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Mário Soares faz comício em 1975 a dias de eleições no país | STR/AFP
Mário Soares faz comício em 1975 a dias de eleições no país| Foto: STR/AFP

O ex-presidente de Portugal, Mário Soares, morreu neste sábado, aos 92 anos. Ele foi uma figura fundamental na transição de Portugal da ditadura para a democracia, e como primeiro-ministro, levou seu país da crise para a União Europeia. A sua morte foi anunciada pela agência estatal de notícias Lusa.

Desde o dia 13 de dezembro de 2016, Soares esteve em tratamento intensivo no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, em Lisboa. Um sobrinho do ex-presidente, Eduardo Barroso, disse que Soares foi hospitalizado em 2013 com encefalite aguda, uma inflamação do cérebro, e que a sua saúde havia se deteriorado ainda mais desde a morte de sua esposa, em julho de 2015.

Confira os momentos mais marcantes da vida de Mário Soares

Mário Soares, em foto tirada em 1988JOEL ROBINE/AFP

Soares, socialista, era admirado por sua tenacidade e otimismo exuberante. Como primeiro-ministro, ele apostou sua carreira na conquista da adesão de Portugal à UE, considerando-a um caminho para fortalecer a jovem democracia do país, modernizar sua economia e acabar com o isolamento internacional.

Muitos portugueses eram céticos, mas Soares persistiu. “Portugal será um país diferente e certamente muito melhor para todos os portugueses”, declarou em 1985, depois de ter concluído oito anos de negociações para aderir ao bloco, então conhecido como Comunidade Econômica Europeia.

A adesão plena e o acesso ao mercado comum do bloco, iniciado em 1986, traduziram-se numa melhoria significativa dos padrões de vida portugueses. O comércio e o investimento estrangeiro expandiram-se, e Portugal abraçou a moeda do euro. Hoje, o país está ligeiramente abaixo da média europeia em termos de rendimento per capita, mas a diferença com os seus pares mais ricos diminuiu.

Filho de um político muitas vezes preso por se opor à ditadura de direita, Soares tornou-se politicamente engajado na Universidade de Lisboa, sendo graduado em filosofia e direito nos anos 50.

Sua própria atividade de oposição o colocou na prisão 12 vezes. Durante um destes períodos na prisão, ele se casou com Maria Barroso, uma atriz que conheceu na universidade. Em 1970, foi forçado a pedir exílio na França. Três anos mais tarde, ele, sua esposa e um grupo de amigos se encontraram na Alemanha para fundar o Partido Socialista de Portugal. Ele foi nomeado secretário-geral.

Em 25 de abril de 1974, uma revolta militar conhecida como Revolução dos Cravos terminou com 48 anos de ditadura e 13 anos de guerra contra os movimentos de independência nas colônias africanas de Portugal. Três dias depois, Soares voltou a Lisboa em comboio e foi recebido por milhares de simpatizantes, com a esperança de que pudesse ajudar a trazer democracia e prosperidade para o que era então um canto fechado da Europa.

Ele foi nomeado ministro das Relações Exteriores no governo recém-instalado, controlado por militares, que estava comprometido com o estabelecimento de um regime democrático. Ele supervisionou a concessão de independência a Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Ele renunciou e entrou em oposição em 1975, depois que uma facção pró-soviética comunista ganhou influência no governo. Eventualmente, uma facção militar moderada apoiada por Soares prevaleceu, bloqueou uma tentativa de golpe apoiada pelo Partido Comunista e convocou eleições em 1976.

Soares venceu, tornando-se o primeiro chefe de governo constitucionalmente eleito de Portugal depois da revolução. Ele liderou dois governos até 1979 e um terceiro de 1983 a 1985.

Ele assumiu uma economia paralisada por guerras dispendiosas na África, a turbulência política interna e a repentina chegada de pelo menos 500.000 refugiados portugueses de antigas colônias a um país mal preparado para alojá-los e empregá-los.

Soares e a esposa, Maria de Jesus Barroso, em foto de 1975AFP PHOTO

Por duas vezes ele buscou ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) para administrar as dívidas, enquanto lutava para construir um estado de bem-estar moderno. Ele abriu o país para a Coca-Cola e outros bens de consumo estrangeiros proibidos sob a ditadura.

Mas sua aceitação das prescrições de austeridade do FMI - aumentos de impostos e cortes salariais acentuados, e principalmente o cancelamento de um bônus de Natal para funcionários públicos, em 1983 - o desgastaram politicamente.

A coligação governamental de Soares desmoronou logo após o parlamento ratificar o tratado para entrar na Comunidade Econômica Europeia, mas sua imagem de estadista respeitado permaneceu. Ele foi eleito presidente, um cargo em grande parte cerimonial, em 1986, e cumpriu dois mandatos de cinco anos.

Ele permaneceu politicamente engajado depois de deixar o cargo e escreveu colunas frequentes para um jornal português, o Diário de Notícias, até 2015.

Depois que a Europa mergulhou em recessão em 2008, ele levantou sua voz contra as políticas de austeridade lideradas pela Alemanha impostas às economias mais fracas da zona do euro - políticas semelhantes às que o FMI havia exigido nos anos 80. Em 2011, Portugal foi obrigado a cortar gastos públicos em troca de um resgate de 78 bilhões de euros pelo FMI e pela UE.

“Eu não acho que o Estado de bem-estar que os portugueses demoraram tanto para construir deveria ser destruído, como se nós fôssemos um simples servo da troika”, disse Soares em um discurso de 2012, referindo-se aos credores internacionais do país .

Fonte: Dow Jones Newswires

Mário Soares se encontra com Yasser Arafat (à esq.) em 1996AWAD AWAD/AFP

Os momentos marcantes da vida de Mário Soares

- 7 de dezembro de 1924: nascimento, em Lisboa.

- 1957: torna-se advogado e começa a defender opositores do regime de Salazar, o que lhe custará varias penas de prisão.

- 1970: por ter sido deportado para a colônia africana de São Tomé e Príncipe, é condenado ao exílio e se instala na França.

- 1973: participa da criação na Alemanha do Partido Socialista português, pelo qual se torna primeiro secretário-geral.

- 1974-1975: volta a Portugal por causa da “Revolução dos Cravos”. Torna-se responsável pela organização da independência das colônias dentro do governo provisório da junta militar. Posteriormente, irá se tornar ministro de Relações Exteriores.

- 1976-78: é nomeado chefe de governo após as primeiras eleições legislativas do país. Ocupará novamente o cargo entre 1983 e 1985, período no qual negocia a adesão de Portugal à Comunidade Econômica Europeia (que viria a ser a a atual União Europeia).

- 1986-96: torna-se presidente da República por dois mandatos consecutivos de cinco anos.

- 1999-2004: exerce o cargo de deputado europeu.

- 2006: se apresenta como candidato à eleição presidencial e fica em terceiro lugar no resultado final.

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