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O pânico criado pelo rumor de um atentado suicida iminente produziu a maior mortandade já vista no Iraque num episódio isolado, desde a invasão do país pelas tropas lideradas pelos EUA. Pelo menos 841 pessoas morreram e 323 ficaram feridas, quando uma grande cerimônia religiosa em Bagdá deu lugar ao tumulto. O número de mortos pode chegar a mil. O governo, que chegou a culpar terroristas pelo boato que desatou a confusão, tentou evitar uma escalada de violência, dizendo que o incidente nada tem a ver com tensões sectárias. Líderes xiitas acusam "extremistas e saddamistas".

A multidão de peregrinos xiitas atravessava uma ponte sobre o Rio Tigre, na direção de uma mesquita, no momento da confusão. As vítimas foram pisoteados, esmagadas ou se jogaram no rio. A maioria dos mortos é de mulheres, crianças e idosos, informou o Ministério do Interior do Iraque.

- Achamos que (a contagem de mortos) chegará a mil - disse o médico Jaseb Latif Ali, gerente do Ministério da Saúde do Iraque.

Imagens de TV mostraram pessoas tentando descer pela estrutura da ponte para escapar do pisoteio. Uma das cenas mais impressionantes é a montanha de sapatos deixados sobre a ponte, na correria. De joelhos, mulheres histéricas pranteavam e rezavam, sobre corpos.

Ambulâncias correram para o local. Pessoas carregavam corpos em macas, enquanto outras concentravam-se nas margens do rio e na ponte. Os corpos eram cobertos com o que se encontrava pela frente - roupas, lâminas metálicas e plásticos. Canais árabes também mostraram uma longa fila de cadáveres parcialmente cobertos no chão de um hospital.

O primeiro-ministro Ibrahim Jaafari declarou três dias de luto e pediu unidade.

- É preciso mostrar a todo o mundo que o que ocorreu hoje nos impulsionará para a preservação da unidade do povo e que nossa palavra continuará sendo unida - disse o primeiro-ministro Ibrahim Jaafari.

A declaração foi feita momentos depois de o ministro da Saúde pedir que os responsáveis pelas pastas da Defesa e do Interior peçam demissão.

PROCISSÃO - A multidão se dirigia à mesquita de Kadhimiya para participar de uma importante cerimônia religiosa. Mais cedo, sete pessoas morreram em três ataques com morteiros contra os peregrinos.

A mesquita de Kadhimiya é um dos mais importantes locais sagrados dos xiitas, localizado num antigo distrito do norte da capital iraquiana. A multidão rememorava o martírio de Musa Al-Kadhim, uma figura religiosa reverenciada pelos xiitas.

Uma fonte da polícia disse que a multidão caminhava pacificamente na direção da mesquita, quando uma pessoa gritou que havia um homem-bomba entre os peregrinos.

- Centenas de pessoas começaram a correr e se jogar da ponte, no rio. Muitos idosos morreram imediatamente no tumulto, mas dezenas afogaram-se. Muitos corpos ainda estão no rio e barcos trabalham para resgatá-los.

DEDOS APONTADOS - Dois importantes líderes xiitas acusaram extremistas islâmicos e rebeldes leais ao ex-presidente de Saddam Hussein de causar deliberadamente o tumulto.

- Nós consideramos os terroristas, sadamistas e extremistas responsáveis pelo que aconteceu - disse Ammar al Hakim, líder do Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque.

Abdul Hadi al Daraji, porta-voz do clérigo radical xiita Moqtada al-Sadr, disse que insurgentes espalharam o rumor de que havia um homem-bomba na multidão, para causar pânico.

O ministro do Interior do Iraque, Bayan Jabor, culpou "um terrorista".

- O que aconteceu é que as pessoas começaram a se empurrar depois que um terrorista espalhou o rumor de que havia um homem-bomba na multidão - disse Jabor à TV estatal.

Logo depois, porém, ele estava ao lado do ministro da Defesa, Saadoun Al-Dulaimi, quando este veio a público dizer que o incidente não estava relacionado com violência sectária.

- O que aconteceu não tem nada a ver com qualquer tensão sectária - disse o ministro Saadoun Al-Dulaimi. - Apenas os sete que morreram nesta manhã (peregrinos xiitas vítimas de morteiros em outras áreas, antes do tumulto) foram mortos por terroristas.

A tensão entre as principais comunidades religiosas e étnicas vem crescendo, com a aproximação do referendo sobre a nova Constituição iraquiana. A minoria sunita diz que o documento, como está, vai condenar o país à divisão. Xiitas e curdos, porém, dominam o Parlamento - os sunitas boicotaram as eleições - e fazem campanha por sua aprovação popular.

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