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Uma semana depois da morte do papa Francisco, o governo da China nomeou dois bispos católicos por conta própria.
A informação é do Instituto Pontífico Missões Exteriores, fundado em 1850 e ligado ao Vaticano. Citando fontes locais, a organização afirmou que o regime comunista de Pequim elevou dois sacerdotes católicos no fim de abril.
O processo envolve uma simulação de escolha democrática. Em Xangai, sacerdotes e representantes das freiras e dos fiéis foram convocados para ratificar a nomeação de Wu Jianlin como novo bispo auxiliar. Na Diocese de Xinxiang, o mesmo aconteceu com o padre Li Janlin.
As relações entre o Vaticano e o governo chinês são complexas. A nomeação de autoridades católicas é um processo em que, na prática, passa por ambos. O governo seleciona a dedo um candidato único, que depois passa pelo aval de membros locais da Igreja — sob a influência de agências do regime. O nome é, só então, enviado ao papa, que decide se confirma a escolha.
O sistema tem funcionado desde 2018, quando o Vaticano e o regime comunista firmaram um acordo sobre o processo de nomeação de bispos. O acordo, cujo teor completo nunca veio a público, foi renovado em 2024. No anúncio, feito em outubro, a Santa Sé afirma que "o Vaticano continua dedicado a promover o diálogo respeitoso e construtivo com a China em vista do desenvolvimento das relações bilaterais em benefício da Igreja Católica na China e do povo chinês como um todo".
Além de ter provocado críticas internas dentro da Igreja, o acordo também gerou questionamentos de organizações pró-democracia. Em setembro do ano passado, a Human Rights Watch divulgou um comunicado em que lembra o longo histórico de abusos contra a liberdade religiosa cometidos pelo regime comunista da China. "Ao renovar um acordo sigiloso com Pequim, o Vaticano está, na prática, endossando a deturpação das religiões pelo governo chinês e está perigosamente próximo de se tornar cúmplice das crescentes violações de direitos no país", afirma a nota.
As nomeações feitas pelo governo chinês indicam que o regime comunista não quis esperar a nomeação de um novo papa para dar prosseguimento ao sistema atual.
O sistema de nomeação de autoridades na Igreja Católica da China é único. Em outros países, a escolha dos bispos é feita diretamente pelo papa, e não depende do governo local.
Por causa da interferência do regime de Pequim na Igreja, a China também possui uma "igreja subterrânea”, que funciona às escondidas por não reconhecer as autoridades indicadas pelo regime comunista.