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Thatcher faz o discurso final da convenção dos conservadores em Brighton, em 1988 | Reuters/Andy Clark/Arquivo
Thatcher faz o discurso final da convenção dos conservadores em Brighton, em 1988| Foto: Reuters/Andy Clark/Arquivo

Biografia autorizada de Thatcher será lançada logo após o funeral

Em 1997, Charles Moore, um ex-editor do jornal "Daily Telegraph" recebeu uma tarefa: escrever uma biografia de Margaret Thatcher. Embora autorizada, "Not for turning" tinha uma condição. O livro não poderia ser publicado enquanto a Dama de Ferro fosse viva. Dezesseis anos depois de o contrato ser assinado, a editora anunciou que o primeiro volume será publicado imediatamente após o funeral da ex-primeira-ministra britânica.O anúncio sobre o lançamento da biografia foi feito horas depois pela Allen Lane, da Penguin Books.

Moore entrevistou Thatcher e teve acesso total aos seus documentos particulares. A editora afirma que a ex-premier deu permissão para que funcionários e ex-funcionários falassem livremente sobre o seu período no governo britânico. Thatcher nunca leu os originais. "Esse livro traça uma visão sem paralelos sobre o início de sua vida e sua formação, especialmente através de sua longa correspondência com sua irmã, da qual Moore é o primeiro a ter acesso", disse Stuart Profitt, da Allen Lane.

Moore está escrevendo o segundo e último volume chamado "Herself Alone".

  • Margaret é ovacionada durante uma convenção do Partido Conservador em 1989
  • Foto de 2007 mostra a ex-primeira-ministra no aniversário de 25 anos da Guerra das Malvinas/Falklands
  • Margareth Thatcher vai à igreja no dia de seu 60º aniversário, em 13 de outubro de 1985
  • Thatcher deixa missa em memória a seu falecido marido, em outubro de 2003
  • Encontro com Nelson Mandela, então líder da Assembleia Nacional Africana, em julho de 1990
  • A ex-primeira-ministra recebe o cumprimento da rainha Elizabeth II (à esq.) durante seu aniversário de 80 anos, em 2005
  • Acompanhada do príncipe Charles (2º da esquerda para a direita), Thatcher (de azul) prestigia a abertura de uma nova enfermaria no Royal Hospital Chelsea, em 2009
  • Ex-primeira-ministra é cercada por veteranos durante a lembrança dos 25 anos da Guerra das Malvinas/Falklands
  • Em 2010, Thatcher participa de comemoração do Dia de Ação de Graças na Abadia de Westminster, em Londres
  • A ex-primeira-ministra participa da sessão de abertura da Câmara dos Lordes, em 2010
  • Em 1987, Thatcher acena aos repórteres da escadaria do escritório do Partido Conservador em Londres
  • A ex-primeira-ministra posa para fotos com seu livro, lançado em 1997
  • Foto de 1999 mostra Margaret Thatcher ao lado de John Major, que também foi primeiro-ministro britânico
  • Thatcher encontra o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González em 1998
  • Margaret Thatcher posa para foto ao lado do rei da Espanha, Juan Carlos, em 1998
  • Em 2004, ela foi ao funeral do ex-presidente norte-americano Ronald Reagan
  • Ao lado do então primeiro-ministro Gordon Brown, Thatcher deixa o número 10, de Downing Street, em 2009
  • Foto de 1984 mostra a então primeira-ministra britânica (à dir.) ao lado do então primeiro-ministro da África do Sul, Pieter Willem Botha

A ex-primeira-ministra Margaret Thatcher, "a Dama de Ferro", foi uma figura crucial na política britânica do século XX -- amada e odiada na mesma proporção, por ter reprimido sindicatos e privatizado muito do patrimônio público. Ela morreu nesta segunda-feira, aos 87 anos, após sofrer um derrame. Durante sua carreira política, essa filha de um modesto quitandeiro foi idolatrada por alguns como uma modernizadora, e acusada por outros de ter acirrado as divisões entre ricos e pobres no país. Única primeira-ministra mulher na história da Grã-Bretanha, Thatcher, reconhecida pela personalidade dura e franca, levou os conservadores a três vitórias eleitorais, governando de 1979 a 1990, o maior período contínuo no governo para um premiê britânico desde o início do século XIX.

A ex-primeira ministra britânica terá um funeral "com honras militares" na catedral de Saint Paul de Londres em uma data ainda a ser definida, informou o governo britânico.

Confira fotos da vida da "Dama de Ferro"

As imagens mais marcantes do seu governo são de conflito: enormes confrontos entre policiais e mineiros sindicalistas; ela, com lenço branco sobre a cabeça, andando de tanque; as chamas sobre a praça Trafalgar durante os protestos contra um impopular imposto que acabaram levando à sua queda. Thatcher notoriamente ignorava seus críticos. "A senhora não é de recuar", disse ela num célebre discurso de 1980 a membros do seu Partido Conservador que pediam mais moderação no seu governo.

Outros que cruzaram seu caminho, particularmente na Europa, estavam sujeitos a violentas diatribes, frequentemente chamadas de "bolsadas", numa alusão à bolsa de couro preto que ela invariavelmente carregava.

Com o presidente norte-americano Ronald Reagan, ela formou uma sólida aliança anticomunista, recompensada com a queda do Muro de Berlim em 1989 --embora ela temesse que uma Alemanha unificada viesse a dominar a Europa. Suas radicais posições direitistas alteraram tão profundamente a política britânica que os governos trabalhistas que a sucederam aceitaram muitas das suas políticas.

A mulher que se tornou conhecida simplesmente como "Maggie" transferiu grande parcelas da economia britânica das mãos do Estado para a iniciativa privada. "O problema do socialismo é que você no fim das contas esgota o dinheiro dos outros", afirmou ela certa vez.

Seu credo pessoal, baseado na competição, na iniciativa privada, na frugalidade e na autoconfiança, deu origem a uma filosofia política conhecida como "thatcherismo". Mas seu amargo remédio econômico deixou milhões de pessoas sem emprego, alienou multidões e destruiu setores econômicos como o da mineração.

Sua posição combativa gerou atritos na Europa, e sua intolerância contra dissidências acabou provocando sua queda.n "Uma tirana brilhante, cercada por mediocridades", foi como o ex-premiê Harold Macmillan a descreveu. "Aquela mulher sanguinária", foi o veredicto menos complacente de outro ex-premiê, Edward Heath, seu antecessor como líder conservador.

No auge de seu poder, Thatcher foi, por sua própria personalidade, uma das mais conhecidas figuras ocidentais. "Workaholic", trabalhava até 18 horas por dia, e depois relaxava tomando um copo de uísque.

Confronto com sindicatos

Após ganhar a eleição de 3 de maio de 1979, ela lançou reformas sociais e econômicas destinadas a acabar com aquilo que ela via como uma situação de declínio do setor industrial, impostos paralisantes e controle estatal intrusivo --fatores que, sob o governo trabalhista anterior, haviam motivado o chamado "inverno do descontentamento".

O combate a aumentos salariais inflacionários e as medidas em prol da modernização econômica exigiam restringir o poder dos sindicatos. Após mudanças na lei e uma greve de um ano que terminou em derrota para os mineiros, em 1985, chegaram ao fim os dias em que os sindicatos podiam ditar ordens aos governos britânicos.

A Grã-Bretanha prendeu a respiração em 1982, quando Thatcher despachou uma força-tarefa naval para as ilhas Malvinas (também chamadas de Falkland), que haviam sido capturadas por militares argentinos. Apesar de perderem vários navios, os britânicos conseguiram recuperar o controle das ilhas 74 dias depois. Ao todo, 649 argentinos e 255 soldados britânicos morreram na guerra.

Uma pesquisa de opinião em 1981 apontou Thatcher com o mais detestável primeiro-ministro de todos os tempos. Mas, dois anos depois, após a guerra das Malvinas, ela foi reconduzida ao poder em uma onda de patriotismo. Em 1987, obteve sua terceira vitória eleitoral consecutiva, novamente com expressiva maioria parlamentar.

Privatizações

Thatcher deu início a uma era de "capitalismo popular" que aumentou para 68 por cento o percentual de britânicos com casa própria, e fez com que uma em cada cinco pessoas se tornasse acionista de empresas. No seu governo, houve uma audaciosa onda de privatizações, atingindo monopólios nos setores de gás, petróleo, siderurgia, telefonia, aeroportos e a British Airways. Os serviços de eletricidade e água seriam privatizados posteriormente.

Mas, embora o thatcherismo tenha melhorado a vida de muita gente, o desemprego dobrou até meados da década de 1980, atingindo mais de 3 milhões de pessoas - nível inédito desde os anos 1930, pós-Grande Depressão. Adversários diziam que Thatcher havia criado uma nação dividida entre o sul, mais rico, e o norte, mais pobre.

Thatcher desenvolveu uma estreita relação com Reagan, a quem chamou de "o padrinho da Inglaterra". Foi o jornal oficial do Partido Comunista soviético, Pravda, quem a apelidou de "Dama de Ferro", mas ela gostou. Quando o líder soviético Mikhail Gorbachev ascendeu ao poder, em 1985, ela estabeleceu uma boa relação de trabalho com ele.

Depois da invasão iraquiana no Kuweit, em agosto de 1990, Thatcher ofereceu ao então presidente dos EUA, George H.W. Bush, um conselho que ficou famoso: que ele não fosse "vacilante" em se contrapor ao iraquiano Saddam Hussein.

As relações de Londres com outros países europeus ficaram abaladas devido à relutância de Thatcher em abraçar os planos para uma maior integração. Ela exigiu um enorme reembolso das contribuições britânicas ao orçamento europeu, e, até consegui-lo, praticamente paralisou as atividades da Comunidade Europeia.

O falecido presidente francês François Mitterrand disse certa vez que ela tinha "os olhos de Calígula e os lábios de Marilyn Monroe".

Atentado

Em 1984, um atentado do Exército Republicano Irlandês contra o hotel onde ela se hospedava, em Brighton, quase matou todo o seu gabinete. Ela escapou ilesa, mas cinco pessoas morreram, e alguns colegas dela ficaram gravemente feridos.

Horas depois do atentado, cumprindo a agenda, ela fez o pronunciamento de encerramento da conferência anual do Partido Conservador, prometendo não fazer concessões na luta contra o terrorismo.

Em 1984, Thatcher e o então premiê chinês, Zhao Ziyang, assinaram uma declaração pela qual Londres aceitava entregar Hong Kong à China em 1997, após 156 anos de domínio colonial britânico.

Após 11 anos no poder, Thatcher cedeu a uma revolta e se retirou de uma disputa pela liderança partidária, na qual enfrentaria o ex-ministro de Defesa Michael Heseltine. Um novo imposto local, conhecido como "poll tax" (literalmente "imposto por cabeça", por incidir sobre cada indivíduo, independentemente da renda) gerou distúrbios que contribuíram para sua queda.

Mas Thatcher manteve enorme influência, conseguindo que Heseltine não a sucedesse, e colocando, no lugar dele, seu protegido John Major, que foi primeiro-ministro até 1997. "Estamos deixando Downing Street (rua onde fica a residência dos premiês britânicos) pela última vez após maravilhosos 11 anos e meio, e estamos muito felizes por deixar o Reino Unido em um estado muitíssimo melhor do que quando chegamos", disse a Thatcher na ocasião, com lágrimas nos olhos.

Em 2001 e 2002, ela teve derrames brandos, após os quais reduziu suas aparições públicas, até interromper totalmente seus pronunciamentos.

Seu mergulho na demência foi retratado no premiado filme "A Dama de Ferro", em que Meryl Streep interpretou seu papel. Apresentada como uma viúva confusa, a solitária Dama de Ferro havia ficado apenas com suas lembranças.

Repercussão

Diversos líderes mundiais expressaram pesar pela morte de Thatcher ao longo da segunda-feira (8). "Perdemos uma grande líder, uma grande primeira-ministra, e uma grande britânica", disse o primeiro-ministroDavid Cameron. "Seu legado será o fato de que ela serviu a seu país tão bem, e ela salvou nosso país e mostrou muita coragem em fazê-lo, e as pessoas vão aprender sobre o que ela fez e suas conquistas nas últimas décadas, provavelmente nos séculos vindouros", acrescentou.

Cameron suspendeu uma viagem que fazia pela Europa para voltar à Grã-Bretanha após o anúncio da morte, e bandeiras britânicas foram colocadas a meio mastro na residência oficial de Cameron, na Downing Street, em Londres.

Algumas pessoas começaram a colocar flores do lado de fora da casa de Thatcher em Belgravia, uma das áreas mais exclusivas de Londres. Uma mensagem dizia: "A maior líder britânica."

Thatcher morreu pacificamente na manhã desta segunda-feira, disse Tim Bell, porta-voz da família Thatcher. Ela estava com a saúde debilitada há meses e sofria de demência no últimos anos. "Acho que ela vai ser lembrada como um dos maiores primeiros-ministros que este país já teve", disse Bell. "Tenho certeza que ela será lembrada no contexto de outros grandes homens como Winston Churchill. Ela fez uma diferença real para a maneira como vivemos nossas vidas", disse Bell.

O governo britânico disse que Thatcher terá um funeral com honras militares na Catedral de St. Paul, em Londres, mas não será um funeral de Estado completo, em conformidade com os desejos de sua família.

"É muito triste saber da sua morte, mas seu legado e sua morte são duas coisas diferentes. Politicamente, ela não deixou um bom legado para a classe trabalhadora", disse à Reuters Kevin Robertson, de 39 anos, gerente de uma garagem em Edimburgo.

A rainha Elizabeth disse que ficou triste ao ouvir a notícia da morte de Thatcher e enviou uma mensagem de solidariedade à família. "Sua lembrança vai viver por muito tempo depois que o mundo se esquecer dos ternos cinzas da política de hoje", disse o prefeito de Londres, Boris Johnson.

O papa Francisco expressou seu pesar pelo falecimento da ex-primeira-ministra britânica destacando seus valores cristãos e "a promoção da liberdade no concerto das nações". A declaração foi repassada pelo cardeal secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, em um telegrama enviado ao primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, e tornado público pela Santa Sé.

Em comunicado frio, a presidenta Dilma Rousseff lamentou a morte, informou a Secretaria de Imprensa da Presidência da República. Já o governo da Argentina se mantém em silêncio sobre a morte da ex-primeira-ministra, a mulher que declarou a guerra entre os dois países pela soberania das ilhas Malvinas, em 1982, e ganhou a disputa. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, teve nesta segunda-feira (8) uma intensa atividade nas redes sociais para trocar impressões com vítimas das recentes inundações que castigaram a província de Buenos Aires e anunciou vários projetos para reformar a Justiça, mas não mencionou a falecida governante britânica.

Segundo seu porta-voz, Timothy Bell, Thatcher morreu em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) após ter passado os últimos anos com problemas de Alzheimer e afastada da vida pública.

Downing Street, escritório e residência oficial do chefe do Governo britânico, anunciou hoje que o funeral de Thatcher será realizado na catedral Saint Paul, situada em pleno centro de Londres, no distrito financeiro, com honras militares.

Embora Thatcher não deva receber um funeral de Estado, a cerimônia contará com o mesmo status que teve os funerais da princesa Diana (1997), ex-esposa do príncipe Charles e mãe dos príncipes William e Harry, e da rainha-mãe (2002), segundo a emissora britânica "BBC".

Thatcher escreveu seu nome na história após ter se tornado a única mulher a assumir o posto de primeira-ministra no Reino Unido, onde esteve no poder de 1979 até 1990.

Segundo a agência local "Press Association" (PA), a política apelidada de "Dama de Ferro" teria sido consultada em vida sobre os detalhes dos preparativos de seu próprio funeral.

Aparentemente, Thatcher deixou claro que não queria que seu corpo estivesse exposto ao público, como se costuma fazer com os políticos britânicos.

Após a confirmação da notícia, em Downing Street, a "Union Jack" foi hasteada hoje a meio mastro em sinal de luto a ex-líder conservadora, enquanto os partidos do Reino Unido suspenderam as campanhas eleitorais com vistas nas eleições do próximo dia 2 de maio na Inglaterra e Gales.

Fotos da vida da "Dama de Ferro"

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