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Restos mortais de vítimas do genocídio: período obscuro exposto às gerações futuras | Julio Cesar Lima
Restos mortais de vítimas do genocídio: período obscuro exposto às gerações futuras| Foto: Julio Cesar Lima

"Esquecer nunca, mas olhar para o futuro", diz um cartaz co­­locado em frente à antiga Escola Técnica de Murambi, a 180 quilômetros ao sul da capital Kigali. Lá estão 1800 corpos humanos, além de peças de roupas. Os despojos foram encontrados em uma vala comum no final de 1994, após o fim do genocídio que vitimou 850 mil ruadeses da etnia tutsi. Na região, habitada em sua maioria por agricultores que cultivam tomates e chá, o genocídio foi responsável pela morte de 60 mil tutsis.

Murambi é apenas um dos diversos memoriais espalhados pelo país desde o final do massacre. Preservados e distribuídos pelas diversas salas de aula onde funcionava a escola técnica, os corpos exumados – entre eles centenas de crianças com idade inferior a 5 anos – dão uma di­­mensão do dilema vivido no país, que tenta um futuro de conciliação, mas necessita expor ao mundo um período obscuro de sua história.

Juliete Nyamizamb é a encarregada das visitas ao local. Ela, hutu, viu seu marido tutsi ser perseguido pelos "interahamwe" (imbatíveis, como eram chamados os responsáveis pelos assassinatos em massa) e que, depois de ter as pernas golpeadas por um facão, foi assassinado nas colinas.

"É uma lembrança muito ruim, pois a todo o momento vejo esses corpos e algumas cenas não dá para esquecer, mas é um emprego e não há outra alternativa", disse Juliette, que vive no vilarejo e tem como vizinhos an­­tigos genocidas libertados pela justiça após cumprirem pena.

Em Ruanda existem dezenas de projetos de reconciliação, onde crianças tutsis e hutus brincam e estudam juntas. Serviço de acompanhamento psicológico e orfanatos que abrigaram crianças durante o genocídio mostram um país que tenta curar todos os traumas deixados pelo episódio.

Nas ruas, as pessoas relutam em falar sobre o assunto, resultado de uma política imposta pelo presidente Paul Kagame, da etnia tutsi. O objetivo é evitar novos debates que possam reacender as rivalidades, e esse ideal é propagado em diversas campanhas. Nem todos, porém, seguem essa regra. Richard Kigungu, re­­cepcionista em um hotel de Gi­­senyi, na fronteira com o Congo, acredita no processo de reconciliação, mas não deixa de fazer algumas ressalvas.

"É uma nova situação que vi­­vemos, mas todos sabem que, no fundo, há uma sensação estranha, principalmente nas cidades menores, no interior, onde os assassinos são pessoas da comunidade", disse.

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