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Usar o serviço de enfermeiras ilegais se tornou comum na Grécia. Até Fotini Katsigianni, que é enfermeira chefe, recebeu uma proposta quando foi visitar o marido internado | Eirini Vourloumis para The New York Times
Usar o serviço de enfermeiras ilegais se tornou comum na Grécia. Até Fotini Katsigianni, que é enfermeira chefe, recebeu uma proposta quando foi visitar o marido internado| Foto: Eirini Vourloumis para The New York Times

Fotini Katsigianni usa um chapéu branco que se destaca no topo de sua cabeça. Ela é a enfermeira chefe do Hospital Evangelismos, um dos mais importantes da capital.

E ficou muito surpresa quando, no mês passado, foi abordada por um homem em um dos corredores da instituição. Na época, seu marido estava internado ali. O estranho lhe entregou um cartão e virou o rosto para que ela não pudesse identificá-lo. E lhe ofereceu uma enfermeira a um preço reduzido.

"Ele disse que, por trinta euros, eu poderia ter o que quisesse!", ri Fotini da ideia de tentarem vender os serviços de uma profissional ilegal a uma enfermeira chefe. Primeiro, os homens apareciam nos hospitais da Grécia durante o horário de visita e deixavam o cartão de visita; aí as mulheres chegaram à noite, geralmente vindas de países como Geórgia, Romênia e Bulgária – as enfermeiras que não são enfermeiras de verdade.

Com a situação calamitosa das finanças, a Grécia praticamente implodiu seu sistema de saúde pública. A cobertura universal acabou sob as medidas de austeridade impostas pelos termos do resgate do país.

Os cortes de orçamento também reduziram o número de enfermeiras disponíveis nos hospitais. Embora há tempos a opção da profissional particular faça parte do sistema de saúde grego, a crise econômica deixou muitos pacientes sem condições financeiras ou cobertura de plano para contratá-la.

Em vez disso, a procura é pelas enfermeiras ilegais, geralmente imigrantes com pouco ou nenhum treinamento. Segundo um membro do alto escalão do governo, metade da mão de obra do setor é fornecida por esses meios, e o número pode chegar a 18 mil.

A frustração entre os gregos em relação à deterioração do padrão de vida ajudou a impulsionar o partido esquerdista Syriza, que subiu ao poder em janeiro prometendo rejeitar a política de austeridade.

As enfermeiras ilegais geralmente fingem ser da família ou empregada de longa data do paciente, mas, na verdade, as agências que as empregam é que mandam os homens aos hospitais para distribuir cartões oferecendo doze horas de trabalho por menos de US$60. Só para comparar, uma contratada de outro hospital, o Sotiria, custa quase US$70 por 6 horas e 40 minutos, embora aqueles que tenham plano de saúde recebem o reembolso de um terço desse valor.

E isso é só o começo. Quase tudo pode ser alugado. "O mesmo vale para aparelhos de TV, ambulâncias, leitos", comenta Anastasios Grigoropoulos, do Evangelismos. Estranhos chegam carregando cadeiras para alugá-las aos parentes em visita.

A administração diz que lhe falta jurisdição legal para agir sem intervenção policial. "Por causa da crise, nos últimos três anos só cresceu o número de enfermeiras ilegais. Não podemos fazer nada", lamenta Grigoropoulos.

Alguns dias antes, o Evangelismos tinha passado por uma batida. Várias profissionais ilegais foram detidas, mas esse é um evento raro porque a polícia também sofreu muitos cortes. Todas as agências públicas estão no limite. A onda de imigrantes que começou a chegar nos anos 90, criou uma rede de mão de obra barata.

"Elas são usadas no preenchimento das vagas, ou seja, estão em todas as clínicas e hospitais", conta Dimitrios Papachristou, do Instituto de Segurança Social, agência estatal que fornece seguro e pensão para 2,2 milhões de trabalhadores gregos.

Porém, algumas enfermeiras categorizadas que estão tendo problema para encontrar emprego são imigrantes – como Eleni Souli, albanesa de 41anos que se casou com um grego e recentemente teve que disputar uma vaga com outras oito candidatas. Todas estudaram de dois a quatro anos para obter o diploma e demonstraram sua frustração. "Elas não são enfermeiras", reclamou Eleni, referindo-se às ilegais.

O Dr. Miltiadis Papastamatiou, diretor do Hospital Sotiria, explica que as enfermeiras que se aposentam raramente são substituídas e a consequência é que nem as necessidades dos pacientes, nem a do quadro de funcionários são atendidas, embora tentem minimizar o problema no Sotiria.

Uma funcionária de lá, porém, que se manteve anônima por medo de perder o emprego, reconhece a gravidade do caso. "Nós sabemos o que está acontecendo. Todo mundo sabe", resume, dando de ombros.

Contribuiu Aggelos Petropoulos

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