentenças", disse o jornalista e escritor Uki Goñi, autor de importantes trabalhos sobre o período como "A Verdadeira Odessa" (Record) e "El Infiltrado" (Sudamericana).
Neste último, Goñi investigou a vida de Alfredo Astiz, 59 anos, conhecido como "o anjo da morte", um dos sentenciados à pena máxima.
O livro do jornalista estava entre os elementos usados no processo, assim como o depoimento de sobreviventes do centro.
"Astiz era um dos mais cruéis. Infiltrou-se entre as Mães, ganhou a confiança delas dizendo que era irmão de um desaparecido, e depois as traiu. Não tem consciência moral nenhuma, é um psicopata", afirmou.



