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O homem que deve se tornar o presidente interino de Guiné-Bissau, Raimundo Pereira, dirigiu-se rapidamente à nação nesta terça-feira, pela primeira vez desde que o assassinato do presidente deixou um vácuo no poder. O líder parlamentar, que deve ocupar o cargo de acordo com a Constituição, disse que o país do oeste africano "enfrenta uma situação muito delicada". Pereira pediu aos demais delegados "que assumam sua responsabilidade em relação à nação" ao assegurar a calma e o estado de direito na ex-colônia portuguesa, que luta contra o crescente comércio de cocaína.

Os militares culpam um "grupo isolado" de soldados pelo assassinato do presidente João Bernardo "Nino" Vieira, morto na segunda-feira, e que esteve no comando da Guiné-Bissau em 22 dos últimos 29 anos. O Exército nega categoricamente que o assassinato tenha sido em retaliação à morte, um dia antes, de um antigo rival de Vieira, o chefe das Forças Armadas Batiste Tagme na Waie. Ele morreu quando uma bomba, escondida no interior de seu escritório, explodiu na noite de domingo.

O presidente da Nigéria, Umaru Yar'Adua, que chefia a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (ECOWAS, pela sigla em inglês), um bloco regional de 15 Estados africanos, enviou uma delegação para investigar os assassinatos. "A frágil situação política na Guiné-Bissau tornou-se ainda mais fracas com esses eventos", disse ele.

O país sofreu vários golpes e tentativas de golpe desde 1980, quando o próprio Vieira tomou o poder após um golpe. Ele foi forçado a deixar o comando do país 19 anos depois com o início de uma guerra civil no país. Mais tarde, ele voltou do exílio em Portugal e venceu as eleições presidenciais de 2005. Integrante da minoria étnica Papel, Vieira era, de muitas formas, um intruso. Ele sempre teve uma relação tensa com o Exército que, assim como o país, é composto principalmente por membros da maioria étnica Balanta.

Nos anos 1980, depois de soldados desertores terem tentado um golpe contra ele, Vieira perseguiu os principais oficiais da etina Balanta, sistematicamente expurgando-os em tribunais militares que os condenou à morte. Waie foi um dos soldados Balanta acusados de conspirar para o golpe e, embora não tenha sido morto, foi levado para um ilha deserta na costa do país e deixado lá por anos antes de receber permissão para voltar.

A morte de Vieira criou um perigoso atrativo para os traficantes de cocaína. Enquanto a demanda pela droga se estabilizou nos Estados Unidos, continua a subir na Europa, forçando os cartéis de drogas da América Latina a procurar novas rotas para contrabandear cocaína para o continente europeu.

Nos últimos anos, eles começaram a enviar pequenos aviões bimotores para a costa ocidental africana, que aterrissam em ilhas desertas ou em pistas clandestinas e então distribuem a droga para contrabandistas que a envia para o norte.

A Guiné-Bissau, cercada por um arquipélago de ilhas desabitadas, tornou-se um local de trânsito para a cocaína enviada para a Europa. O governo estima que até 800 quilos da droga transitem pelas fronteiras do país a cada semana. É uma quantidade que vale bilhões de dólares ao ano, impedindo o crescimento de todos os demais setores econômicos.

Embora os dois assassinatos não sejam, aparentemente, relacionado ao tráfico de drogas, analistas lembram que o uso de uma bomba para matar Waie é pouco comum no oeste da África, onde os assassinatos e golpes continuam sob o domínio do Kalashnikov. As informações são da Associated Press.

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