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Colinas de Golã : área de fronteira e de tensão entre Israel e Síria. Muitas vítimas do conflito no país árabe vão para hospitais israelenses | Ronen Zvulun/Reuters
Colinas de Golã : área de fronteira e de tensão entre Israel e Síria. Muitas vítimas do conflito no país árabe vão para hospitais israelenses| Foto: Ronen Zvulun/Reuters

Livro

Escritora relata experiências da Primavera Árabe

"Todos os dias mais sírios cruzavam a fronteira e entravam no Líbano. Sorrisos de alívio e de esperança sumiam à medida que o tempo fora de casa se prolongava. E os refugiados se viam sem abrigo, comida ou dinheiro". O trecho está no livro Sobre Jasmins, Bombas e Faraós (Record), escrito pela jornalista Carolina Montenegro após viajar pelo Oriente Médio entre 2012 e 2013, ainda no calor da Primavera Árabe.

Carolina passou pelo Líbano, pela Tunísia e pelo Egito, onde acompanhou a onda de protestos que mudou os rumos políticos de alguns países.

Foi em Beirute, capital do Líbano, que ela conheceu alguns dos milhares de sírios que migraram ao país fugindo da guerra civil. Entre artistas, militantes e trabalhadores, os relatos dos refugiados guardam em comum as perdas (de amigos e familiares) e a saudade dos tempos de paz.

Pessoas

No livro, a jornalista não se preocupa em aprofundar questões políticas ou históricas para explicar o conflito nos países visitados. O foco está na história das pessoas, cidadãos comuns vivendo um misto de esperança e incerteza quanto ao futuro de suas pátrias. Personagens como Issa, um ativista conhecido como "Che Guevara sírio", o artista Tammam Azzam, refugiado em Dubai, ou os irmãos Alaa e Haian, namorados de brasileiras, revelam sob um ponto de vista humano a dimensão da tragédia síria, ainda sem previsão de acabar.

  • Daitzchman vive em Safet

Foi na tranquilidade de um moshav, comunidade rural cooperativa típica de Israel, que o médico Marcelo Dai-tzchman optou por se estabelecer, ao lado da mulher e dos dois filhos.

Essa calmaria, refletida inclusive na fala, pausada e contida, contrasta com o cotidiano profissional vivido em um dos principais hospitais da região norte do país.

Localizado a 30 quilômetros da fronteira com a Síria, o local viu seu cotidiano mudar de três anos para cá, quando passou a receber as vítimas de um dos maiores confrontos do Oriente Médio.

Já se vão 35 anos desde que o curitibano Marcelo se formou em Medicina pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e foi para Israel, onde fez residência médica e consolidou a carreira profissional.

Desde 2008 ocupa o cargo de diretor do departamento de Radiologia do Hospital Rebecca Sieff, na cidade de Safet, um dos quatro na região que atendem vítimas da guerra civil síria, que já causou mais de 200 mil mortes. Há alguns dias, o médico esteve em Curitiba, onde ministrou palestras sobre o atendimento a traumas de guerra.

"Todo plantão, nós recebemos feridos. Atendemos muitos casos decorrentes principalmente de explosões, inclusive mulheres e crianças", diz o médico em entrevista à Gazeta do Povo.

Somente nos últimos 20 meses, o hospital recebeu cerca de 400 vítimas do conflito sírio. Somados aos outros três hospitais da região, são mais de 1,2 mil atendimentos nesse período.

Origens

Israelenses e sírios têm divergências históricas, fruto do conflito árabe-israelense e da disputa pela região das Colinas de Golã, na fronteira. Diferenças essas que não interferem no atendimento às vítimas do país vizinho.

"Nós fazemos um trabalho humanitário, temos de separar a política da medicina. Nessa hora temos de atuar como médicos, enxergarmos a pessoa, independente de sua origem", afirma Marcelo.

Apesar da rotina conturbada no hospital e da proximidade com o território sírio, Marcelo diz jamais ter sofrido com episódios de violência. "Em 35 anos desde que me mudei para Israel, nunca tive qualquer problema", garante. Ainda que, em alguns momentos, ouça o barulho das explosões que ecoam do outro lado da fronteira.

Disputa

Israel e Síria já tiveram conflitos, sendo o mais recente a disputa pelas Colinas de Golã, reivindicadas pelos dois países desde 1967. Uma força da Organização das Nações Unidas (ONU) com cerca de 1,2 mil homens patrulha a zona de segurança na fronteira desde 1974, após o fim da guerra árabe-israelense.

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