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Carros em chamas, emboscadas contra policiais, um ônibus queimado.

Um ano depois de enfrentar três semanas de distúrbios, a França volta a temer a violência nos subúrbios. A polícia está em alerta, e os moradores das periferias dizem que a pobreza e o desemprego podem fazer a violência explodir.

- Há semanas vemos uma escalada da violência - disse Frederic Lagache, do sindicato policial Alliance. - Temos a impressão de que algumas pessoas em bairros difíceis querem marcar o aniversário da violência de novembro de 2005 atacando a polícia.

Jovens queimaram carros no fim de semana em Grigny, periferia de Paris, reavivando as lembranças dos distúrbios do ano passado, os piores em 40 anos, que começaram num subúrbio da capital e se alastraram pelo país.

O ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, considerado o favorito para ser o candidato conservador à Presidência no próximo ano, reiterou neste mês a linha-dura que adotou depois dos incidentes de 2005, dizendo que jovens infratores sofrerão punições mais pesadas.

Mas muitos jovens acusam Sarkozy de usá-los como bode expiatório, sem combater as causas da criminalidade, como a pobreza e a discriminação -- imigrantes e seus filhos compõem grande parte da população dos subúrbios.

A provável candidata socialista à Presidência, Ségolène Royal, também chama a atenção mais por suas propostas de combate à criminalidade do que pelas de criação de emprego em bairros pobres.

- Não fizeram nada para nos integrar. A criminalidade não vai embora se não houver emprego - disse o camaronês Alain Roger, que consertava o carro de um amigo num estacionamento do subúrbio de La Courneuve, a apenas 30 minutos de carro da torre Eiffel e do Parlamento.

- Em Paris, a nobreza manda. Aqui é o gueto - afirmou.

- Quando vêem o "9-3" no nosso endereço, você está fora - disse Cyril Nzok, também de Camarões, referindo-se aos algarismos do CEP que identificam os bairros violentos da zona norte da Grande Paris.

Nesses bairros, o desemprego freqüentemente atinge 40%, mais que o quádruplo da média nacional.

O ministro das Oportunidades Iguais, Azouz Begag, diz que o atual governo fez mais do que qualquer outro para combater a discriminação, organizando reuniões em todo o país para incentivar empresas a contratarem jovens de origens diversas.

- Agora cabe a cada francês exigir um tratamento igualitário - disse Begag, filho de argelinos, em recente entrevista à Reuters.

Formigas

Mas Sherifa Kasdi, que leciona francês a crianças e adultos imigrantes, disse que sua entidade não recebeu verbas ou ajudas extras desde os distúrbios de 2005, embora a procura por suas aulas esteja crescendo.

- Tivemos de rejeitar algumas pessoas neste ano, porque não conseguimos atender todas - disse Kasdi, sentada na pequena sala de aula que funciona no antigo refeitório de um condomínio popular.

- Faz frio aqui e não conseguimos comprar nem uma copiadora. Mas as aulas são cruciais para integrar as pessoas. Um menino que levanta e não tem nada para fazer, que vai mal na escola e não tem perspectiva de emprego. Isso tudo cria o cenário para futuros distúrbios - afirmou ela.

O prefeito de Clichy-Sous-Bois, epicentro dos confrontos do ano passado -- foi ali que dois jovens de origem africana morreram eletrocutados quando fugiam da polícia, desencadeando os protestos --, disse que os subúrbios precisam de projetos concretos, e não só de boas intenções.

Clichy carece, por exemplo, de uma linha de bondes, de escritórios de emprego e até de delegacia, de acordo com o prefeito socialista Claude Dilain.

- Todas as condições estão aí para explodir se as pessoas sentirem que nada mudou - disse ele à Reuters.

Mas, num lado mais otimista, ele afirma que o alistamento eleitoral aumentou em muitos subúrbios e que alguns jovens conseguem criar seus próprios empregos.

O argelino Kader Latreche, 36 anos, montou uma loja de conserto de câmeras em março em La Courneuve, e se orgulha de ter recentemente contratado duas pessoas.

- Prefiro trabalhar por conta própria a ser tratado como "o árabe" pelo patrão - disse ele. - Nosso maior problema é aquilo ali - afirmou, apontando para um conjunto habitacional de 15 andares. - Vivemos como formigas empilhadas.

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