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Helicóptero e socorristas durante trabalho de resgate de corpos da queda do A320 da germanwings, em março | EMMANUEL FOUDROT/REUTERS
Helicóptero e socorristas durante trabalho de resgate de corpos da queda do A320 da germanwings, em março| Foto: EMMANUEL FOUDROT/REUTERS

Semanas antes de voar para Barcelona, na Espanha, para um intercâmbio estudantil com sua turma de espanhol, Steffen Strang percebeu que iria perder um jogo em casa do seu time de futebol do coração e perguntou à mãe se poderia ficar.

A resposta que Dagmar Strang deu ao seu filho de 16 anos ecoa em sua cabeça desde 24 de março, o dia que ele deveria ter retornado em um voo da Germanwings com destino a Düsseldorf.

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“Disse que ele não ia ficar em casa por causa de um jogo estúpido – chamei assim mesmo, ‘estúpido’”, contou ela, sentada na sala de jantar ao lado de uma exposição de fotos emolduradas de Steffen, seu único filho: quando bebê dormindo no carrinho, um pouco mais velho sentado em seu colo e na adolescência entre a mãe e o pai, Jurgen Strang, em um cruzeiro indo para a Noruega.

“Eu disse que aquela poderia ser a chance de fazer um amigo para a vida toda, para sair e conhecer o mundo”, disse Dagmar, balançando a cabeça, lutando contra o pensamento de “E se tivesse sido diferente?”.

A última mensagem de texto que Steffen lhe enviou após entrar no avião: “Estamos sentados no avião. Mal posso esperar para ver vocês”.

Os Strang são uma das famílias desta cidade no oeste da Alemanha lutando para conviver com a ausência em suas vidas desde que o copiloto da Germanwings, Andreas Lubitz, derrubou, em março deste ano, o voo 9525 levando seus filhos, filhas, irmãos e cônjuges com ele. Os 16 alunos e dois professores de Haltern am See formavam o maior grupo organizado presente no avião.

Assistência financeira

Algumas das famílias dos 150 passageiros quebraram a tradição alemã de privacidade e sofrimento discreto para falar com os repórteres, mas as pessoas de Haltern permaneceram em silêncio e fecharam suas portas para viver sua dor.

Mas, em junho, depois que a Lufthansa, empresa controladora da Germanwings, ofereceu US$ 28 mil (R$ 108 mil) para cada uma das famílias das 72 vítimas alemãs a bordo – além de US$ 56 mil (R$ 217 mil) em assistência financeira imediata dados após o acidente – o grupo de Haltern escreveu uma carta aberta à companhia chamando a oferta de “insulto”. E algumas das famílias receberam um repórter em suas casas.

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Além dos US$ 28 mil por passageiro pelo sofrimento, a Lufthansa também oferece US$ 11 mil (R$ 42 mil) a mais por danos emocionais para cada membro da família imediata, tais como pais e filhos, mas não irmãos.

Em várias entrevistas, as famílias de Haltern explicaram por que a oferta parece simbolizar o que veem como um esforço da companhia aérea para fazer o problema desaparecer rapidamente, sem explicar como um piloto suicida acabou ficando sozinho na cabine sobre os Alpes franceses na manhã em que se preparavam para receber o grupo em casa.

“Sinto que não estão se responsabilizando, não reconhecem que um de seus empregados conscientemente fez o que fez”, disse Oliver, cuja esposa, Sonja Cercek, era a professora de espanhol de 35 anos do Joseph-Koenig Gymnasium que organizara o intercâmbio com a escola Llinars del Vallès, perto de Barcelona.

A Lufthansa e a Germanwings reconheceram que Lubitz teve um ataque de depressão grave em 2009, durante o curso de formação de pilotos, mas revelaram pouco sobre sua supervisão subsequente, ou se alguém com autoridade sabia do risco em potencial que ele representava aos passageiros.

As companhias aéreas dizem que estão cooperando plenamente com as averiguações de Lubitz feitas pela justiça alemã. De acordo com a lei local, apenas indivíduos podem ser processados, não empresas, limitando o alcance da investigação dos promotores.

Processo nos EUA

Heinz-Joachim Schoettes, porta-voz da Germanwings, disse que o pagamento pelo sofrimento “é apenas uma parte” da proposta de compensação. Além disso, há o compromisso adicional de formar um fundo de até 15 milhões de euros, ou US$ 16,9 milhões (R$ 65 milhões), para custos educacionais das crianças que ficaram órfãs e quaisquer outros projetos propostos por membros das famílias.

No entanto, os familiares das vítimas de Haltern e de mais de 50 outras vítimas se reuniram recentemente para discutir a hipótese de um processo judicial nos Estados Unidos, onde Lubitz treinava quando recebeu licença para se recuperar da depressão.

Elmar Giemulla, advogado alemão que representa muitas famílias da localidade alemã, disse acreditar que, além da indenização adicional permitida pela lei de responsabilidade dos Estados Unidos, um processo poderia ajudar a descobrir mais informações sobre a extensão do conhecimento da Lufthansa em relação à condição de Lubitz e como ele pode ter sido considerado apto a voar.

As famílias dizem que a resposta da Lufthansa imediatamente após o acidente foi “exemplar”, como afirma Jurgen Strang, mas, desde então, há um sentimento de confiança perdida.

Vários disseram que se sentiram traídos pela companhia aérea, uma empresa tradicional que se orgulha de selecionar e treinar pilotos, há mais de 50 anos, em um processo rigoroso que inclui avaliações médicas e psicológicas.

“Eles nos devem uma explicação de como permitiram que um monstro doente se sentasse no cockpit”, disse Dagmar Strang, com a voz tremendo. Ela disse que não conseguia dormir à noite nem passar o dia sem sua medicação.

Todo mundo deposita sua confiança na companhia aérea, no piloto e na tripulação quando embarca em um avião, disse Oliver, 41 anos, cuja esposa Sonja era conhecida entre os alunos como justa e exigente. Ele pediu que seu sobrenome, que é diferente do de sua esposa, não fosse publicado por razões de privacidade.

“Acho que a quebra dessa confiança, através de seu piloto e da decisão que ele tomou, é algo que querem evitar”, ele disse.

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