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O alto comando militar da Bolívia disse nesta quarta-feira que entregará à Justiça os arquivos das ditaduras, um passo que poderá ser decisivo para revelar o paradeiro de dezenas de políticos de esquerda desaparecidos no último meio século no país.

"O comando das Forças Armadas do Estado Plurinacional enviará toda a informação ao senhor promotor em 26 de fevereiro", disse o chefe militar boliviano, general Ramiro De la Fuente, segundo a agência estatal de notícias ABI.

É a primeira vez que a cúpula militar do país aceita publicamente entregar documentos que, segundo ativistas de direitos humanos, facilitariam a localização de restos mortais de líderes como o militante socialista Marcelo Quiroga Santa Cruz, supostamente assassinado durante um golpe de Estado de 1980.

Anteriormente, o promotor Milton Mendoza, que chegou a ir ao quartel-general de La Paz para receber os documentos, disse que somente teve acesso a um escritório onde lhe informaram que haveria recurso à sentença judicial.

"Para nós é um despropósito, porque a ordem judicial era que a entrega dessa documentação se faça na promotoria", disse Mendoza a jornalistas, acrescentando que os comandantes militares lhe disseram que só cogitariam a possibilidade de enviar alguns documentos a um juiz.

O general De la Fuente sugeriu que o promotor pode não ter entendido a situação e garantiu que o comando militar entregará os documentos, embora não imediatamente, devido ao fato de que é necessário "organizar esses arquivos enormes", indicou a ABI.

Ele acrescentou que a entrega só será feita se o Ministério Público conduzir a investigação em segredo.

A decisão de abrir os arquivos, tomada na semana passada pelo juiz Roger Velarde a pedido de Mendoza, se baseia na nova Constituição boliviana, de 2009, que exige transparência nas informações públicas.

Familiares de vítimas das ditaduras e outros ativistas que aplaudiram a ordem judicial como "um grande passo" não esconderam a decepção com a fracassada visita do promotor à sede militar.

Quase cem militantes de esquerda, segundo entidades de direitos humanos, desapareceram durante as várias ditaduras que governaram a Bolívia entre 1964 e 1982. Em alguns casos, houve coordenação com outros regimes militares da região para a repressão aos dissidentes.

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