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Os movimentos sociais dos menos favorecidos, desempregados e as assembléias populares, que eclodiram em 2001 devido à grande crise argentina, perderam tanta força que hoje se espera que seu peso seja mínimo nas eleições presidenciais de domingo.

"Estes movimentos sociais tinham uma vitalidade muito grande e hoje não têm uma gravitação real e foram se dissolvendo. Tornaram-se expressões marginais, sem incidência na vida política", afirmou à AFP o sociólogo e cientista político Atilio Borón.

Borón disse que "houve na Argentina um fracasso dos movimentos populares já que eles não tiveram capacidade de transformar a realidade", o que diferenciou de outras experiências.

"Os presidentes Evo Morales na Bolívia e Rafael Correa no Equador são impensáveis sem os movimentos sociais", garantiu o analista, que dirige um Programa Latino-Americano de Educação a Distância em Ciências Sociais.

Pouco ficou das formas de organização que inspiraram um documentário sobre a Argentina da militante antiglobalização canadense, Naomi Klein.

"A Argentina é um laboratório da democracia. É uma fonte de inspiração para todos os ativistas e creio que aqui não há consciência disso. Eles não percebem o quanto podem mobilizar, estão nos devolvendo a coragem", tinha declarado entusiasmada Klein em uma entrevista.

Mas desde então, as manifestações foram se transformando em parte habitual da paisagem de Buenos Aires, diante de pessoas que se mostravam mais irritadas para que as marchas não atrapalhassem o trânsito engarrafado, do que comovidos com a pobreza.

Depois da assunção do presidente Néstor Kirchner em maio de 2003, várias organizações que tinham incluído e organizado milhões de excluídos do sistema, se alinharam com o governo.

"O desemprego e a pobreza continuam estando ali, mas houve uma política muito astuta de cooptação dos movimentos por parte do governo, através das políticas sociais", afirmou Borón.

Um milhão e meio de pessoas recebem atualmente seguro-desemprego de 150 pesos (47 dólares), cerca de 500.000 menos que em 2002, quando a Argentina registrou uma queda do PIB de 10,9%, um desemprego recorde de 21,5% e um índice de pobreza de 60%.

Depois de 50 meses de crescimento, os índices melhoraram sensivelmente, com 8,5% de desemprego e 23% de nível de pobreza, apesar de estes índices oficiais serem questionados em sua credibilidade.

No entanto, ainda existe um núcleo mobilizado, que reclama uma maior equidade social, mas alguns destes dirigentes têm aspirações políticas, como o troskista Néstor Pitrola e o independente Raúl Castells, que figuram entre os 14 candidatos para as presidenciais de 28 de outubro.

"O governo se apoderou do discurso das assembléias e dos piqueiteros e comprou dirigentes, além disso, há uma debilidade muito grande das organizações", disse à AFP Rubén Saboulard, candidato a deputado do ignorado partido Asambléias Populares, com apenas 1.200 filiados sobre 27 milhões de eleitores.

Pouco ficou das assembléias nascidas pela indignação da classe média afetada pelo bloqueio de depósitos bancários, que promoviam manifestações capazes de lotar a Praça de Maio, diante do Palácio do Governo, em dezembro de 2001, e obrigaram ao presidente Fernando De la Rúa a abandonar o poder e fugir de helicóptero.

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