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A médica sudanesa Mariam Yahya Ibrahim, condenada à forca por se converter ao cristianismo, lamenta ter de amamentar sua filha recém-nascida "com algemas nas pernas e fechada em uma prisão" em um subúrbio ao oeste de Cartum, revelou nesta sexta-feira (30) seu marido, Daniel Wani.

Em uma entrevista por telefone, ele contou que sua mulher recebeu "com alegria" seu novo bebê, embora lamente as condições em tenha vindo ao mundo.

Wani, de origem sul-sudanesa, mas de nacionalidade norte-americana, comemorou ter podido ver sua filha que nasceu na quarta-feira (28) na penitenciária feminina de Omdurman, e disse estar confiante de poder continuar com as visitas na próxima semana. As autoridades penitenciárias deram a ele a permissão de visitar sua mulher duas vezes por semana, com duração de 20 minutos por encontro.

Ele esclareceu que mãe e filha "estão em bom estado de saúde e com bom humor", apesar das circunstâncias da detenção. Também contou que a menina se chamará Maya, e a descreveu como uma "formosa pequena". Segundo ele, a recém-nascida compartilha a cela com seu irmão Martin, de um ano e oito meses.

Wani revelou as contínuas tentativas dos clérigos, que pertencem a instituições governamentais, de convencer a jovem a voltar ao Islã, apesar de pesar sobre ela a sentença de morte na forca.

"Mariam insiste em sua postura, que sua origem sempre foi cristã, e pediu à administração penitenciária para não ser mais incomodada com as repetidas tentativas inúteis" de fazer com que se declare muçulmana, explicou o marido.

Ele reconheceu também a existência de pressões por parte de diferentes líderes religiosos islâmicos para convencê-la a deixar o cristianismo.

"Como vai voltar ao Islã se nunca foi muçulmana? Seu pai foi muçulmano, isso é certo, mas quem a criou foi sua mãe, que é cristã", detalhou Wani.

O marido disse que aguarda o pronunciamento do Tribunal de Apelações, depois que o advogado do caso rejeitou o veredicto e recorreu para revogar a sentença ou reduzir a pena.

"Tenho confiança de voltar a vê-la em breve em liberdade", assinalou.

Daniel Wani se casou com Mariam Yahya Ibrahim em uma Igreja Católica em Cartum há três anos, e o casal teve o primeiro filho antes de começar o processo judicial. No entanto, o juiz que a condenou a morte, declarou nulo o casamento, já que as leis da "sharia" (lei islâmica) não permitem que uma mulher muçulmana se case com um cristão. A aplicação da "sharia" no Sudão está no centro de muitas críticas, que consideram que esta não deve se contrapor aos direitos humanos.

O tribunal sudanês sentenciou Mariam a 100 chicotadas e à execução na forca, após ter declarado a mulher culpada das acusações de apostasia (abandono da fé) e adultério. Seguindo a legislação sudanesa, a pena de morte será aplicada daqui a dois anos, quando terminar o período de amamentação da menina que nasceu dentro da prisão.

A Anistia Internacional divulgou um duro comunicado qualificando de "aberração" a sentença contra a médica, de 27 anos. Segundo a organização, os delitos de que é acusada não deveriam ser considerados como tais. A este clamor se uniram outras organizações como Human Rights Watch e ONGs regionais, como o Centro Africano para Estudos de Justiça e Paz.

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