• Carregando...

A prisão recente do principal chefe da Máfia, Bernardo Provenzano, foragido havia 43 anos, não significa um golpe mortal contra a organização criminosa e pode detonar uma guerra sangrenta pela sucessão dele, afirmam investigadores.

Provenzano, o chefão da Máfia detido na terça-feira perto da cidade siciliana de Corleone, pode ter sido a estrela-guia da Máfia, mas toda estrela-guia possui uma constelação.

- Não deveríamos cometer o erro de achar que a prisão de Bernardo Provenzano significará o começo do fim da Máfia - disse Antonio Ingroia, um juiz da Sicília envolvido no combate ao grupo criminoso. - Provenzano não era a Máfia toda. Ele era um ponto de referência, mas um ponto de referência menos ditatorial e menos cacique que seus antecessores - afirmou Ingroia.

Em Corleone, a cidade que ficou famosa na trilogia de "O Poderoso Chefão", a polícia prendeu três homens acusados de ajudar a cobrir a trilha deixada por Provenzano recentemente. Mas, como era de se esperar, os três são pequenos criminosos, e não homens de peso na organização criminosa.

O chefão da Máfia foi levado para fora da Sicília e colocado em uma prisão de segurança máxima perto de Terni, na região central da Itália, afirmou o canal de TV estatal.

Segundo Ingroia, a operação policial que levou à prisão de Provenzano havia sido um "sucesso brilhante". No entanto, já podiam ser apontadas duas pessoas qualificadas para tomar o lugar do chefão -- Salvatore Lo Piccolo e Matteo Messina Denaro.

Como seu mestre e mentor, os dois estão foragidos há algum tempo. Lo Piccolo desde 1983, e Messina Denaro desde 1993.

O primeiro, chefe de gangue de Resuttana, um bairro de Palermo controlado pela Máfia, tem 63 anos, é apontado como membro da "velha guarda" e teria sido a pessoa com mais proximidade de Provenzano nos últimos anos.

Messina Denaro, da cidade siciliana de Castelvetrano, tem apenas 46 anos de idade e é chamado de o "chefe playboy" por gostar de carros velozes, mulheres e relógios de ouro.

- Há uma geração de mafiosos com cerca de 50 anos que está pronta para continuar - disse Ingroia.

Se haverá ou não uma guerra daqui para frente é algo que depende do que os investigadores chamam de um "equilíbrio interno" na Máfia.

Questionado sobre se temia a eclosão de uma guerra, Piero Grasso, o procurador nacional para o combate ao grupo criminoso, respondeu a repórteres: "Eu sou siciliano. Eu amo minha terra e farei tudo que estiver em meu poder para evitar isso. Mas, dentro em breve, o vácuo deixado pela prisão (de Provenzano) será preenchido".

Nos últimos 13 anos, período no qual comandou a Máfia, o chefão instituiu uma forma de liderança "mais gentil", tentando assim tirar o grupo de debaixo dos holofotes e da mira da polícia.

- A Máfia de hoje é mais uma federação do que um Estado autoritário - afirmou Ingroia. - Ele criou um tipo de diretoria com algo entre quatro e sete pessoas que se reunia às vezes, quando era necessário, quando havia decisões estratégicas a serem tomadas. Mas, em uma organização como a Máfia, um chefe precisa estar um degrau acima dos outros senão ela desmorona. Tudo depende de saber se ele consegue administrar o consenso e de saber se os outros vão concordar ou se rebelar - disse.

A mais recente guerra da Máfia que esparramou sangue pela Sicília aconteceu no final dos anos 80 quando o clã Corleone, chefiado por Toto Riina, Provenzano, Leoluca Bagarella e Luciano Liggio riscaram seus inimigos do mapa.

Os vitoriosos se voltaram então para o aparato estatal e mataram juízes, entre os quais Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, em atentados a bomba ocorridos em 1992.

Provenzano substituiu Riina quando este foi detido, em 1993, após ter passado 23 anos fugindo da polícia. O novo chefão decidiu à época que seria melhor para a Máfia ser mais discreta.

Agora, os investigadores esperam para ver se a "Pax Mafiosa" permanecerá de pé ou se ruirá.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]