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Apesar de a multidão que sai às ruas do Egito desde terça-feira pedir em coro a queda do ditador Hosni Mubarak, há 30 anos no poder, as únicas medidas adotadas por ele até o fechamento desta edição, ontem, haviam sido a dissolução do gabinete, a nomeação de um novo premier e o retorno da fi­­gura de vice-presidente, abolido quando chegou ao cargo.

Com isso, Mubarak deu mostras de que o intenso levante pode culminar apenas em reformas "cosméticas". A avaliação é do professor de Direito Internacional da Fundação Getúlio Vargas Salem Nasser. "A questão é saber se as prometidas reformas serão uma espécie de cala-boca do povo, com algumas concessões para aplacar os protestos e garantir a permanência do regime", disse à Gazeta do Povo.

Uma indicação de continuísmo é o fato de o novo vice, Omar Suleiman, ter sido chefe do serviço de inteligência do país. Outra foi dada pelos discursos do presidente americano Barack Obama e da secretária de Estado Hillary Clin­­ton, na sexta-feira. Ambos pediram a realização de reformas – mas sem exigir a saída do ditador, há três décadas no poder.

Ainda é uma incógnita se as massas que gritam pela queda do presidente aceitarão algo menos do que isso. Até o fechamento desta edição, o presidente mantinha seu cargo.

"Quando estive no Cairo, eu disse que todo governo deve ser mantido pelo consenso, não pela coerção. Dias difíceis virão, mas os EUA continuarão a ser parceiros do Egito", disse Obama, referindo-se a seu histórico discurso na capital egípcia, no início de seu mandato.

Mesmo a convocação de novas eleições poderia se tornar apenas uma medida cosmética se a tradição de amplas fraudes for mantida. E um novo pleito não resolveria o problema da repressão.

"Uma reforma profunda precisaria adotar tudo o que significa democracia: liberdade de imprensa, de organização, não repressão de movimentos sociais", diz o professor de Relações Internacionais da PUC-SP Reginaldo Nasser.

Nem que seja só um gostinho disso tudo, conforme Asmaa Mahfouz, de 25 anos, um dos organizadores das manifestações desta semana. "Todos nós queremos pelo menos uma mínima abertura democrática e um padrão de vida confortável, além de algum tipo de justiça na distribuição da renda."

Dado o vigor dos protestos, o presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná, Jamil Iskandar, se diz otimista quanto aos rumos da política egípcia. "Pode até ser que a situação volte ao que era antes, mas não será por muito tempo", diz. "Haveria manifestações muito mais graves, que poderiam se tornar muito mais sangrentas."

Isso porque, tendo visitado diversas vezes o país do norte da África, Iskandar é categórico ao falar da pobreza em que se encontra o grosso da população: "O Brasil é um paraíso de primeira linha perto do Egito, onde o povo vive muito mal."

O cenário piora quando a economia em ruínas está imersa em autoritarismo. "A polícia é brutal. As eleições, fraudadas. A corrupção está disseminada. A vida se torna mais difícil para as massas na medida que os ricos ficam mais ricos e os pobres, mais pobres. Mesmo com a economia egípcia crescendo nos anos recentes, o número de pessoas vivendo na pobreza até aumentou", escreveu Michael Slackman para o New York Times.

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