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Bandeira americana diante de uma das torres do World Trade Center em chamas, durante os ataques do 11 de Setembro | Doug Kanter/AFP
Bandeira americana diante de uma das torres do World Trade Center em chamas, durante os ataques do 11 de Setembro| Foto: Doug Kanter/AFP

Injustiças

Polícia o via como suspeito

Para Talat Hamdani, o fato do filho não ser reconhecido no memorial é apenas a última de uma série de injustiças que, segundo ela, começaram com a visita de dois policiais em outubro de 2001.

Ela, o marido e dois de seus filhos estavam procurando pelo corpo de Mohammad Salman Hamdani em hospitais e necrotérios. Mas os policiais queriam fazer perguntas.

Foi mais ou menos na mesma época que sua foto com o uniforme de cadete da polícia circulou pelas delegacias em um cartaz com as seguintes palavras: "Deter o suspeito. Notificar a equipe responsável pelo caso".

Os questionamentos sobre o cadete só acabaram em março de 2002, quando sua família foi informada que seus restos mortais haviam sido encontrados nos escombros cinco meses antes.

Ele foi enterrado depois dos ataques do 11 de Setembro com hon­­rarias do Departamento de Polícia de Nova York e foi considerado um herói pelo comissário de polícia da cidade. Seu nome é citado na lei Patriot Act como exemplo de um americano mu­­çulmano que serviu a seu país com bravura.

O deputado Keith Ellison, de Minnesota, um dos dois membros muçulmanos do congresso, chorou durante uma audiência em março, enquanto contava a história desse paquistanês-americano do Queens, que foi injustamente acusado pelo envolvimento nos ataques, antes de ser reconhecido como um jovem cadete que morreu tentando salvar vidas.

Mas, a despeito de tudo o que fez, Mohammad Salman Ham­­dani não teve seu nome incluído na longa lista dos socorristas homenageados pelo Memorial do 11 de Setembro em Lower Ma­­nhattan.

Seu nome também não figura na lista das vítimas cujos corpos foram encontrados nos escombros da Torre Norte, onde seus restos mortais foram descobertos em 34 pedaços.

Ao invés disso, Hamdani foi relegado ao último painel com os nomes das vítimas do World Tra­­de Center, próximo a um espaço em branco no perímetro da Torre Sul, juntamente com os nomes de outras pessoas que não se encaixavam nos critérios criados para determinar a organização dos nomes. Essa parte do memorial contém os nomes de pessoas que tinham pouca ou nenhuma ligação com o World Trade Center.

O local escolhido para o nome de Hamdani causou descontentamento e preocupações sobre a forma como seu legado foi tratado desde o 11 de Setembro, quando foi considerado suspeito em função de sua origem paquistanesa, do fato de ser muçulmano e de ter um diploma em bioquímica pelo Queens College.

Seu nome apareceu em cartazes enviados às delegacias e os jornais espalharam a notícia de que ele era um homem procurado pela polícia.

"Eles não querem o nome de um muçulmano entre os homenageados no Marco Zero", afirmou sua mãe, Talat Hamdani, 60 anos, em sua casa no bairro de Lake Grove, em Long Island, com a voz carregada de dor. "Eles não querem uma pessoa chamada Mohammad lá em cima."

Talat não sabe se quer continuar com essa batalha. No final das contas, o importante é o orgulho que ela sente do filho. "Todos são iguais, não importa o lugar onde se está enterrado, se seu no­­me está ali ou não", foi o que disse enquanto olhava para a placa com o nome de seu filho no 10.º aniversário dos ataques. "O mundo se lembra de nós por nossos atos."

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