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Samuel Ávalos, um dos 33 mineiros que ficaram presos por 69 dias na mina San José, no Chile, revelou que o grupo cogitou praticar o canibalismo para não morrer de fome durante os primeiros 17 dias de confinamento.

A declaração foi dada durante uma entrevista para um documentário produzido pela TV Nacional do Chile e pela BBC, e transmitida pela emissora local neste domingo (9), três dias antes do primeiro aniversário do resgate dos "33", como os mineiros ficaram conhecidos mundialmente.

O filme - que foca nos primeiros 17 dias após o desabamento na mina, quando não se sabia se os trabalhadores estavam vivos ou mortos - foi muito esperado devido ao acordo que os mineiros fizeram para não revelar o que tinha acontecido naquela época.

Ávalos contou que ele e seus companheiros conseguiram se refugiar no fundo da mina quando o desabamento começou. Lá permaneceram em uma espécie de um pequeno abrigo de pedra, com uma mesa e uma caixa que deveria ter alimentos suficientes para que todos pudessem se alimentar por, pelo menos, dois dias.

No entanto, os mineiros encontraram apenas alguns pacotes de biscoitos, leite e poucas latas de peixe. No início, segundo Ávalos, eles comiam todos os dias, mas quando perceberam que o resgate demoraria, racionaram ao máximo as porções.

Segundo Ávalos, alguns mineiros, à beira da inanição, chegaram a pensar em comer o colega que morresse primeiro. "Na situação em que estávamos, o que caísse primeiro. Os demais iam chegar ali igual a animais", disse Ávalos na entrevista.

No final dos primeiros 17 dias no fundo da mina, os mineiros só comiam uma colher pequena de peixe. Todos já tinham emagrecido e apresentavam dificuldades para caminhar. Também tinham problemas dentários e fungos na pele, porque o ambiente em que estavam era muito úmido e quente. Ávalos contou que os mineiros só não morreram de sede porque havia a água suja com a qual se resfriavam as máquinas. "Era apenas uma piada", afirma outro mineiro.

A história de que os mineiros tinham pensado em comer a carne de um colega havia circulado antes, mas sempre foi negada por muitos, como Omar Reygadas, que afirmou que o assunto foi apenas uma piada feita durante os primeiros 17 dias de confinamento, a 700 metros de profundidade.

Em nota enviada também neste domingo ao principal noticiário da TV Nacional, Reygadas disse que, na piada, o grupo falava em comer o mineiro Claudio Yáñez, porque ele estava mais magro do que os outros. "Era como comer uma pedaço de bicicleta, de tão magro", declarou.

A versão de Ávalos lembra o caso do voo do time de rugby uruguaio Old Christians, em 1972. Atletas, parentes e amigos, 45 pessoas no total, estavam no avião que caiu na cordilheira dos Andes. Apenas 16 sobreviveram por 72 dias sob frio rigoroso, mas para isso tiveram que recorrer ao canibalismo e comer carne de passageiros que morreram com o impacto da queda ou após agonizarem por vários dias.

A polêmica entrevista de Ávalos foi transmitida no mesmo dia em que um mineiro morreu e outro ficou ferido no desabamento de uma mina de ouro em Melipilla, a cerca de 70 quilômetros a noroeste de Santiago.

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