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| Foto: JEAN-PIERRE MULLER/AFP

O ex-secretário-geral das Nações Unidas Boutros Boutros-Ghali, que esteve à frente do organismo mundial entre 1992 e 1996, morreu, informou nesta terça-feira (16) a presidência do Conselho de Segurança. “Fomos informados que o ex-secretário-geral Boutros Boutros-Ghali faleceu”, afirmou Rafael Ramírez, embaixador da Venezuela, que preside este mês o Conselho de Segurança.

Intelectual brilhante, francófono e francófilo, Ghali foi o primeiro africano secretário-geral da ONU e que se apresentava como um “forte defensor do Terceiro Mundo”.

Nascido em 14 de novembro de 1922 no Cairo, ele veio de uma importante família da minoria cristã copta do Egito, casado com uma judia de uma família de renome de Alexandria (norte).

Muito ligado aos franceses, língua que falava perfeitamente, este professor de direito, grande conhecedor das relações internacionais, foi escolhido em 1992 para dirigir as Nações Unidas, com o apoio da França. Naquela época, tropas iraquianas acabavam de ser expulsas do Kuwait após a primeira Guerra do Golfo, mas o novo secretário-geral não cedeu à celebração dominante.

Ele previu que o mundo atravessaria, por um longo tempo, uma fase de transição, cheia de incógnitas e perigos.

No final de 1996, ele teve que deixar a direção da ONU após os Estados Unidos travarem uma verdadeira batalha contra a sua reeleição. O mundo anglo-saxão não queria mais ver à frente da organização internacional uma pessoa que considerava “o homem da França.”

Os Estados Unidos de Bill Clinton, apoiados pela Grã-Bretanha de John Major, reprovavam Boutros, além de seus amigos franceses, pelo fracasso da ação das Nações Unidas na Somália no final de 1993, e a impotência relativa da organização na guerra da antiga Iugoslávia e no genocídio em Ruanda.

Boutros-Ghali passou a se dedicar a escrever suas memórias e sua candidatura ao cargo de secretário-geral da Francofonia. Navegando incansavelmente pela África francófona, tentou convencer os chefes de Estado da validade de sua candidatura contra a de seu principal rival, o ex-presidente do Benin, Emile Derlin Zinsou.

A francofonia mundial desejava se dotar de um porta-voz político de envergadura que pudesse falar de igual para igual com os líderes de organizações internacionais existentes: Nações Unidas, Commonwealth, Liga Árabe, a ASEAN ou UNESCO.

Ele conquistou o cargo em 1997 e manteve-se como secretário-geral até 2002.

Seu currículo impressiona: neto de um primeiro-ministro egípcio assassinado em 1910 por um nacionalista por abrir seu país ao Ocidente, formado em Ciência Política e doutor em Direito em Paris, em 1948, professor na Universidade de Cairo, jornalista do poderoso jornal Al Ahram, foi membro, durante 14 anos, do governo egípcio sob o presidente Anwar Sadat.

Ele foi, frente ao ministro das Relações Exteriores israelense Moshe Dayan, um dos principais negociadores do tratado de paz egípcio-israelense iniciado em Camp David em 1978 e assinado em 1979.

Em 1977, foi quem redigiu o discurso histórico pronunciado pelo presidente egípcio da época, Anwar Sadat, no Knesset, o Parlamento israelense. Mas precisou ser deve ser auxiliado por um colega para escrever em inglês.

“O inglês é a minha terceira língua, depois do árabe e do francês”, confessou em suas memórias este que grande amante do idioma francês.

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