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Obama chega à Casa Branca após encurtar as férias para buscar acordo com a oposição | Dennis Brack/EFE
Obama chega à Casa Branca após encurtar as férias para buscar acordo com a oposição| Foto: Dennis Brack/EFE

US$ 600 bilhões serão "enxugados" da economia norte-americana caso democratas e republicanos não cheguem a um acordo para impedir o chamado "abismo fiscal".

Temor de estagnação

Analistas preveem estagnação da economia dos EUA caso o país caia no chamado "abismo fiscal". Entenda o que é:

Abismo fiscal

Termo usado para a crise econômica que afetará os EUA se as medidas automáticas de redução do déficit, contidas em uma lei de 2011, entrarem em vigor em janeiro. O imposto de renda aumentará para 98% dos norte-americanos e o governo terá de cortar os gastos entre 7% e 9%.

Origem do abismo

Durante o governo de George W. Bush (2001-2009), foram dados incentivos fiscais à classe média e, principalmente, aos ricos, além de ter sido aumentado os gastos públicos em decorrência das guerras do Iraque e Afeganistão. Com isso, o déficit público dos EUA disparou.

As negociações

Os democratas, que controlam a Casa Branca e o Senado, e os republicanos, maioria na Câmara de Representantes, estão de acordo quanto à necessidade de realizar um novo plano para a redução do déficit, mas que proteja a classe média. Contudo, as negociações estão estagnadas ao discutir sobre os impostos para os mais ricos, que os republicanos se negam a aumentar.

Teto da dívida

O aumento do teto da dívida pública, uma prerrogativa do Congresso, é necessário para permitir que o governo se endivide além do primeiro trimestre de 2013. O Tesouro advertiu na quarta-feira que o teto, que atualmente é de US$ 16,394 trilhões, seria alcançado na segunda-feira, e que portanto são necessárias medidas de emergência para evitar um descumprimento. O limite de endividamento não tem uma relação direta com o "abismo fiscal", mas tem sido usado como moeda de troca nas negociações.

O principal democrata no Senado advertiu ontem de que os Estados Unidos caminham para o "abismo fiscal", com aumento de impostos e cortes de gastos que entrarão em vigor na próxima semana, caso os políticos não chegarem a um acordo.

O líder da maioria, Harry Reid, afirmou em discurso no Senado que "parece que é para lá que estamos indo".

Ele pediu aos republicanos que controlam a Câmara dos Deputados que evitem o pior do choque fiscal e que apoiem um projeto de lei no Senado para estender os cortes de impostos existentes para todos, exceto para quem ganha mais de US$ 250 mil por ano.

Com o relógio correndo em direção ao programado início dos aumentos de impostos e cortes profundos e automáticos dos gastos do governo, Reid ofereceu pouca esperança.

"Eu não sei em termos de tempo como isso pode acontecer", disse o senador democrata.

Referindo-se à Câmara dos Deputados presidida por John Boehner – o principal republicano no Congresso –, Reid disse: "Está sendo operada com uma ditadura do presidente, não permitindo que a grande maioria da Câmara obtenha o que deseja".

Ele também acusou Boehner de atrasar uma ação contra o "abismo fiscal" até conseguir a reeleição como presidente da Câmara em 3 de janeiro.

"John Boehner parece se importar mais em manter seu cargo de presidente da Câmara do que em manter a nação em bases financeiras firmes", acrescentou Reid.

As declarações pessimistas de Reid derrubaram as bolsas mundiais, o euro e as ações norte-americanas.

Proposta de Obama

O presidente Barack Obama voltou ontem para a Casa Branca de suas breves férias no Havaí para tentar reiniciar as negociações paralisadas com o Congresso.

Obama telefonou do Havaí para líderes dos dois partidos na quarta-feira para tentar reavivar as negociações para evitar o cenário de "abismo fiscal", que poderia empurrar os Estados Unidos de volta à recessão.

O presidente enviaria ontem à noite uma proposta aos líderes republicanos do Senado para tentar impedir o chamado "abismo fiscal", segundo informaram vários legisladores.

O senador Scott Brown, republicano por Massachusetts, falou através do Twitter e do Facebook da existência dessa proposta.

Essa medida incluiria elementos do plano tributário de Obama, que defende prorrogar as reduções tributárias aprovadas durante o mandato de George W. Bush para as famílias que recebem menos de US$ 250 mil anuais, mas se mostrou disposto a subir esse limite até US$ 400 mil.

Um assessor de McConnell explicou que Obama falou com outros líderes do Congresso "sobre a necessidade que o Senado atue" contra o "abismo fiscal".

AnáliseEfeitos na economia virão ao longo de 2013

Nelson D. Schwartz, jornalista especializado em Economia, escreve para o jornal The New York Times

Ainda dá tempo para o presidente Barack Obama e o Congresso agirem para ajudar a salvar a economia do impacto de centenas de milhões de dólares em aumentos tributários e cortes automáticos nas despesas públicas, que tomarão efeito assim que se passarem os últimos minutos de 2012 na semana que vem. Mas, se o impasse em Washington persistir, as consequências serão ruins para a economia.

Alguns impactos do abismo fiscal – como um aumento de 2% nos impostos sobre os salários e o fim de benefícios de seguro-desemprego para mais de 2 milhões de norte-americanos desempregados – serão sentidos imediatamente. Mas outros efeitos, como dezenas de bilhões de cortes em despesas automáticas, incluindo programas militares e outros, serão distribuídos entre agora e o final do ano fiscal de 2013, em setembro. Essa situação poderia ser rapidamente revertida se os líderes políticos se comprometessem a firmar um acordo agora.

De maneira semelhante, o vencimento, em 1º de janeiro, dos cortes tributários sobre os mais ricos, feitos pelo governo Bush, não terão um grande impacto sobre os consumidores se o Congresso concordar rapidamente em estendê-los, no começo de 2013, a todos os cidadãos do país, exceto os mais ricos, como é o esperado.

Outras prováveis mudanças, como um aumento brusco nos impostos sobre os lucros e dividendos, serão sentidos ao longo de um período maior, em vez de representarem um impacto imediato sobre a economia.

As previsões do Gabinete Orçamentário do Congresso são de que, se o impasse se prolongar por ainda mais tempo, e o pleno impacto de cerca de US$ 600 bilhões em aumentos tributários e cortes em despesas atingir a economia, o país entrará em recessão na primeira metade de 2013, com o desemprego chegando a 9,1% no quarto trimestre de 2013. Mas, apesar de todo o pessimismo recente, a maioria dos observadores ainda acredita que eles chegarão a um compromisso, mesmo que demore mais algumas semanas.

Michelle Meyer, economista sênior da Bank of America Merrill Lynch Banco Múltiplo S.A., estima que a economia crescerá apenas 1% no primeiro trimestre de 2013, muito abaixo do ritmo dos 3,1% registrados no terceiro trimestre de 2012.

A economia vem dando sinais de vida recentemente. O desemprego em novembro caiu para 7,7%, o nível mais baixo dos últimos 4 anos. Os consumidores também estão gastando mais, e o mercado imobiliário, em muitas partes do país, continua a se recuperar. Preocupações estrangeiras como a diminuição do crescimento chinês e a recessão na Europa também diminuíram.

Essas tendências encorajaram alguns observadores, como Steve Blitz, economista-chefe da ITG Investment Research. Ele estima que a economia crescerá 2,5% no primeiro trimestre se Washington se comprometer até mesmo no modo mais modesto que puder. Na falta de um acordo, o ritmo do crescimento será provavelmente o de 1%, segundo ele.

Tradução: Adriano Scandolara

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