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Tanque militar líbio é visto perto de um mural de apoio ao ditador Muamar Kadafi no subúrbio de Trípoli, 1o de março de 2011 | REUTERS/Chris Helgren
Buscar o artigo Tanque militar líbio é visto perto de um mural de apoio ao ditador Muamar Kadafi no subúrbio de Trípoli, 1o de março de 2011| Foto: REUTERS/Chris Helgren

O líder líbio, Muamar Kadafi, mobilizou forças de segurança para a fronteira oeste nesta terça-feira, contrapondo-se à pressão econômica e militar do Ocidente e elevando o temor de que uma das revoltas mais sangrentas no mundo árabe possa se tornar ainda mais violenta.

Aumenta a suspeita de que Kadafi, que está no poder há quatro décadas, não vá ceder ao grande número de forças agora unidas contra ele.

Em Moscou, uma fonte do Kremlin sugeriu que Kadafi deveria renunciar, qualificando-o como "um cadáver político vivo, que não tem lugar no mundo civilizado moderno", segundo a agência de notícias russa Interfax.

Mas Kadafi parece alheio a toda a pressão externa e interna.

"Todo o meu povo me ama. Eles morreriam para me proteger", disse Kadafi em entrevista na segunda-feira à rede norte-americana ABC e à britânica BBC, minimizando a extensão da revolta contra seu governo e o fato de ele ter perdido o controle do leste da Líbia.

Pouco menos de 12 horas depois de os EUA anunciarem o envio de navios de guerra e forças aéreas para perto da fronteira da Líbia, as forças de Gaddafi reforçaram sua presença na remota localidade de Dehiba, na fronteira com a Tunísia, nesta terça-feira, e decoraram o posto de passagem com as bandeiras verdes do país.

Repórteres que estão no lado tunisiano viram veículos do Exército da Líbia e soldados armados com fuzis Kalashnikov. No dia anterior, não havia presença militar líbia nesse posto fronteiriço.

Também no oeste líbio, moradores disseram que forças pró-Gaddafi se mobilizaram para reafirmar o controle de Nalut, a cerca de 60 quilômetros da fronteira com a Tunísia, e impedir que ela caia em poder dos rebeldes.

Na região de Trípoli, havia filas nas padarias na manhã desta terça-feira. Moradores disseram que vários estabelecimentos estavam limitando a venda de pães, o que obrigava a população a passar por várias padarias para se abastecer.

"A situação está nervosa", disse o médico Salah, numa padaria onde cerca de 15 pessoas faziam fila no lado de fora. "Claro que estou preocupado. Minha família está com medo (...), temos ouvido tiroteios. Tenho 35 anos e é a primeira vez que vejo algo assim na Líbia. É muito assustador."

Na cidade de Zawiyah, 50 quilômetros a oeste da capital e já controlada pelos rebeldes, um morador disse por telefone à Reuters que houve confrontos leves com forças pró-Kadafi nos arredores da cidade, mas que a situação já se acalmou.

"Nossos rapazes abriram fogo num posto de controle. Eles (forças governistas) fugiram. Estamos com seu canhão antiaéreo e muitos (fuzis) Kalashnikovs, que eles deixaram. Três soldados morreram no lado deles", disse esse morador, pedindo para não ser identificado.

Na segunda-feira, os EUA começaram a mobilizar navios e aviões para mais perto da Líbia, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que seu governo deseja impor uma zona de exclusão aérea, a fim de proteger o povo líbio.

O chanceler russo, Sergei Lavrov, pediu que as potências mundiais implementem a resolução do Conselho de Segurança da ONU contra a Líbia, adotada no sábado. O texto prevê o congelamento dos bens de Gaddafi, proibições de viagens e a possibilidade de indiciamento de membros do regime pelo Tribunal Penal Internacional.

Dando um tom de cautela ao pensamento militar ocidental, a França disse que a ajuda humanitária deve ser prioridade na Líbia, em vez da ação militar para depor Kadafi.

O governo francês enviou dois aviões com suprimentos e profissionais médicos a Benghazi, segunda maior cidade líbia, agora controlada pelos rebeldes. Mais voos desse tipo devem se seguir, segundo o porta-voz governamental francês, François Baroin.

Kadafi

Após duas semanas de rebelião, Trípoli, com 1,5 milhão de habitantes, é o último bastião do poder de Kadafi. Vários líderes tribais, autoridades do regime e chefes militares já passaram para o lado dos rebeldes, levando consigo enormes extensões do país, que tem 6 milhões de habitantes. A maior parte dos recursos petrolíferos líbios já está nas mãos da oposição.

Alguns analistas avaliam que, diante da grande pressão internacional, Gaddafi não irá realizar uma ofensiva militar de grande escala para tentar recapturar territórios. As ameaças feitas por ele nos últimos dias estariam, segundo esses analistas, no campo da "manobra política".

"Kadafi está acabado se fizer (um ataque militar), e está acabado se não fizer. Em ambos os casos, ele está muito vulnerável", disse o ativista e editor líbio Ashour Shamis, que vive no Reino Unido.

"Ele está perdendo pedaços da Líbia muito rapidamente. Não tem influência senão em Trípoli, e mesmo lá há áreas muito pequenas sob seu controle."

Em outra má notícia para Kadafi, a estatal petrolífera NOC disse que a produção de petróleo da Líbia caiu pela metade por causa da fuga de trabalhadores do setor, embora as instalações não tenham sido danificadas.

Observadores regionais preveem que os rebeldes acabarão por conquistar Trípoli, e que irão matar ou prender Kadafi.

Mas, na entrevista concedida em um restaurante na orla de Trípoli, o ditador, de 68 anos, parecia relaxado e chegou a rir ao minimizar a rebelião.

Ele negou que tenha ordenado bombardeios aéreos contra os manifestantes, mas admitiu que aviões atacaram quartéis e paióis de munição. Negou também que tenha havido protestos contra o regime, e disse que alguns jovens saíram às ruas depois de serem drogados pela Al-Qaeda. Acrescentou que as forças do governo tinham ordens de não atirar.

Alguns veem as muitas aparições de Kadafi na mídia como uma astuta tentativa de usar os canais ocidentais para lembrar à audiência global que ele continua no comando, afastando assim a ideia de que sua autoridade estaria se esvaindo.

"Há uma batalha pela narrativa", disse o analista Shashank Joshi, do Real Instituto de Serviços Unidos da Grã-Bretanha.

Em nota, um grupo de clérigos oposicionistas da Líbia pediu às operadoras internacionais de TV por satélite que cortem o serviço que tem permitido à TV estatal líbia transmitir os discursos de Kadafi para o mundo todo.

"Gaddafi, seus filhos e asseclas têm ordenado diretamente assassinatos pelos canais líbios de TV", disseram os clérigos.

A embaixadora dos EUA junto à ONU, Susan Rice, qualificou de "delirantes" as declarações de Kadafi à ABC e BBC.

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