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Pessoas transitam de moto em frente a um bloqueio em uma importante avenida de Porto Príncipe, capital do Haiti, em segundo dia de protestos e greve, 26 de outubro
Pessoas transitam de moto em frente a um bloqueio em uma importante avenida de Porto Príncipe, capital do Haiti, em segundo dia de protestos e greve, 26 de outubro| Foto: EFE/ Orlando Barría

O líder da principal gangue armada do Haiti, Jimmy Cherizier, conhecido como 'Barbecue', exigiu nesta terça-feira a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry como condição para permitir a distribuição de combustível no país.

"Nossa demanda é clara, pura e simples. Nossa exigência é a renúncia do primeiro-ministro", disse o líder da gangue G9 Fanmi e Alye (Grupo dos 9 em família e aliados) em uma entrevista coletiva realizada em um momento em que o Haiti passa por uma grave escassez de combustível causada pela ação de quadrilhas armadas.

A escassez tem aumentado nas últimas semanas devido a ataques a transportadores e chegou a um ponto crítico nos últimos dias devido ao bloqueio de estradas que levam a depósitos de combustível localizados na região portuária da capital, Porto Príncipe. Grupos armados estão controlando os arredores de postos e bloqueando estradas para impedir o acesso de caminhões que distribuem combustíveis.

A falta de combustível está afetando o funcionamento de empresas, instituições públicas e hospitais, já que a maioria deles utiliza geradores elétricos movidos a derivados de petróleo.

'Barbecue' explicou que quer a renúncia de Henry porque seu nome foi mencionado na investigação da morte do presidente do país, Jovenel Moise, em 7 de julho, já que algumas horas após o assassinato o atual chefe de governo falou ao telefone com um dos envolvidos.

"Se ele [Ariel Henry] se demitir às 8h, às 8h05 serão desbloqueadas as áreas para que os caminhões sejam abastecidos com combustíveis", prometeu o líder da quadrilha.

O chefe do grupo armado disse que o Haiti precisa "que não seja 5% da população que controle 85% da riqueza do país".

"Precisamos de um Haiti onde não haja um pequeno grupo de vagabundos que durante 25 ou 30 anos brincam de política. Acho que chegou a hora de nós, os jovens, tomarmos o destino do país em nossas próprias mãos", afirmou.

Esta quarta-feira marca o terceiro dia de greve geral convocada para protestar contra a falta de combustíveis e a insegurança no país. O Haiti atravessa uma grave crise política, econômica e social agravada pelo assassinato do presidente Jovenel Moise, pela violência dos grupos armados e pelo terremoto que causou pelo menos 2.200 mortes no dia 14 de agosto.

Falta de combustível suspende atendimentos médicos

A crise do combustível já forçou a suspensão do atendimento médico em 50 centros de saúde do país, 15 deles em Porto Príncipe. Caso não ocorra um reabastecimento, outros hospitais e clínicas estarão na mesma situação em alguns dias, de acordo com a Unicef.

Desde o fim de semana passado, vários estabelecimentos de saúde têm alertado para a situação que enfrentam, sem terem encontrado uma solução para a escassez, que, além disso, ocorre em meio a uma greve em nível nacional.

O Hospital Universitário La Paix, na capital, deveria ter recebido 5.000 galões de combustível nos últimos dias, mas o fornecedor ainda não tem uma solução segura para chegar ao local, de acordo com a organização da ONU.

O exterior do centro de saúde está deserto e no interior quase não há profissionais nem pacientes. Os corredores estão vazios e ninguém ocupa os lugares nas salas de espera.

O pediatra Jean disse à Agência Efe que a greve e a falta de combustível "paralisaram todos os serviços", motivos pelos quais o hospital não está fazendo novas internações, pois "não há materiais suficientes para satisfazer todas estas necessidades".

Nesta terça-feira, o ambulatório pediátrico atendia pacientes que chegavam e que "não eram casos graves", além dos oito pacientes que estão internados neste departamento.

"Tentamos agir o mais rapidamente possível. Eles se recuperam e nós os mandamos para casa", explicou o médico, que assegurou que "o hospital está habituado" a este tipo de situação com greves e manifestações.

Darlin Dorvil, também pediatra, disse que "muitos departamentos do hospital não estão funcionando devido ao problema da eletricidade, que não é estável", e a ala de neonatal está em situação difícil porque precisa de energia "para poder aquecer os bebês prematuros, mas não há nenhuma".

Na ala de trauma há oito pacientes, mas não há possibilidade de realizar quaisquer operações, uma vez que também não há energia para as salas de operações, explicou um médico que preferiu não se identificar.

O Gabinete de Proteção ao Cidadão, órgão independente do governo, culpou a comunidade internacional pela "possível catástrofe humanitária" que pode ocorrer nos hospitais devido à falta de combustível.

Em comunicado divulgado na terça-feira, o órgão pediu também para que os grupos armados abram corredores humanitários para permitir a distribuição de combustível aos hospitais.

Paralisação

Porto Príncipe continuou paralisada na terça-feira, o segundo dia de greve convocada em protesto contra a violência dos grupos armados e a crise causada pela falta de combustível.

Assim como na véspera, lojas, bancos e instituições permanecem fechados, e apenas os vendedores de rua tentaram realizar suas atividades, embora em menor quantidade do que na segunda-feira.

O Mercado de Ferro e os seus arredores estão irreconhecíveis sem a atividade frenética e a agitação do trânsito que é habitual nesta zona do centro de Porto Príncipe, adjacente ao bairro de Cité-Soleil, um território dominado pelo G9 Fanmi e Alye.

A quarta-feira será o último dia da greve geral de três dias, mas ainda não há solução para abastecer os hospitais haitianos.

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