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O presidente francês Emmanuel Macron disse que sua estratégia é dificultar a vida de quem não se vacinou contra a Covid-19
O presidente francês Emmanuel Macron disse que sua estratégia é dificultar a vida de quem não se vacinou contra a Covid-19| Foto: EFE/EPA/STEPHANIE LECOCQ / POOL

O presidente da França, Emmanuel Macron, causou controvérsia ao falar sobre a estratégia do seu governo para a vacinação contra a Covid-19 usando um termo grosseiro para dizer que pretende "irritar" os não vacinados.

Em entrevista a um grupo de leitores do jornal Le Parisien na terça-feira, Macron disse: "Eu não quero irritar os franceses. Mas com relação aos não vacinados, eu realmente quero irritá-los. E vamos continuar a fazer isso, até o final. Essa é a estratégia".

O temo usado por Macron ("emmerder", de "merde") é considerado vulgar e provocou reação imediata de seus opositores e críticas em redes sociais.

"Um presidente não deveria dizer isso. Emmanuel Macron é indigno de seu cargo", tuitou a líder de direita Marine Le Pen, acrescentando que Macron estava "transformando os não vacinados em cidadãos de segunda classe".

"Eu não vou colocar [os não vacinados] na cadeia. Eu não vou vacinar ninguém à força. Então precisamos dizer a eles, a partir de 15 de janeiro, vocês não poderão mais ir a um restaurante, a um bar, café, teatro ou cinema. Nós pressionamos os não vacinados limitando o acesso deles a tantas atividades sociais quanto possível", afirmou o presidente francês.

Após os comentários, o Parlamento francês suspendeu o debate sobre uma legislação que, se aprovada, permitirá que apenas os vacinados - e não mais quem tenha apenas um teste negativo para Covid-19 - tenham o passaporte sanitário, exigido para entrada em locais como cinemas e restaurantes.

A sessão na Assembleia Nacional foi suspensa pela segunda vez depois que os parlamentares da oposição reclamaram da linguagem usada pelo presidente.

Em novembro passado, Macron disse que os passaportes da vacina evitariam que Paris precisasse de um "lockdown de não vacinados", como o implementado na Áustria e em outros locais.

O potencial endurecimento das medidas provocou protestos entre grupos antivacinas, mas pesquisas indicam que a maioria dos franceses, cada vez mais frustrados com a pandemia, apoia os passaportes de vacinas.

Mais de 73% da população da França já está completamente vacinada contra o coronavírus, segundo levantamento do Our World in Data. A taxa é maior do que a média na União Europeia, que é de menos de 70%.

Entre a população que já está apta a receber a vacina na França, quase 90% já estão imunizados, disse Macron. "Apenas uma minoria muito pequena está resistindo. Como reduzimos essa minoria? Nós a reduzimos - perdão pela expressão - os 'irritando' cada vez mais".

O presidente francês acrescentou: "Quando minhas liberdades ameaçam as dos outros, eu me torno uma pessoa irresponsável. Alguém irresponsável não é um cidadão".

Ao fazer o comentário, Macron aparentemente estava fazendo uma referência a uma citação famosa do ex-presidente francês Georges Pompidou (1969-1974), que disse "Parem de irritar os franceses!" (Arrêtez d’emmerder les Français), ao criticar o grande número de novas leis no país.

Adversários acusaram Macron de usar linguagem vulgar e excessiva. "Nenhuma emergência de saúde justifica tais palavras. Macron diz que aprendeu a amar os franceses, mas parece que ele gosta especialmente de desprezá-los", afirmou Bruno Retailleu, líder dos Republicanos no Senado.

Também Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, partido da esquerda radical, criticou o linguajar "chocante" de Macron. "Está claro que o passaporte de vacinas é uma punição coletiva contra as liberdades individuais", afirmou.

Valerie Pécresse, candidata dos Republicanos, de direita, disse estar indignada com a acusação do presidente de que os não vacinados não são cidadãos. "Você tem que aceitá-los como eles são - liderá-los, uni-los, e não insultá-los", ela disse em entrevista a um canal de TV.

Macron ainda não anunciou formalmente a sua candidatura nas eleições presidenciais, marcadas para daqui a três meses. Porém, na terça-feira, ele disse que quer se candidatar e que irá anunciar a sua decisão "assim que a situação sanitária permitir".

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