• Carregando...

A tensão aumentou nas últimas horas em torno do campo de refugiados palestino de Nahr al-Bared, no norte do Líbano, com novos destacamentos do Exército libanês ampliando o perímetro de segurança.

O destacamento das tropas coincidiu com declarações do primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, reiterando que seu governo está decidido a esmagar os rebeldes, o que aumenta a previsão de novos combates.

"No sétimo aniversário da libertação, não nos renderemos aos terroristas, seja qual for seu nome. Não nos deixaremos aterrorizar pelas explosões ou pelos assassinatos. Estamos decididos a acabar com o grupo armado o mais rápido possível e sem contemplações", disse, se referindo aos radicais islâmicos do Fatah al-Islam.

O Fatah al-Islam é acusado de manter laços com a rede al-Qaeda e, segundo a maioria parlamentar libanesa anti-síria, também é usado pelos serviços secretos de Damasco para desestabilizar o Líbano. O governo sírio nega a acusação.

Nas quatro entradas principais para o acampamento, palco de sangrentos bombardeios nos últimos dias, já quase não há refugiados fugindo. Agora são os soldados que bloqueiam os acessos, resguardados atrás de tranques nos quais chegaram forças de reforço.

"A situação é muito tensa no interior. Estamos à espera, preparados para operar assim que ordenarem", disse um coronel da unidade especial de incursões terrestres do Exército, posicionado no portão sul.

A saída do sul foi durante os dois últimos dias o local de fuga da maioria dos 15 mil habitantes de Nahr al-Bared que puderam escapar dos combates, segundo os cálculos.

"Lá dentro ainda há muitos civis. A maioria não quer abandonar suas famílias, seus mortos e feridos", disse à Efe Halim al Firdawi, voluntário do Crescente Vermelho libanês.

A situação é mais perigosa no portão norte, onde a tensa calma que reinou toda a manhã foi quebrada às vezes por troca de tiros de armas leves.

Segundo fontes de segurança libanesas, calcula-se que cerca de 150 milicianos do grupo extremista sunita Fatah al-Islam ainda permanecem em Nahr al-Bared, fortemente armados com fuzis M-16, lança-granadas tipo ARPG e um número indeterminado de munição.

Também permanecem os milicianos regulares palestinos que, segundo o coronel destacado na porta sul "não apóiam os terroristas, mas também não colaboram conosco".

Devido a um acordo pactuado em 1969, o Exército tem restringido o acesso aos 12 acampamentos de refugiados palestinos que vivem no Líbano, cuja segurança é de responsabilidade quase exclusiva das milícias palestinas.

"Estamos preparados para entrar a qualquer momento, só esperamos as ordens e decisões políticas", acrescentou o coronel.

Durante toda a quarta-feira, representantes do Governo de Beirute contataram colegas palestinos no Líbano para explorar as possibilidades e as conseqüências da autorização da intervenção do Exército no acampamento.

Legalmente, não existe nenhum impedimento desde que o Governo emendou o acordo tácito assinado com as milícias palestinas, em 1987.

No entanto, teme-se que uma ação de tamanho porte represente um perigoso precedente e prenda novos focos de insurreição nos outros acampamentos, onde estão abrigados pequenos grupos jihadistas de ideologia similar ao Fatah al-Islam.

"Existe um risco que devemos analisar com cuidado", voltou hoje a insistir a representação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em Beirute.No entanto, a impaciência mostrada nas últimas horas pelos grupos rivais corre contra da solução política.

Na quarta-feira, o ministro libanês de Defesa, Elias Murr, deu um ultimato aos insurgentes: ou render-se ou morrer.

De dentro de Nahr al-Bared, a resposta foi unânime: a escolha feita é disparar até a última bala, derramar até a última gota de sangue e tentar atingir a insurreição nos outros acampamentos.

Enquanto, no campo de refugiados vizinho de Badawi a principal preocupação é hospedar e atender as mais de 3 mil famílias obrigadas a abandonar seu lar.

Voluntários da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) e do Crescente Vermelho libanês se esforçam para fornecer alojamento, comida e roupa aos desabrigados.

Quem tem mais sorte se aperta nas pequenas casas de parentes e amigos, enquanto os demais lotam a escola central e as sedes das agências humanitárias.

No mar

A Marinha libanesa anunciou ter afundado na madrugada desta quinta-feira (24) botes com extremistas do Fatah al-Islam, que tentavam fugir de Nahr al-Bared pela costa do Mediterrâneo.

A força naval se negou a informar o número de combatentes que estavam nas embarcações e se eles foram detidos ou mortos.

Quase metade dos 31.000 moradores de Nahr al-Bared já se mudou para o campo de Baddaui, na cidade de Trípoli ou para os vilarejos próximos, segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

O CICV se prepara para distribuir 200 toneladas de mantimentos para os refugiados que permanecem em Nahr al-Bared, presos em meio ao fogo cruzado entre o Exército libanês e os combatentes de Fatah al-Islam, em uma alarmante deterioração das condições de vida.

Homens, mulheres e crianças são registrados pelos soldados, que cercam o campo, onde ainda se encontram entrincheirados combatentes do pequeno grupo extremista.

O Exército libanês não permite que ninguém entre no campo e estabeleceu uma forte mobilização na estrada que liga Trípoli à fronteira síria.

Os militares libaneses descartaram qualquer possibilidade de negociação com os islamitas, a quem lançaram um ultimato para que se rendam sob a ameaça de enfrentar uma dura intervenção militar.

O Exército libanês não pode entrar nos 12 campos de refugiados palestinos, segundo um acordo líbano-palestino de 1969, tacitamente em vigor apesar de ter sido declarado sem valor pelo Parlamento de Beirute em 1987.

Os campos estão sob o controle de facções político-militares palestinas e o Exército libanês mantém postos de controle em suas entradas.

Ao mesmo tempo, Beirute e seus arredores sofrem desde domingo uma nova onda de atentados com bomba. O último, na quarta-feira na cidade de Aley, 20 km ao leste da capital libanesa, deixou 16 feridos, segundo um último registro divulgado nesta quinta-feira.

Aley é o reduto do líder druso e deputado da maioria parlamentar Walid Jumblatt, que acusa a Síria de estar por trás da atual violência no Líbano. Damasco, no entanto, nega qualquer relação com o Fatah al-Islam.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]