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| Foto: HANDOUT/REUTERS

Na forma original de “Expulso: A incursão de um jornalista no Estado mafioso da Rússia”, o repórter britânico Luke Harding fez um relato pessoal do assédio que ele e sua família viveram nas mãos da FSB, a agência que sucedeu a KGB. O livro fala do seu tempo na Rússia, no qual ele cobriu histórias como o envenenamento por radiação do ex-agente da FSB Alexander Litvinenko e o assassinato da ativista de direitos humanos Natalya Estemirova.

Mas uma nova versão, publicada sem a autorização de Harding este ano por uma editora russa, a Algoritm, tem apenas uma leve semelhança com a obra original, denuncia o autor.

“Eles tiraram Litvinenko, os métodos da FSB, o assédio que minha família sofreu, a guerra na Geórgia, as mortes de críticos do Kremlin”, diz Harding.

O trabalho foi lançado como parte de uma série da editora sobre o presidente Vladimir Putin.

“Também não há nada sobre a Crimeia. O que é fascinante é que Putin e as suspeitas de corrupção estão lá. É quase um indicador de quais são as linhas vermelhas na Rússia. A Ucrânia é tabu, Litvinenko é tabu, Putin e dinheiro não são tabu”, afirma o jornalista.

Edward Lucas, ex-correspondente em Moscou da “The Economist”, e Donald Jensen, um especialista em Rússia do Centro para Relações Transatlânticas da Universidade John Hopkins, também tiveram livros reescritos e publicados pela Algoritm sem consulta prévia.

Harding foi alertado sobre a versão russa do seu livro por um repórter da BBC que o viu em uma livraria de Moscou com o título “Ninguém a não ser Putin”. Ao examiná-lo com mais atenção, diz Harding, tratava-se de uma versão deturpada de seu livro original sendo vendida pela editora russa como uma sequência.

Sergei Nikolayev, diretor da Algoritm, disse à rádio Ekho Moskvy que os direitos sobre o livro foram comprados da Ucrânia e que a editora não havia conseguido contactar Harding.

“É mais fácil para nós publicar o livro, depois a pessoa vem nos cobrar e nós damos explicações, e é isso”, disse Nikolayev.

Obras banidas na Ucrânia

O advogado da editora, Yevgeny Imetov, disse que o livro de Harding teve que ser alterado para publicação na Rússia porque o título “Estado mafioso” e outras passagens não seriam permitidas pelas leis antiextremismo russas.

“Nem tudo que o senhor Harding escreveu pode ser publicado na Rússia”, afirmou.

O advogado diz que sua editora é vítima de uma campanha negativa. Esta semana, cinco livros publicados pela Algoritm entraram em uma lista de livros russos banidos pelo governo ucraniano por serem considerados incitação ao ódio. Dois deles foram escritos por Alexander Dugin, considerado um dos maiores ideólogos do governo. Outro é creditado a Sergei Dorenko, um âncora da TV russa, que diz que nunca escreveu o livro, que teria sido compilado de declarações dele.

Em 2012, a Algoritm teve que se desculpar com o grupo punk Pussy Riot, perseguido por Putin, depois que um acordo para escrever um livro sobre a banda não foi adiante, mas a editora decidiu publicar uma versão sem autorização.

Edward Lucas, o jornalista da “The Economist”, disse, sobre a publicação sem autorização de uma versão alterada do seu livro. “Depois de 30 anos lidando com essa parte do mundo, nada mais me surpreende.”

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