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Rio de Janeiro - O movimento que levou à queda do ditador egípcio Hosni Mubarak foi causado por uma explosão de forças sociais organizadas, nas quais se destaca o papel das mu­­lheres: estudantes, microempresárias, operárias e a ala feminina da Irmandade Muçulmana.

É o que afirma Paul Amar, professor da Universidade da Califór­­nia em Santa Bárbara, que morou no Egito nos anos 90 e desde então passa dois meses por ano no país árabe.

Organizador do livro Cairo Cos­­mopolita (2006), Amar co­­nhece lí­­deres dos protestos, in­­cluindo Asmaa Mahfouz, do Mo­­vimento Jovem 6 de Abril, que agrega ativistas e sindicalistas.

A interpretação de Amar vai contra a tese de que o Egito não é solo fértil para a democracia. Ele define a revolta como a "busca de um projeto de desenvolvimento nacional’’, com um "capitalismo menos predador’’.

Amar também contesta os que viram ali obra da mídia social virtual. Conta que os sócios dos cy­­bercafés egípcios são em geral jovens. "A chamada revolução Face­­book não é sobre pessoas se mobilizando no espaço virtual. É sobre os cybercafés e as pessoas que eles representam, em espaços e comunidades reais’’, diz.

Para o professor, a revolta está associada a efeitos das reformas liberais promovidas por Mubarak nos anos 90 e da ascensão de no­­vas potências econômicas.

Investimentos de países como China, Rússia e Brasil reativaram a indústria manufatureira (a Mar­­copolo é sócia de uma empresa local na produção de ônibus).

Nas fábricas, surgiu um movimento sindical independente, que pede aumento do salário mí­­nimo do equivalente a R$ 124 para R$ 375.

Ao mesmo tempo, para compensar cortes salariais e no funcionalismo, houve estímulo à abertura de microempresas, muitas delas subcontratadas por companhias maiores.

"Nos conjuntos habitacionais na periferia do Cairo, você verá oficinas cheias de mulheres fa­­zendo bolsas e sapatos, montando brinquedos e circuitos de com­­putadores, para venda na Euro­­pa, no Oriente Médio e no golfo Pérsico’’, diz.

Essa dinâmica acentuou divisões na Irmandade Muçulmana, mais antigo grupo do país. Jovens e mulheres (as Irmãs da Irman­­dade) se afastaram da velha guarda, que inclui parte da elite econômica e havia sido cooptada por Mubarak.

A queda do ditador foi selada por pressão do Exército, mas Amar diz que a manobra não deve ser confundida com golpes militares clássicos, como os da América Latina no século 20. Segundo ele, é preciso ter em conta as divisões nas corporações armadas – das quais a polícia e o serviço secreto eram os mais odiados.

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