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Mais de 30 anos depois de ser torturado brutalmente pela polícia secreta de Augusto Pinochet, Pedro Matta afirma que a morte do ditador não vai curar as suas feridas nem as do Chile.

Pinochet morreu no domingo, aos 91 anos, arrancando lágrimas de seus admiradores e aplausos das vítimas de um regime (1973-90) que deixou mais de 3.000 mortos e desaparecidos.

``Minha primeira reação à sua morte foi de indignação'', disse Matta, que afirma ter implorado para ser morto em 1975, enquanto agentes da Dina (policia política do regime) o torturavam na tristemente célebre prisão de Villa Grimaldi.

Matta se sente frustrado porque Pinochet nunca foi condenado pela violência do seu regime. Em setembro, a Corte Suprema do Chile havia autorizado que o ditador fosse julgado por homicídios, torturas e outros abusos cometidos em Villa Grimaldi - o caso de Matta seria parte desse julgamento.

``Meu caso da Villa Grimaldi foi encerrado às 14h de ontem, no momento em que Pinochet morreu'', disse Matta, que, ao saber da notícia, decidiu passar a noite de domingo no memorial construído no terreno onde ficava a prisão, na zona leste da capital.

O governo documentou 28 mil casos de tortura durante a ditadura, e alguns militares já foram condenados por isso.

Pinochet perdeu sua imunidade de ex-presidente e desde 2000 foi indiciado várias vezes, mas sempre conseguiu escapar alegando problemas de saúde e senilidade.

A própria presidente do país, Michelle Bachelet, chegou a ser torturada em Villa Grimaldi, junto com sua mãe, antes de ambas partirem para o exílio.

Tito Tricot, que teve a coluna fraturada por agentes de Pinochet durante uma sessão de torturas, disse ter sentimentos contraditórios sobre a morte.

``Estou contente porque o ditador que deu a este país sua mais longa noite, uma noite de violência, tortura e desaparições, está morto'', disse Tricot, que ao todo passou três anos detidos durante o regime militar.

``Também estou envergonhado, porque Pinochet nunca passou um dia na prisão, nunca foi julgado'', afirmou ele à Reuters.

Muitos consideram que o Chile não conseguirá fechar totalmente suas feridas enquanto houver vítimas e perpetradores vivos.

Dezenas de membros do regime, inclusive um ex-chefe do serviço secreto, estão presos, e centenas de outros ex-funcionários estão sob investigação ou já foram indiciados.

Para Matta, cada batalha jurídica ajuda a eliminar a dor da ditadura, mas as cicatrizes permanecerão durante algumas gerações. ``A imagem e a sombra de Pinochet provavelmente ainda se estenderão durante muitos anos, até que os filhos das vítimas tenham falecido.''

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