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 | Athit Perawongmetha/Reuters
| Foto: Athit Perawongmetha/Reuters

Jimmy Lai, 66, o magnata mais anticomunista de Hong Kong, diz ser um rebelde que gosta de arrumar confusão —e isso ele tem feito de sobra.

Dono do maior império editorial pró-democracia da cidade, Lai já teve sua casa atacada por um coquetel molotov e viu a sede da sua empresa ser saqueada.

Ele também já foi alvo de um complô para matá-lo e, recentemente, de vários ataques via internet, que ele atribui a hackers patrocinados pelo Estado chinês.

Os protestos que paralisaram partes de Hong Kong meses atrás foram em parte a culminação das várias décadas que ele passou promovendo a democracia.

No entanto, talvez seja agora, depois dessas manifestações, que Lai terá de enfrentar seu maior desafio —o qual pode ter repercussões para a liberdade de imprensa em Hong Kong e para a crescente intolerância de Pequim contra dissidências no território, que foi colônia britânica até 1997.

É o tipo de briga política, nas ruas, que ele vinha esperando. Em 28 de setembro, Lai foi atingido por estilhaços de uma bomba de gás lacrimogêneo —uma das 87 que a tropa de choque da polícia atirou contra a multidão.

Os popularíssimos veículos de comunicação de Lai deram ampla cobertura às 11 semanas de ocupação dos manifestantes em três dos principais bairros comerciais e empresariais de Hong Kong, num movimento que ficou conhecido como Occupy Central ou Movimento Guarda-Chuva.

Lai era presença frequente na maior ocupação de protesto, até que foi preso, em 11 de dezembro.

Agora, a luta dele deve passar das ruas para os tribunais. As autoridades de Hong Kong estão preparando acusações formais contra dezenas de pessoas identificadas como sendo as principais figuras dos protestos.

"Você pode argumentar que ele foi talvez o mais significativo apoiador do Occupy Central, em termos de lhes proporcionar uma plataforma" em seus veículos de comunicação, disse Michael DeGolyer, professor da Universidade Batista de Hong Kong.

"Vamos ter uma questão significativa para a liberdade de imprensa, o que vai nos dizer muito sobre o futuro de Hong Kong."

Lai nasceu em Cantão, no sul da China, numa família rica que perdeu tudo quando os comunistas tomaram o poder, em 1949.

Quando ele tinha 12 anos, em 1960, a família pagou um contrabandista para levá-la de barco para Hong Kong, onde começou a trabalhar e dormir em uma fábrica de malhas, sob condições sub-humanas. "Eu vim da rua. Fui um lutador a vida toda".

Depois de aprender inglês sozinho, arrumou um emprego como auxiliar de escritório. Quando tinha 27 anos, ele e dois sócios montaram uma pequena confecção, que no final de 1980 já havia crescido para se tornar a primeira rede varejista de "fast fashion" em Hong Kong, a Giordano.

Depois da repressão do governo chinês aos manifestantes pró-democracia da praça Tiananmen, em 4 de junho de 1989, matando centenas ou possivelmente milhares de pessoas, Lai decidiu entrar para o setor das comunicações, lançando a revista "Next".

Em artigo de 1994, ele insultou repetidamente o então primeiro-ministro chinês Li Peng. Em questão de semanas, as autoridades começaram a fechar lojas da rede Giordano na China continental. Lai se desfez da marca.

"Se eu realmente tratasse as empresas como empresário, não teria feito o que eu fiz ao me contrapor à China", disse Lai.

A influência que Lai exerce sobre a mídia e os círculos políticos democráticos em Hong Kong lhe rendeu muitos detratores. Mesmo dentro do movimento democrático, cada vez mais sob a liderança de uma geração mais jovem, o predomínio das publicações de Lai nos meios de comunicação pode causar mal-estar.

O líder estudantil Joshua Wong, 18, disse por telefone que "o movimento democrático de Hong Kong não pode confiar em só um meio de comunicação".

Ele acrescentou que "isso não é saudável, e [o movimento] inclusive corre o risco de ser controlado por uma única publicação".

Lai está ciente dos riscos, e no mês passado ele fez uma manobra inesperada ao deixar o cargo de presidente da Next Media.

"Quanto mais eu estiver à frente do movimento, menos adequado será que eu fique tão intimamente ligado aos nossos meios de comunicação", afirmou.

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