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Antanas Mockus é hoje nome quase certo para disputar o segundo turno contra Santos | Reuters
Antanas Mockus é hoje nome quase certo para disputar o segundo turno contra Santos| Foto: Reuters
  • Operário passa por um cartaz publicitário do candidato à Presidência da Colômbia pelo Partido Verde, o filósofo e matemático Antanas Mockus

Desde que começaram a ser divulgadas as pesquisas de opinião sobre as eleições presidenciais na Colômbia, cujo primeiro turno ocorre neste domingo (30), os resultados sempre apontaram para a realização de um segundo turno - este marcado para o dia 20 de junho.

O candidato governista, Juan Manuel Santos, começou a disputa como grande favorito para dar continuidade ao governo do presidente Álvaro Uribe (2002-2010), marcado por um intenso e bem sucedido combate às redes de narcotráfico e guerrilhas - o que lhe rendeu uma popularidade em fim de mandato de 70% de aprovação.

No início de março, o economista Santos, do Partido Social da Unidade Nacional (conhecido como "La U"), aparecia bem à frente da então segunda colocada, a ex-chanceler Noemí Sanín, do Partido Conservador Colombiano (PCC).

Foi quando a figura de um exótico matemático e filósofo de família lituana começou a ganhar destaque com uma linguagem inovadora e propostas diferentes - além de ter o respaldo de dois mandatos bem avaliados a frente à prefeitura de Bogotá, capital e maior cidade do país. Com um crescimento vertiginoso em menos de um mês nas pesquisas, Antanas Mockus, candidato do Partido Verde, é hoje nome quase certo para disputar o segundo turno contra Santos, com quem divide a preferência do eleitorado.

O último levantamento foi realizado no dia 21 de maio pelo instituto Datexco, encomendado pelo jornal "El Tiempo", que apontou para um empate técnico entre Santos (35%) e Mockus (34%)- os demais candidatos, juntos, não somam mais de 20%. Já em um eventual segundo turno, o candidato verde ganharia por um ponto (45 a 44%). Caso essa possibilidade se torne real, esta seria a primeira vez na história política contemporãnea a ter um candidato desta corrente ideológica eleito chefe de Estado de um país pelo voto direto.

Mockus começou a disputa em terceiro lugar, com distantes 10%, quando, a partir de abril, triplicou seus pontos percentuais pesquisas, rapidamente se igualando a Santos. Desde então, os dois alternam-se em primeiro lugar em uma disputa bastante acirrada. Um quadro bem diferente do de 2006, quando Mockus pleiteou a Presidência concorrendo pela Aliança Social Indígena: só obteve 1,26% dos votos. A eleição foi vencida por Uribe ainda no 1.º turno, com 62%.

Para o professor Alberto Pfeifer, do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional (Gacint) da Universidade de São Paulo (USP), a ascensão de Mockus representa a vontade da opinião pública daquele país por mudanças e o rechaço da ideia que a eleição se torne somente um referendo sobre a continuidade da gestão Uribe. "Ninguém é contrário ao combate a uma guerrilha associada ao narcotráfico. O que há é a busca de algo a mais por parte da sociedade colombiana. E quem traz essa possibilidade do um bom desempenho econômico e social, além de êxitos no combate ao narcotráfico, com experiência comprovada, é o Sr. Mockus. Ele foi prefeito de Bogotá e seu vice (Sergio Fajardo) foi prefeito de Medellín. Tem experiência razoável no comando do Executivo", afirmou ao G1.

Em relação às sua proposta políticas, Pfeifer ressalta que, apesar da alcunha de "verde", Mockus não propõe um radicalismo ambiental, mas novas e diferentes pautas. "Uma delas é sobre uma preocupação maior com questões ambientais. Mas ele também é pró-iniciativa privada, defende um governo participante e propositivo, enfim, faz com que a sociedade civil aflore o que tem de melhor", ressaltou Pfeifer.

Pfeifer tem uma visão muito positiva do atual quadro político colombiano. "A Colômbia tem muita sorte, pois os primeiros colocados nas pesquisas de opinião são candidatos de alta qualidade. São pessoas bem preparadas, de boa reputação, de boa formação acadêmica e profissional, além de experiência em cargos públicos. Há elites muito responsáveis e competentes tanto na esfera política como econômica do país", diz Pfeifer.

Por outro lado, Frederico Alexandre Hecker, professor de Ciências Políticas da Universidade Mackenzie, compara a retórica de Mockus com a abordagem casual que o ex-prefeito de São Paulo e presidente do Brasil Jânio Quadros tinha para com a população – sem levar em conta os pontos de vista ideológicos opostos. "Suas atitudes diante dos cidadãos parecem agradar uma ampla faixa da população que aspira pela decência e correção no poder. Jânio ia a bares ou restaurantes conferir o preço do cafezinho ou qualidade da alimentação oferecida aos trabalhadores. Mockus adota um comportamento moralizante, travestindo-se de "cidadão comum alçado ao poder." E isto lhe confere popularidade. Às vezes ele lembra um pregador de auditório que quer convencer as pessoas com palavras de aproximação entre "seres humanos", compara o professor.

A candidatura verde se posiciona publicamente como "centro", e um de seus principais lemas é que considera o dinheiro público "sagrado". Seu principal desafio, porém, será governar sem maioria no Congresso. Nas eleições legislativas, realizadas em março, a "U", de Santos e Uribe, obteve o maior número de representantes tanto na Câmara (47 dos 166 deputados) quanto no Senado (28 dos 102 senadores). Já a coalizão formada por Uribe teria maioria avassaladora caso todos os partidos que a integram se unissem novamente em oposição a um eventual governo Mockus: 112 deputados e 67 senadores. Já os Verdes, sozinhos, somam apenas quatro deputados e cinco senadores.

Em um ponto, os principais candidatos ao pleito admitem concordar: na continuação à política de Uribe no combate às guerrilhas, em especial as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Fato que, para Hecker, poderá favorecer Santos. "As Farc existirão até quando o tráfico de drogas perdurar, o que leva a entender que seu fim não está próximo. O Partido Verde se opõe ao narcotráfico, mas deste combate não tira sua principal força. Já o candidato de Uribe é conhecido por ser ferrenho adversário da guerrilha. Muitos eleitores o apoiam para não provocar a descontinuidade deste processo", afirmou Hencker.

A situação

Como ministro da Defesa entre 2006 a 2009, Santos tem, entre seus feitos, vários golpes contundentes às Farc, como a "Operación Xeque", durante a qual, em 2008, foram resgatados 15 dos reféns mais valiosos da guerrilha, entre eles a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt e três norte-americanos. De fato, a administração Uribe conseguiu encurralar a guerrilha nas zonas rurais e na selva. Embora os confrontos prossigam, a situação é bem diferente de quando Uribe assumiu, em 2002. Na época, os guerrilheiros ocupavam áreas consideráveis do território e chegaram a se aproximar de Bogotá, sendo o maior desafio ao então presidente Andrés Pastrana.

Santos já disse reiteradas vezes que continuará com uma política implacável contra os milicanos. Fora da esfera da segurança, sua maior promessa é se concentrar na criação de pelo menos 2,5 milhões de empregos.

"O governo Uribe trouxe de volta a auto-confiança do povo colombiano. Em parte graças à sua postura muito firme e assertiva, mas também pelos bons resultados em todos os campos. Na Colômbia, o governo conseguiu grandes vitórias estratégico-militares e garantiu o respaldo dos Estados Unidos ao Plano Colômbia. Não foi tão bem sucedido no acordo de livre comércio com os americanos, mas criou condições de investimento muito favoráveis", lembrou Pfeifer.

Um dos principais problemas que Santos terá de enfrentar se for eleito é sua conturbada relação com os governos da Venezuela e do Equador. Uribe sempre ter tido uma relação conflituosa com o mandatário venezuelano Hugo Chávez, a quem por várias vezes acusou de contribuir com a guerrilha. Já em relação ao Equador, a situação é mais complcada. Santos tem um mandado de prisão contra ele pedido pelo Ministério Público e ratificado pela Justiça local. Ele é acusado de comandar um ataque aéreo às Farc em março de 2008 em território equatoriano, em uma operação que resultou em 24 mortes, incluindo a do então líder das Farc Raúl Reyes. O presidente Rafael Correa afirmou que uma vitória de Santos seria "um problema para o país".

Uribe também teve sérias desavenças com todos seus vizinhos sul-americanos quando anunciou a assinatura de um acordo militar que permite que soldados norte-americanos operem em suas bases, o que foi visto como um risco à soberania nacional e regional.

As duas principais críticas a Santos e Uribe porém, partem justamente no combate às guerrilhas. O governo tem sido atacado por diversas denúncias a respeito de violações aos direitos humanos. Nesta sexta-feira (28), a ONU denunciou 98,5% de impunidade em relação a crimes cometidos pelas Forças Armadas colombianas, o que o governo nega. Há também o escândalo dos "falsos positivos" - supostas execuções extrajudiciais de civis por militares em troca de recompensas. As vítimas seriam apresentados como guerrilheiros abatidos em combate. Outro escândalo ligou políticos aliados ao governo e funcionários públicos a conexões com paramilitares e denúncias de corrupção.

Esses escândalos podem explicar, em parte, porque Santos não conseguiu herdar a popularidade de Uribe nas pesquisas.

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