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Albaneses do Kosovo comemoram o primeiro aniversário da independência na capital Pristina | Hazir Reka / Reuters
Albaneses do Kosovo comemoram o primeiro aniversário da independência na capital Pristina| Foto: Hazir Reka / Reuters

Um ano depois de se declarar independente, menos de um terço dos países que fazem parte da Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceram Kosovo como um Estado. Em vez de testemunhar uma esperada melhora significativa na sua qualidade de vida, a população deste novo país assistiu a uma deterioração da economia no momento em que deixaram de ser um protetorado da ONU e se tornaram uma nação ainda contestada internacionalmente.

"Se alguma coisa mudou no último ano foi que a vida das pessoas que vivem neste novo Estado se tornou ainda mais difícil", explicou, em entrevista ao G1, o pesquisador inglês James Ker-Lindsay, que está prestes a publicar um livro sobre a independência kosovar.

Segundo ele, depois de se declarar independente, o território de Kosovo se tornou extraoficialmente um protetorado da União Europeia. "Ele não está pronto para a independência, para funcionar como um Estado. A diferença em relação ao que acontecia quando era um protetorado da ONU é que havia uma maior estabilidade para negócios internacionais. Hoje, com os problema de falta de reconhecimento global, Kosovo não é aceito plenamente como Estado, nem oficialmente como protetorado, e acaba marginalizado", disse.

Kosovo esteve sob administração da ONU entre 1999 e 2008, baseado na resolução 1244 do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas. Em 17 de fevereiro de 2008, líderes de maioria albano-kosovar do território de pouco mais de 2 milhões de habitantes declararam a independência seguindo a pauta do chamado "plano Ahtisaari", criado pelo enviado da ONU e prêmio Nobel da Paz do ano passado Martti Ahtisaari. O plano contava com o apoio de países ocidentais que mais tarde reconheceriam o autoproclamado Estado, como Estados Unidos, Canadá, Austrália e 22 dos 27 países da União Europeia (UE), entre eles Alemanha, França, Reino Unido e Itália.

Até o momento, apenas 54 dos 192 Estados da ONU reconheceram o novo Estado. Para o governo da capital Prístina, esse número é importante por sua "qualidade", já que ele representa 71% da economia do planeta. Países emergentes como Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul não reconheceram a independência.

Independência ou nada

Segundo o Ker- Lindsay, que é pesquisador London School of Economics e esteve em Kosovo no ano passado, após a declaração de independência, a comunidade internacional, liderada pelos EUA, não tinha opção, a não ser aceitar a separação do território.

"Em 1999, quando a Otan interveio, os líderes políticos agiram sem pensar no que poderia acontecer depois. Desde então, ficou claro que o território não poderia voltar a ser parte da Sérvia, e ficou claro que seria necessário seguir o caminho da independência", disse.

Para Estados Unidos, França, e algumas outras potências ocidentais, explicou, está claro que Kosovo se tornou de fato independente, mas o que foi conquistado em termos de reconhecimento ainda é muito insignificante após um ano da declaração. "A independência ainda é muito contestada", disse.

O governo da Sérvia se recusa a aceitar Kosovo como independente, mas, segundo o pesquisador, a população do país sabe que o território está perdido, e não adianta querer retomar posse dele. "Em algum ponto, vai ser necessário chegar a um acordo. Não falo em dividir o território ao meio, mas apenas de deixar que os 15% do norte de Kosovo, que é formado na maior parte por sérvios, continuará sob domínio da Sérvia. Os 85% restante podem continuar independentes e passar a ser mais aceitos pelos vizinhos caso aceite negociar desta forma."

Economia

A economia de Kosovo passa por grave crise. A situação não melhorou com o autoproclamado status do país. A taxa de desemprego chega em algumas regiões a 80%, e a corrupção e o nepotismo são fenômenos muito estendidos. A renda per capita kosovar é estimada em cerca de US$ 1.500 por ano. Muitas famílias locais sobrevivem graças a remessas enviadas por parentes que migraram para o exterior, sobretudo para Suíça e Alemanha.

"As pessoas de Kosovo achavam que a independência ia mudar completamente sua situação, mas isso não aconteceu. Em plena crise, ninguém vai arriscar investimentos em uma nova nação que ainda não é plenamente reconhecida", disse Ker-Lindsay.

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