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O presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, com Kirchner, em Buenos Aires: mediação argentina | Carla Cutri/AFP
O presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, com Kirchner, em Buenos Aires: mediação argentina| Foto: Carla Cutri/AFP

Negociação

Colômbia vai à Unasul, mas rejeita "paz" de Caracas

Folhapress

Em meio a um novo round retórico entre Bogotá e Caracas, a Colômbia anunciou ontem que enviará representante à reunião de chanceleres da União de Nações Sul Americanas (Unasul) amanhã, em Quito, convocada a pedido da Venezuela para discutir a crise bilateral.

O chanceler venezuelano, Nicolas Maduro, em turnê por quatro países da região em 24 horas, repetiu ontem que seu país levaria à reunião um "plano de paz sul-americano’’ para resolver o "problema de fundo’’, que é o conflito armado colombiano.

Porém, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, chamou de "armadilha’’ o chamado à paz, uma estratégia das guerrilhas para ganhar "oxigênio’’, e exortou as Forças Armadas do país a não "afrouxar’’ "a nuca da cobra do terrorismo’’.

"Agora querem internacionalizar a solicitação de que levantemos o torniquete’’, disse Uribe.

A Chancelaria colombiana já havia dito que espera da Unasul um "mecanismo concreto’’ para obter de Caracas resposta sobre o "tema de fundo’’: as denúncias de que chefes guerrilheiros colombianos estão abrigados no país vizinho.

O ex-chanceler colombiano, Augusto Ramírez Ocampo, criticou as gestões externas de Bogotá, que chamou de "chumbomacia’’ ("plomacia’’, em espanhol). Mas afirmou que não há espaço neste momento para a participação externa em uma eventual negociação política do conflito, como a que parece propor a Venezuela. "Pode ser mais uma cortina de fumaça de Caracas para não falar das denúncias.’’

Na Argentina, Maduro afirmou que a Venezuela espera uma "retificação profunda’’ do novo governo colombiano, que inicia em dez dias com a posse de Juan Manuel Santos.

O recente – mas não inédito – conflito diplomático entre Co­­lôm­­­­bia e Venezuela, iniciado na se­­ma­­na passada, fez ressurgir a figura de Néstor Kirchner, ex-presidente da Argentina e atual secretário-geral da União das Nações Sul-Ame­­ricanas (Unasul). Esquecido após a eleição da esposa, Cristina Kirch­­ner, Nés­­tor volta à cena como prin­­cipal mediador do embate entre Hugo Chávez e Rafael Uribe.

Na quinta-feira passada, a Co­­lômbia denunciou à Organização dos Estados Americanos (OEA) a pre­­sença de 1.500 guerrilheiros das Forças Armadas Revolu­­cio­­ná­­rias da Colômbia (Farc) e do Exér­­cito de Libertação Nacional (ELN) em território venezuelano. A Ve­­ne­­zue­­la reagiu e rompeu relações diplomáticas com o país vizinho sob o pretexto de que os colombianos es­­tariam preparando uma agressão militar ao país de Hugo Chávez.

Empenhado em apaziguar a região e resolver o conflito entre os dois países vizinhos, Kirchner se reuniu na segunda-fei­­ra com Juan Manuel Santos, presidente eleito da Colômbia e sucessor de Rafael Uribe. O encontro foi realizado na residência do embaixador colombiano em Buenos Ai­­res. Na nova tarefa, o ex-presidente conta com o reforço da esposa, que tem atuado nos bastidores das ne­­gociações e também se reuniu com o presidente colombiano eleito.

Santos assume a Presidência da Colômbia no próximo dia 7 e, ao contrário de Uribe, já acenou que pretende reestabeler as conversações com o governo venezuelano

Mediação

Em relação à liderança argentina no conflito entre os dois países, especialistas consideram natural que a Argentina ou o Brasil to­­mem a frente das negociações, devido à hegemonia política que ambos sempre tiveram na re­­gião.

"Kirchner é o atual secretário-geral da Unasul. Com a negativa da Venezuela de discutir a questão na OEA, é natural que o ex-presidente argentino figure co­­mo principal mediador", avalia Pedro Paulo Funari, co­­ordenador do Centro de Estudos Avan­­çados da Unicamp e professor do Departamento de His­­tória do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da mesma instituição.

Kirchner tem apostado no en­­tendimento entre Santos e Chá­­vez, tendo em vista que a relação entre Uribe e o presidente ve­­nezuelano nunca foi das melhores. "Sempre houve tensão entre os dois países, principalmente devido às diferenças ideológicas entre seus presidentes", afirma Sérgio Gil, professor do curso de Relações Internacionais das Fa­­culdades Integradas Rio Bran­­co. Gil ainda destaca que o papel de principal mediador exercido pela Argentina pode ser comprometido pelo nível de relação existente entre o casal Kirchner e Hugo Chávez – o qual foi acusado de ter envolvimento no episódio de envio ilegal de dinheiro para a campanha presidencial de Cristina, em agosto de 2007.

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