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 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

Créditos

Saiba quem são os autores do texto da revista eletrônica Slate publicado pela Gazeta do Povo:

Rob Carlson

É diretor da Biodesic e autor de Biology Is Technology: The Promise, Peril, and New Business of Engineering Life ("Biologia é tecnologia: a promessa, o perigo e os novos negócios relacionados à criação da vida").

Daniel Grushkin

É jornalista especializado em ciência e cobre a intersecção entre ciência, negócios e cultura. Junto com Carlson, fundou o Genspace, um laboratório comunitário e espaço de formação em Biologia.

O artigo

O texto desta página começou no Future Tense, uma colaboração entre a Universidade Estadual do Arizona, a Fundação New America e a revista eletrônica Slate.

O projeto Future Tense investiga de que forma as novas tecnologias afetam a sociedade, a política e a cultura.

Objetivo

Edital busca defesa do país

O edital do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental Estratégico (SERDP) tem a ver com um movimento, amplamente presente no serviço militar, que busca desde aplicações da biologia sintética até a defesa do país.

No ano passado, a Agência de Projetos de Pesquisa de Defesa Avançada, mais conhecida como DARPA, prometeu US$ 30 milhões pelo que considerou como materiais e dispositivos de alto valor confeccionados por meio de seu Programa de Fundições Dinâmicas, e o Escritório de Pesquisa Naval propõe o uso da biologia sintética para produzir intermediários do TNT, possivelmente para armas.

Se produzidos com sucesso, os explosivos à base de micróbios apresentarão problemas difíceis, que vão extrapolar a alçada do direito internacional. Ao longo da história, os militares têm retido suas tecnologias, e os benefícios ambientais apregoados não irão impedir que as novas tecnologias caiam nas mãos erradas. Perder de vista rifles, mísseis Patriot ou aviões não tripulados é ruim o suficiente; perder de vista fábricas que autorreproduzem explosivos é toda uma outra questão. A qualidade que faz com que os micróbios sejam tão poderosos também pode torná-los difíceis de conter: uma única célula microscópica, adquirida por um criminoso ou inimigo, poderia, a princípio, multiplicar-se a ponto de encher um tanque dentro de poucos dias.

É preciso ter cuidado com os limites da biotecnologia

Mesmo que os programas sejam rechaçados por alguns por serem considerados eticamente equivocados, devemos defender a destinação de verbas militares à biologia sintética. A tecnologia, sobretudo, talvez possa fortalecer nossa segurança nacional, fornecendo alternativas ao petróleo estrangeiro. Mas também temos de ser cautelosos. Nem todos os projetos militares valem o preço pago moralmente, financeiramente ou de outra forma.

A Convenção de Armas Bio­­lógicas (BWC) já delineia como a biologia pode ser usada em aplicações militares.

O governo dos Estados Uni­­dos deve considerar cuidadosamente o financiamento de pesquisas que podem vir a deixar es­­sa ques­­tão pouco clara, já que ou­­tros países, e adversários em potencial, podem seguir outro rumo e empregar a biologia de modo agressivo, de maneira certamente desagradável.

Proceder sem refletir adequadamente sobre os riscos mina quatro décadas de consenso mo­­ral internacional sobre o uso apropriado da biologia. Além de ameaçar nossa segurança nacional.

Ao escrever isso, nós nos perguntamos em que momento os usos apropriados da biotecnologia se tornam inadequados. Tra­­ta-se de uma linha mutável que pode estabelecer a categoria in­­satisfatória do "você sabe que al­­go é inadequado quando esse algo se manifesta".

Se, como sociedade, nós nos educarmos sobre o potencial da tecnologia e acompanharmos ativamente o seu desenvolvimen­­to, não seremos capazes de saber exatamente onde fica essa linha, mas com vigilância e diálogo, conseguiremos reconhecer pesquisas capazes de atravessá-la.

Armas ecológicas, biologia sintética e direito internacional. No ano passado, quando o exército dos Estados Unidos divulgou ima­­gens de um avião não tripulado que tinha o tamanho e a forma de um beija-flor zumbindo em um estacionamento, toda a mídia entrou em polvorosa.

A revista Time dedicou até mesmo uma capa para o assunto. Enquanto isso, sem fazerem alarde algum – apesar de anunciarem um enorme potencial para re­­modelar a guerra moderna – os militares emitiram um edital para que cientistas encontrassem formas de produzir explosivos para armas à base de micróbios.

Imagine uma cuba de levedura geneticamente modificada que gera produtos químicos para bombas e mísseis em vez de cerveja.

O edital se beneficia de novas pesquisas na área da biologia sin­­tética, uma ciência que aplica princípios da engenharia à ge­­nética.

Os cientistas possuem certo crédito humanitário por terem, durante a curta existência desse campo, programado bactérias e leveduras geneticamente para produzir combustíveis verdes pa­­ra jatos (atualmente sendo submetidos a testes por fabricantes de aviões de grande porte) e medicamentos contra a malária (cujo lançamento no mercado está previsto para 2013).

Trata-se de um começo auspicioso para uma ciência que prenuncia revolucionar a forma co­­mo fazemos as coisas. No futuro, poderemos fazer com que as cé­­lulas se juntem para constituir ob­­jetos muito mais complexos, como baterias de telefone celular, ou se comportem como mi­­núsculos computadores programáveis. Tal promessa, entretanto, apresenta também riscos.

As técnicas que fazem da biologia sintética uma ferramenta tão poderosa para inovar de mo­­do positivo podem ser usadas tam­­bém para destruir. A nova pesquisa dos militares em busca de explosivos biologicamente modificados ameaça reinaugurar um ramo de pesquisa que foi deixado de lado por 37 anos: a biotecnologia desenvolvida em função da guerra.

No mês passado, os governos que ratificaram a Convenção das Armas Biológicas e Tóxicas – o acordo internacional que baniu as armas biológicas – reuniram-se em Genebra para rever e atualizar o acordo. Como esperado, eles discutiram as redes terroristas e criticaram os países malfeitores acometidos pela doença do armamentismo. Mas eles também falaram das ciências emergentes e de como elas po­­deriam ser usadas para criar no­­vas ameaças.

Como as conferências que re­­visam a Convenção de Armas Bio­­lógicas (BWC) ocorrem apenas uma vez a cada cinco anos, essa ainda foi a segunda vez que a biologia sintética foi debatida como tópico.

Ao reconhecer o rápido progresso científico que está em curso, os participantes concordaram em reunir especialistas anualmente para monitorar os novos desenvolvimentos tecnológicos em relação à convenção.

Foguetes

Enquanto alguns setores do go­­verno têm se mostrado cautelosos, o Ministério da Defesa dos Es­­tados Unidos tem sido mais as­­sertivo ao apresentar suas in­­ten­­ções. Um edital de pesquisa desse ministério, por exemplo, solicita que biólogos sintéticos criem explosivos e combustíveis mais ecológicos para foguetes. Na "de­­claração de necessidade" de tal edital, o Programa Estratégico de Pesquisa e Desenvolvimento Am­­biental (SERDP), que procura tornar o serviço militar mais ecológico, argumenta que o uso de mi­­cróbios poderia eliminar os solventes de metais pesados e tóxicos na produção de explosivos convencionais.

Aparentemente, o projeto de criar armas de guerra mais ecológicas parece algo benigno, até mesmo benéfico, mesmo que um pouco incongruente. Mas a medida extrapola os limites definidos pela BWC em 1975 e reafirmados pelo governo dos EUA muitas vezes desde então.

O Artigo 1.º da BWC afirma que os signatários não devem produzir ou possuir agentes mi­­crobianos ou outros agentes biológicos "que não têm justificativa para propósitos profiláticos, cautelares ou pacíficos". Como os explosivos produzidos à base de micróbios em si não seriam armas, eles não aparentam violar a convenção. Dito isso, como parte da cadeia de produção e meio para confeccionar componentes de armas, eles também não se qualificariam como tendo "fins pacíficos".

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