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Mãe chora a perda do filho durante funeral para prestar homenagem aos soldados ucranianos mortos em combate com as forças russas, em Lviv, Ucrânia, 24 de março de 2022.
Mãe chora a perda do filho durante funeral para prestar homenagem aos soldados ucranianos mortos em combate com as forças russas, em Lviv, Ucrânia, 24 de março de 2022.| Foto: EFE/EPA/MYKOLA TYS

A ofensiva militar das tropas comandadas pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, na Ucrânia se arrasta há um mês. Embora tivesse expectativa de conquistar o país em poucos dias, o Kremlin não contava com a forte resistência do exército ucraniano.

A essa altura do conflito, quase mil civis ucranianos morreram e outros 3 milhões se refugiaram em diferentes países. Como consequência da guerra, ainda, o crescimento da economia mundial deve ser reduzido em um ponto percentual no primeiro ano e aumentará a inflação em 2,5%.

Especialistas não veem sinais de que a guerra acabe em breve, e os dois países não conseguiram estabelecer acordos para o cessar-fogo. Até esta quinta-feira (24), um mês após o início do conflito, o Kremlin não havia conseguido atingir seus principais objetivos declarados: a desmilitarização e "desnazificação" de Kiev, a renúncia de entrada da Ucrânia na Otan e o reconhecimento da soberania da Rússia sobre a região da Crimeia e de Donbas.

Embora o ataque russo, na visão de analistas, não tenha saído como planejado, as tropas comandadas por Putin continuam a usar seu poderio militar para destruir cidades e atingir civis na tentativa de empurrar a Ucrânia a uma rendição. Veja, a seguir, os principais pontos sobre dos 30 dias de conflito:

ONU fala em quase mil civis mortos pela guerra

Os governos de Rússia e Ucrânia não têm apresentado boletins oficiais com números de mortos. E os dados, portanto, que variam de acordo com diferentes balanços, nem sempre são confiáveis. A maior parte dos órgãos que têm divulgado relatórios fala de mortes na casa dos milhares.

Segundo o mais recente levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado no último dia 21 de março, ao menos 977 civis ucranianos morreram e 1.594 ficaram feridos desde o início da guerra. Do total de mortos, 81 eram crianças; e entre os feridos, 108 eram crianças.

De forma mais detalhada, o relatório da ONU afirma que, do total de mortes, 196 eram homens, 144 mulheres, 12 eram meninas, 27 meninos; outras 42 crianças e 556 adultos não tiveram o sexo identificado. Do total de civis feridos na Ucrânia, 174 são homens, 136 mulheres, 24 meninas e 20, meninos. Segundo a ONU, o sexo de 64 crianças e 1.176 adultos feridos ainda é desconhecido. Donetsk e Luhansk teriam sido as regiões que registraram maior número de vítimas, com 279 civis mortos e 823 feridos.

As Nações Unidas acreditam, contudo, que os números reais são "consideravelmente maiores, já que o recebimento de informações de alguns locais onde ocorreram intensas batalhas foi adiado e muitos relatórios são ainda pendentes de comprovação".

Já segundo dados divulgados pela Procuradoria de Menores da Ucrânia, a guerra provocou a morte de 121 civis menores de idade, e deixou mais de 167 crianças feridas. "Até o dia 28 da invasão russa na Ucrânia morreram 121 crianças. Ficaram feridas de diferentes formas 167 crianças. Onde mais crianças foram afetadas: nas regiões de Kiev (61), Kharkiv (41), Chernihiv (32), Mykolayiv (24), a capital (16), Zhytomyr (15), Kherson (15) e Sumy (14)", aponta o relatório do órgão local.

Baixas militares

Os dados de baixas militares também são passíveis de desconfiança e variam de acordo com diferentes balanços. Os números, contudo, têm sido pouco divulgados por ambos os países.

Até agora, o Ministério da Defesa da Rússia divulgou apenas um balanço de morte de militares russos e não voltou a atualizar os dados. A baixa seria de 498 soldados; outros 1.597 teriam ficado feridos desde o início da ofensiva na Ucrânia.

Os Estados Unidos e Ucrânia têm alegado que os números são muito maiores do que os apresentados por Putin — há relatos que apontam para até 7 mil militares russos mortos. Segundo informações do governo da Ucrânia — que não foram confirmadas oficialmente pelo Kremlin ou por serviços de Inteligência estrangeiros —, ao menos cinco oficiais oficial de alto escalão da Rússia já morreram em combate.

De acordo com o governo do presidente Volodymyr Zelensky, ainda, 1,3 mil militares ucranianos teriam morrido até o dia 13. Os russos, por sua vez, falam em 2.870 militares ucranianos mortos.

Áreas ocupadas

Até agora, segundo o que têm divulgado veículos internacionais como Reuters, New York Times e BBC, militares sob o comando de Putin já teriam tomado o controle das cidades de Sumy e Kharkiv, no leste da Ucrânia, além de Donetsk e Lugansk. Ao sul, Kherson, Mariupol e Volnovakha foram tomadas, e, no norte, forças da Rússia estão em Chernihiv, Konotop e Chernobyl.

Crise econômica na Rússia pode afetar cenário global

Desde seu início, a ofensiva russa na Ucrânia gerou rápida condenação global, e diversas nações — especialmente do Ocidente — aplicaram duras sanções ao país, isolando-o do sistema financeiro mundial. EUA, União Europeia, Japão e outros países estão entre os que já anunciaram vetos à Rússia.

Entre os alvos das sanções está o próprio presidente da Rússia, Vladmir Putin, o ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, o Banco Central da Rússia, oligarcas, autoridades, elites, instituições financeiras, organizações e indivíduos de Belarus, incluindo o presidente Alexander Lukashenko, entre outros.

A Rússia também foi excluída do sistema financeiro Swift — a principal plataforma financeira e de comércio internacional. E grandes marcas como Meta, Twitter, Netflix, YouTube, Snapchat, Walt Disney, além de outras, anunciaram restrições ao mercado russo ou deixaram o país após o início da ofensiva. O Kremlin reconhece que os efeitos das sanções já são sentidos em diversos setores do país.

As sanções da comunidade internacional também levaram a uma desvalorização recorde do rublo, a moeda russa. O rublo já chegou a cair até 119,50 por dólar nas negociações asiáticas — o que levou o BC do país a emergencialmente elevar sua taxa de juros de 9,5% para 20%, na última semana.

Mas as consequências não devem se restringir apenas ao território russo: o mundo também pode enfrentar uma "escassez global de matérias-primas", pois a Rússia e a Ucrânia estão entre os maiores produtores mundiais de fertilizantes e metais como o níquel, titânio e paládio.

Segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), a guerra na Ucrânia deve reduzir o crescimento da economia mundial em um ponto percentual no primeiro ano e aumentará a inflação em 2,5%. O grupo também prevê um impacto particularmente grande na Europa, que é altamente dependente do gás e do petróleo da Rússia.

Ainda de acordo com a OCDE, o conflito deve diminuir o Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro em 1,4%, o dos Estados Unidos em cerca de 0,9%, e o da Rússia, em 10%.

Um outro risco previsto pela OCDE é uma paralisação completa das exportações de energia da Rússia para a União Europeia (UE), o que poderia reduzir o crescimento do PIB no país em mais 0,5%, com a inflação total aumentando em cerca de 3,5% em relação às expectativas pré-guerra.

Na análise do Fundo Monetário Internacional (FMI), no entanto, o efeito no resto do mundo de uma eventual quebra da economia da Rússia seria "bastante limitado", e o cenário não pressupõe um "risco sistêmico" para o planeta.

Economista-chefe do FMI, Gita Gopinath afirma que a economia mundial não está fortemente exposta à dívida russa e que seu peso é "relativamente pequeno" em uma perspectiva global. "Claro que poderia haver alguns bancos que tenham maior exposição a esses ativos e que sofreriam um impacto negativo, mas com os números que dispomos, não é um risco sistêmico para a economia global", disse.

Prejuízos econômicos à Ucrânia chegam a US$ 100 bilhões

Estimativas do governo ucraniano apontam para US$ 100 bilhões em infraestrutura, edifícios, estradas, pontes, hospitais, escolas e outros ativos físicos destruídos. A guerra também fez com que 50% das empresas ucranianas fechassem completamente, enquanto a outra metade foi forçada a operar bem abaixo da capacidade.

Estatísticas do FMI corroboram a análise e apontam para previsão de queda de 10% no Produto Interno Bruto (PIB) ucraniano e de queda de até 35% na produção nacional em 2022.

Segundo projeções do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), no caso de uma guerra contínua e prolongada na Ucrânia, "18 anos de conquistas socioeconômicas podem ser perdidos, com quase um terço da população vivendo abaixo da linha da pobreza e outros 62% em alto risco de cair na pobreza nos próximos meses".

A Procuradoria de Menores da Ucrânia, por sua vez, calcula que, como resultado dos bombardeios e dos ataques russos, 548 instituições educacionais ficaram danificadas e ao menos 72 duas acabaram completamente destruídas.

Além disso, mais de 40 outros tipos de estabelecimentos voltados para a infância, incluindo centros médicos, escolas de arte, instalações esportivas e bibliotecas, foram alvos de ataques da Rússia, aponta o órgão ucraniano.

Os dados não são definitivos, alerta o órgão, já que diversas regiões não podem ser inspecionadas, devido a bombardeios e confrontos, ou por estarem em territórios ocupados.

Três milhões de pessoas já fugiram da Ucrânia

A guerra também provocou o êxodo de mais de três milhões de pessoas da Ucrânia. Segundo dados divulgados pelo Alto Comissariado da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), cerca de dez milhões de pessoas fugiram de suas casas no país, seja como deslocados internos ou refugiados no exterior, desde o início do conflito.

Se considerados apenas os ucranianos que deixaram seu país desde 24 de fevereiro, o número chega a 3, segundo o Acnur. Cerca de outras 6,48 milhões de pessoas estariam deslocadas internamente no país.

As nações que já receberam refugiados ucranianos são ranqueadas pelo Acnur da seguinte maneira, segundo dados divulgados no último dia 16 de março: Polônia (1.916.445), Romênia (491.409), Moldávia (350.886), Hungria (282.611), Eslováquia (228.844), Rússia (168.858) e Belarus (2.127).

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