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Raúl Alfonsín, em foto de maio de 1989: retorno à democracia e crise econômica | Reuters
Raúl Alfonsín, em foto de maio de 1989: retorno à democracia e crise econômica| Foto: Reuters

Buenos Aires - Raúl Alfonsín, o presidente que liderou a Argentina no retorno à democracia na década de 1980, após sete anos de um brutal regime militar, mas não conseguiu evitar uma profunda crise econômica, morreu ontem, aos 82 anos. Ele tinha câncer de pulmão e sofria de pneumonia.

Alfonsín morreu em casa, em Buenos Aires, disse o médico Alberto Sadler, que tratava do ex-presidente e acompanhou o agravamento do estado de saúde dele nos últimos dias.

A última aparição pública do ex-presidente havia sido em outubro passado, quando foi à inauguração de um busto com sua imagem no salão da Casa Rosada, sede do governo argentino, que lembra os ex-presidentes do país, homenagem comandada pela atual chefe de Estado, Cristina Kirchner.

Alfonsín foi presidente de 1983 a 1989 e ganhou admiração internacional por levar a julgamento e prisão ex-líderes militares que torturaram e mataram milhares de supostos esquerdistas, no que ficou conhecido como "guerra suja".

O ex-governante, principal nome da centenária União Cívica Radical (UCR), hoje na oposição, foi o grande ausente nos festejos pelos 25 anos da redemocratização argentina, celebrados em 30 de outubro de 2008.

Numa era repleta de breves períodos democráticos interrompidos por golpes militares, Alfonsín foi um dos fundadores da Assembleia Permanente pelos Direitos Humanos (APDH), pioneira na luta contra o autoritarismo e a repressão ilegal. Além disso, o líder radical conseguiu algo que poucos de seus correligionários conseguiram: vencer nas urnas o Partido Justicialista (PJ, peronista), nas eleições que marcaram o fim da ditadura.

Apesar de ter enfrentado obstáculos e pressões para consolidar a democracia na Argentina, Alfonsín conseguiu com que, em 1985, fosse realizado um histórico julgamento, que terminou com duras penas para os hierarcas do regime que seqüestrou, torturou e fez desaparecer milhares de pessoas.

Em virtude do avanço nas investigações sobre os crimes cometidos nos chamados "anos de chumbo", o governo de Alfonsín enfrentou rebeliões e levantes militares, que foram sufocadas por tropas leais e com a presença popular nas ruas.

O presidente do Senado brasileiro e ex-presidente da República, José Sarney, destacou ontem o papel desempenhado por Alfonsín no processo de integração entre os países da América Latina.

Sarney e Alfonsín assumiram a presidência de Brasil e Argentina depois de períodos de ditaduras militares nos respectivos países e deram início a um processo de aproximação diplomática que, anos mais tarde, seria uma das bases da formação do Mercosul. Alfonsín foi "o homem que abriu, com sua coragem, a integração latino-americana", afirmou Sarney.

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