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Ex-comandantes das Forças Armadas uruguaias reconheceram na quinta-feira os crimes cometidos pela ditadura militar instalada no país entre 1973 e 1985.

No entanto, eximiram-se da responsabilidade pelos supostos excessos cometidos por alguns militares, entre os quais o seqüestro da neta do poeta Juan Gelman, nascida no cativeiro, em Montevidéu, em 1976.

A carta, na qual os ex-comandantes reconhecem que oficiais envolvidos em crimes agiram cumprindo ordens de comandantes militares, foi assinada por nove oficiais que chefiaram as Forças Armadas depois do retorno da democracia e pelo último presidente do governo ditatorial, Gregorio Alvarez.

- Nós, militares, somos responsáveis por tudo o que nossos subordinados fazem. (Mas) Pedir perdão, não. Antes cair de costas do que de joelhos - disse Alvarez a jornalistas.

A declaração dos militares, divulgada na quinta-feira em meios de comunicação do país, não especifica os crimes de que trata e surge no momento em que alguns militares da reserva e um ex-policial estão detidos após um pedido de extradição feito pela Argentina, devido ao seqüestro de María Claudia García.

García, nora de Gelman, foi levada de Buenos Aires em 1976.

Essa é a primeira vez desde o fim da ditadura que integrantes das Forças Armadas manifestam-se sobre investigações relacionadas com as vítimas do regime militar. E é a primeira vez também que militares são detidos no país devido a esses crimes.

- Em um momento no qual as coisas estão tão complicadas, entendemos que seria adequado dizer que fomos responsáveis pelo que aconteceu. Esse

é o espírito (da declaração). Dizer que somos os responsáveis - afirmou o ex-comandante Raúl Mermot a uma rádio de Montevidéu.

- Se alguma ação não corresponde a um plano ou não responde a uma ordem precisa, então não somos responsáveis. O excesso é outra coisa. Isso ocorre por conta de quem o cometeu e será julgado - respondeu Mermot, quando questionado sobre os casos como o da neta de Gelman.

Apesar de reconhecer os crimes, os militares criticaram as extradições, argumentando que os fatos do passado estão cobertos pela lei de anistia aprovada nos anos que se seguiram ao fim da ditadura.

Essa lei proíbe o julgamento de policiais e militares acusados de violações dos direitos humanos durante o regime autoritário e foi usada por governos democráticos anteriores para barrar as investigações sobre o paradeiro de vítimas da repressão.

Mas o atual presidente do país, Tabaré Vázquez, um político de esquerda empossado em março de 2005, excluiu vários casos da lei, porque os crimes aconteceram na Argentina, onde o perdão não vigora.

María Claudia García foi seqüestrada em Buenos Aires quando estava grávida e levada clandestinamente para Montevidéu, onde deu à luz uma menina. Segundo o Exército, a jovem argentina acabou sendo assassinada logo depois e enterrada em uma área da Forças Armadas.

Mas os militares argumentam que o seu desaparecimento não obedeceu a uma ordem dada em meio à luta contra a guerrilha e que se tratou de uma operação ilegal para tirar-lhe a criança.

No Uruguai, desapareceram cerca de 30 pessoas, de um total de 180 seqüestradas em operações conjuntas pelos regimes ditatoriais que governavam a América Latina na década de 1970.

Centenas de uruguaios ficaram detidos durante anos, alguns por mais de uma década, sob a acusação de pertencer a grupos guerrilheiros de esquerda ou de apoiá-los. Milhares partiram para o exílio.

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