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| Foto: GUILLERMO LEGARIA/AFP

O processo de paz na Colômbia recebeu nesta sexta-feira (7) um forte apoio com o Nobel da Paz concedido ao presidente Juan Manuel Santos, mas os analistas alertam que não será fácil salvar o acordo rejeitado em um referendo pelos colombianos.

“Este apoio do Comitê Nobel e da comunidade internacional vai fortalecer Santos e os esforços de resgatar o processo”, afirmou o analista político americano Marc Chernick.

Santos redobrou sua aposta pela paz nesta semana, depois que os colombianos rejeitaram em referendo o pacto selado com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para acabar com mais de meio século de conflito armado, e alcançado depois de quatro anos de negociações em Cuba.

Líderes esperam que Prêmio Nobel ajude Colômbia a salvar processo de paz

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O caminho agora será árduo: Santos terá de alcançar um acordo com a oposição, que já pediu ajustes, e depois deverá negociar para que as Farc aceitem estas alterações.

“O governo está procurando uma saída em duas frentes: com a oposição e com as Farc. Os dois disseram estar dispostos a dialogar para sair da crise, mas até agora as Farc não disseram que renegociarão o acordo”, acrescentou.

Chernick duvida que se possa mudar muita coisa no pacto selado em 26 de setembro. “Não creio que haja muita margem de manobra para mudar o acordo já alcançado; se chegarem a alguma emenda, será algo cosmético. E existe uma pressão de tempo para salvar o acordo. Não vai ser fácil”, enfatizou.

“É preciso ver se é possível chegar a um consenso nacional, que venha a incluir o ELN”, acrescentou, referindo-se ao Exército de Libertação Nacional, segunda guerrilha da Colômbia, que nos últimos dias deu sinais de estar disposta a sentar à mesa de negociações anunciada em março.

Somar o ELN permitiria encerrar um conflito que ao longo de décadas envolveu guerrilhas de esquerda, paramilitares de direita e agentes estatais, com um saldo de mais de 260.000 mortos, 45.000 desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.

Tempo crucial

Um dia antes de se reunir com o ex-presidente e adversário Álvaro Uribe, a quem não via há mais de cinco anos, Santos insistiu em tomar medidas urgentes.

“Não podemos prolongar este processo e este diálogo por muito tempo, porque estamos em uma zona cinzenta, em uma espécie de limbo, que é muito perigoso e muito arriscado, e pode jogar por terra todo o processo”, afirmou.

A fim de resolver o impasse, colocou como prazo até 31 de outubro para o cessar-fogo com as Farc, que rege de maneira bilateral desde 29 de agosto.

“Daí para frente continua a guerra?”, perguntou, no Twitter, o comandante máximo das Farc, Rodrigo Londoño (Timochenko), ao que o próprio Santos respondeu mais tarde, esclarecendo que “pode ser renovado”.

Para a analista política Laura Gil, o tema é complexo e ela não descarta que o presidente ponha fim ao cessar-fogo se “não houver um mapa do caminho claro e definido antes de do dia 31”, aumentando a pressão contra a oposição. “A oposição está em pânico, porque sabe que o primeiro morto cairá sobre sua cabeça”, assinalou.

O diretor do centro de análises Cerac, Jorge Restrepo, explica que o cessar-fogo “era subordinado ao acordo”, por isso adverte que a rejeição do pacto no referendo “supõe o reinício do conflito”.

“Decisão militar lógica”

A cúpula das Farc defende uma “mobilização pacífica” para apoiar o acordo com o governo, celebrando nas redes sociais as marchas pela paz realizadas esta semana na Colômbia, como em várias cidades do mundo. Mas, ao mesmo tempo, ordenou a seus integrantes que fiquem em local seguro para “evitar provocações de quem se opõe ao acordo de paz”.

Antes do referendo, as Farc começaram a transferir 5.765 combatentes, segundo suas próprias cifras, para os 27 pontos acertados para a deposição de armas, dando início assim a sua reinserção na vida civil. O processo, sob supervisão da ONU, deveria durar 180 dias a partir das assinatura do acordo.

Agora, ante a incerteza sobre o processo de paz, os guerrilheiros reunidos no sul do país para a décima conferência das Farc, que apoiou o pacto, voltaram na quinta-feira para seus acampamentos.

“É uma decisão militar lógica: o acordo ficou congelado em sua implementação”, explicou à AFP o coronel reformado Carlos Alfonso Velásquez, que dá aulas sobre o conflito na Universidade de Sabana.

O especialista atribuiu a medida a “uma desconfiança moderada” das Farc, que continuam sendo uma organização à margem da lei.

“Este é um conflito com características tênues de guerra civil, mas se não for resolvido satisfatoriamente para todos, pode se reativar já como uma guerra civil com características mais duras”, advertiu.

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