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Republicanos dominam voto religioso

Num país em que 8 em cada 10 cidadãos se declaram religiosos, a igreja tem um papel relevante na decisão do eleitorado. Desde 1988, pelo menos, há uma clara relação entre pessoas que freqüentam a igreja e o voto nos republicanos. O democrata Barack Obama, que sempre jogou com a carta da família cristã, não conseguiu avançar muito entre os eleitores que vão mais regularmente à igreja. Segundo uma pesquisa da Gallup, ele tem o apoio de apenas 28% de brancos que vão à igreja pelo menos uma vez por semana. É um grupo importante, que representa quase 1/3 do total de eleitores.

De acordo com Andrew Gelman, autor do livro "Estado vermelho, estado azul, estado rico, estado pobre", um estudo sobre o comportamento do americano nas urnas, a religião importa principalmente nos estados mais ricos, onde a preocupação com a economia, especialmente quando ela vai mal, é menor.

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Às 7h30 da manhã de domingo, no primeiro culto do dia, os dois mil assentos da Trinity United Church of Christ de Chicago já estão tomados. É dia de festa – o último grande encontro antes da provável eleição de um notório ex-membro da igreja como presidente dos EUA.

Foi daqui que saiu uma das questões mais explosivas desta campanha eleitoral. O homem que foi pastor de Barack Obama por mais de 20 anos, reverendo Jeremiah Wright, tornou-se conhecido dos americanos durante as primárias democratas após seus sermões que pediam "Deus almadiçoe a América" serem amplamente divulgados pela mídia. O tema até hoje continua sendo usado pelos republicanos. Apesar de ter deixado a igreja após o escândalo, Obama continua em alta entre os fiéis. No culto de ontem, muitos usavam broches com o nome do candidato.

Do início ao fim do sermão, o tom foi predominantemente político. O culto começou com uma citação de Isaías (32-1): "Eis que reinará um rei com justiça, e dominarão os príncipes segundo o juízo". Em seguida, os fiéis rezaram pelo legado de Martin Luther King e Malcolm-X. O pastor Otis Moss III, o substituto de Wright – agora "pastor emérito –, sobe no altar e distribui brinde aos casais que votaram antecipadamente. Pede para que os membros da igreja folheiem a programação do dia. "Há um anúncio aí", diz ele, "na página 21. É um recado para vocês votarem.Vamos votar em...", e fica mudo. Uma mulher berra: "Fale! Fale!". Ele não responde. Por serem entidades isentas de impostos, as igrejas são proibídas por lei de se manifestarem a favor ou contra qualquer candidato.

Do lado de fora, após o culto, os fiéis se tornam quase irreconhecíveis. Quando percebem a presença de repórteres, apressam o passo. Abordados, a maioria diz que não tem permissão para falar. Alguns são hostis. "Deixe os negros em paz", adverte uma senhora. "Vá embora antes que eu te chute daqui".

Finalmente uma das participantes do coral, Marcia Jones, aceita conversar — desde que o tema Jerimiah Wright não seja abordado. Ela se diz impressionada com o apoio que Obama está recebendo dos brancos. "Há 30 anos, as crianças negras aqui eram apedrejadas pelos colegas quando chegavam na escola. E agora, quem diria? Um presidente negro", afirma ela, num tom levemente revanchista.

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