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As propostas de Hosni Mubarak são, obviamente, inaceitáveis para o povo egípcio. O discurso do presidente foi um poderoso lembrete da capacidade única que os ditadores possuem de se enganarem e se verem como indispensáveis.

Se Mubarak acha que um tom mais moderado irá lhe render algum tipo de apoio, ele está delirando. Durante o tempo em que o presidente discursava, a multidão na Praça Tahrir gritava "Irhal!" ou "Vá embora!". Além disto, a mídia egípcia – desde o canal de tevê estatal até o Al Ahram, o principal jornal do país – se viraram contra o presidente, o que demonstra que ele perdeu o controle até mesmo de seu próprio aparato estatal.

Meu amigo árabe, que já se encontrou com Mubarak inúmeras vezes, o descreve como "velho teimoso", e este parece ser exatamente o problema agora. Suleiman também discursou, rasgando elogios ao presidente, pedindo para que a juventude egípcia vá para casa e pare de assistir tevê via satélite. Única conclusão possível: Suleiman também está delirando.

Foi interessante ver Mubarak apelando para o nacionalismo e culpando forças externas (obviamente os EUA) por quererem que ele seja deposto. Esta estratégia não vai dar certo, mas é na verdade benéfica aos EUA, visto que dá crédito aos americanos por ficarem do lado do povo, crédito este que creio ser desmerecido.

Meu palpite é de que veremos demonstrações massivas em muitas cidades – não apenas no Cairo – nesta sexta, dia tradicional para protestos. Na verdade, Mubarak e Suleiman acabaram de insultar a inteligência do povo egípcio – e pagarão por isso. O regime conseguiu aumentar a fúria dos protestantes, e isto pode ser visto como suicídio.

Estou preocupado por saber que iremos ver cenas de violência. As pessoas estão ficando frustradas, e os policiais estão ficando assustados. O Exército também está dando sinais de impaciência e há indícios de que um possível golpe esteja sendo armado. Entretanto, dentro do contexto egípcio, o que significaria um golpe? O regime de Mubarak é altamente militarizado, mas disfarçado com trajes civis: Mubarak, o vice-presidente, Omar Suleiman e tantos outros – incluindo governadores regionais – são homens com carreira militar. Logo, se o Exército tomar o poder, o que seria diferente?

Para mim, o discurso de ontem é um lembrete de quão intrincados são os poderes no Egito. Os egípcios estão com seu estilo de vida – e bilhões de dólares – em risco, e não irão desistir tão facilmente de derrubar o atual regime. Acredito que eles conseguirão, de alguma forma, se ver livres de Mubarak, mas mesmo após conseguir isto eles correm o risco de manter o mubarakismo sem Mubarak. Isto pode ficar ainda pior, mas certamente será histórico.

Tradução: Thiago Ferreira

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