• Carregando...
 | Sossella
| Foto: Sossella

Apenas Nijinsky provocava comoção similar

Lausanne – O século 20 foi marcado por artistas que revolucionaram a dança, e Maurice Béjart foi um deles, certamente o mais popular.

Com Béjart, a dança extrapolou as fronteiras dos teatros convencionais e passou a atingir multidões, seja em estádios gigantescos ou palcos ao ar livre. Outra marca foram os elencos masculinos, tão exuberantes quanto os femininos, o que gerou uma igualdade de sexos.

Quando lançou "A Sagração da Primavera’’, em 1959, ele conseguiu provocar uma comoção que, até então, havia-se experimentado somente em 1913, quando Nijinsky apresentou em Paris a sua ousada versão sobre a obra de Stravinsky. Béjart abriu as portas não só para a fundação do Ballet do Século 20, que ele passou a dirigir em Bruxelas, como também para a concepção de espetáculo total, que acabou influenciando gerações, inclusive no Brasil.

"O casal da "Sagração’ simboliza a união do céu e da terra, a dança de vida e morte, eterna como a primavera’’, escreveu o coreógrafo certa vez. Para Béjart, a dança era o único meio capaz de estabelecer um contato profundo entre povos de todas as raças. Imbuído de tais idéias, ele fundou em 1970, em Bruxelas, a escola Mudra, freqüentada por artistas do mundo inteiro, inclusive as brasileiras Juliana Carneiro da Cunha, que hoje integra o Théatre du Soleil, e Célia Gouvea.

Embora o brilho das produções tenha se esmaecido nos últimos tempos, ele marcou a cena brasileira em 1997 com "Le Presbytère n’a Rien Perdu de Son Charme, ni le Jardin de Son Éclat’’.

Lausanne – Uma das grandes referências da dança do século 20, o coreógrafo francês Maurice Béjart morreu ontem, aos 80 anos, em Lausanne, cidade suíça onde escolheu viver e trabalhar com sua companhia nas últimas duas décadas.

O artista, que se projetou mundialmente ao revigorar a dança clássica com audácia, mas sem deixar de lado a técnica do balé, vinha enfrentando problemas cardíacos e renais. Na semana passada, Béjart fora internado no hospital universitário de Lausanne pela segunda vez em um mês, alegando muito cansaço.

Mesmo doente e acamado, ele passou os últimos dias envolvido com os detalhes daquela que será sua derradeira criação para a companhia que leva o seu nome – a Béjart Ballet Lausanne, fundada por ele na Suíça, depois de ter dirigido o Balé do Século 20, em Bruxelas, de 1960 a 1987.

O espetáculo "A Volta ao Mundo em 80 Dias’’ tem estréia marcada para o próximo dia 20 de dezembro, em Lausanne, seguindo em fevereiro para Paris, a primeira parada de uma turnê mundial.

"Estamos muito chateados mas o show vai continuar’’, disse o porta-voz da companhia, Roxanne Aybek, confirmando a première do balé.

Nascido em Marselha em 1927, filho de um filósofo, Maurice Berger começou a dançar ainda rapaz, por indicações médicas. Não demorou muito para que se apaixonasse e decidisse tornar as sapatilhas um projeto profissional.

Ao mudar-se para Paris, para aprofundar-se nos estudos do balé clássico, ele também escolheu o pseudônimo que o projetaria em todo mundo. Béjart foi uma homenagem a Molière, cuja esposa se chamava Armande Béjart.

Em cinco décadas de criação, o coreógrafo, dono de profundos olhos azuis, montou um acervo de cerca de cerca de 250 coreografias, que espelharam em muito suas paixões e interesses, como o esoterismo, o amor por culturas diversas e misturas artísticas. Um caldeirão cultural que tem como mérito ter conseguido atrair uma platéia das mais ecléticas, em todo o mundo.

Entre os hits coreográficos que deixou inscritos na dança do século passado, estão "Bolero’’, com música de Ravel dançado por bailarinos homens, e a sua versão para "A Sagração da Primavera’’. Além de criações para as companhias que fundou ao longo da vida, fez trabalhos com superstars da dança, como Suzanne Farrell, Sylvie Guillem, Jorge Donn e Rudolf Nureyev.

Béjart e suas companhias estiveram no Brasil diversas vezes, a partir da década de 70. A última vez foi em 2003, com a turnê de "Madre Tereza e as Crianças do Mundo’’, na qual Béjart se uniu seu talento com o da brasileira Márcia Haydée. A bailarina era a estrela do espetáculo de estréia da Compagnie M, outra criação do coreógrafo, desta vez com jovens talentos de diferentes partes do mundo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]