Ibrahim Adam fugiu de conflitos armados na região de Darfur, no Sudão, em 2011, e acabou buscando asilo na Indonésia na esperança de conseguir chegar à Austrália ou a outro país ocidental e poder retomar seu sonho de ser economista.
Mas depois de quase sete anos no país – onde legalmente não pode trabalhar, acessar serviços públicos ou obter cidadania –, recentemente recebeu más notícias: sua transferência provavelmente não vai acontecer.
O escritório da Agência de Refugiados da ONU na Indonésia começou a informar a quase 14 mil refugiados e requerentes de asilo que não devem esperar pela transferência para outro país, mas sim se preparar para a assimilação pela sociedade local da melhor forma possível, ou então regressar à terra natal.
"Ainda estou sem casa e sem esperança", disse Ibrahim, 33 anos, que recebeu status de refugiado da ONU em 2015.
Globalmente, há mais de 24 milhões de refugiados e requerentes de asilo, os níveis mais altos desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com as Nações Unidas. Historicamente, a chance de um refugiado ser reassentado é de apenas um por cento.
Os que residem na Indonésia enfrentam um obstáculo adicional imposto pelos Estados Unidos e pela Austrália, os dois principais destinos de reassentamento para os que estão aqui, que reforçaram sua política de imigração, diminuindo ainda mais uma chance já pequena.
"Somos muito honestos e tentamos explicar a eles como as coisas são imprevisíveis. Dizemos para terem expectativas realistas, porque vivemos uma crise global e as opções são limitadas", disse Thomas Vargas, chefe do escritório da Agência de Refugiados da ONU na Indonésia.
E acrescentou: "Nesta parte do mundo, em geral, os países costumavam ser mais generosos com as oportunidades que ofereciam".
Durante anos, pessoas vindas do Oriente Médio e do sul da Ásia que pediam asilo na Indonésia, vista como um ponto de passagem para chegar a Austrália, chegavam em frágeis barcos de madeira, controlados por contrabandistas, que faziam a perigosa viagem pelo Oceano Índico.
Porém, em 2013, o governo australiano adotou medidas rigorosas para desencorajar futuras chegadas, imediatamente transferindo aqueles que chegavam à sua costa para centros de detenção espartanos em Papua Nova Guiné e Nauru, ou mesmo se recusando a recebê-los.
A Austrália chegou a rebocar barcos repletos de refugiados, levando-os de volta a águas indonésias e proibindo a entrada de refugiados registrados na agência da ONU depois de primeiro de julho de 2014.
A situação ficou ainda mais complicada quando o presidente americano Donald Trump assumiu o cargo. Sua administração proibiu a entrada nos Estados Unidos de pessoas de oito países, incluindo a Somália, que tem o segundo maior número de refugiados e requerentes de asilo vivendo agora na Indonésia.
O governo americano planeja agora limitar o número de refugiados para os Estados Unidos em cerca de 40 mil pessoas no ano fiscal de 2018. No ano passado, apenas cerca de 400 que viviam na Indonésia foram transferidos para os Estados Unidos, de acordo com as Nações Unidas.
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‘Beco sem saída’
A Indonésia não é signatária da convenção da ONU de 1951, que proíbe os governos de mandar pessoas de volta para o país onde enfrentam ameaças graves, mas permite que permaneçam ali enquanto aguardam uma transferência para um terceiro país ou esperam que seus casos sejam examinados pelas Nações Unidas.
Porém, autoridades locais dizem que a permanência aqui não é uma opção.
"A Indonésia é apenas um país de trânsito, que redireciona os imigrantes para o país de destino. A ONU pode até nos pedir para deixá-los aqui permanentemente, mas isso não será possível", disse Agung Sampurno, porta-voz da Diretoria Geral de Imigração.
Esse beco sem saída está além da compreensão de Hamid Amini e Ali Azimi, dois afegãos de 18 anos que chegaram à Indonésia como menores desacompanhados, em 2014 e 2015, depois de fugir de ataques do Talibã contra suas comunidades de minoria étnica hazara.
As Nações Unidas conferiram a ambos o status de refugiados, mas os jovens tiveram que deixar um abrigo para menores em Jacarta, controlado por uma organização de ajuda internacional, quando completaram 18 anos. Desde então, sobrevivem de doações.
"Estamos vivendo no escuro", disse Azimi.
Porém, Amini tem mais motivos de esperança que muitos refugiados.
Ele contou que havia recebido uma notificação de aprovação de transferência do governo dos EUA, mas, depois de vários meses, ainda está aguardando autorização para voar.
Em comparação, seu amigo e companheiro refugiado afegão, Sardar Hussain, que recebeu permissão de entrada durante as semanas finais da administração Obama, estava em um avião com destino a Los Angeles apenas alguns dias mais tarde, e agora vive no estado de Washington.
Amini disse que teme que as políticas de imigração do governo Trump tenham cancelado sua transferência para os EUA.
"Nós todos ouvimos falar sobre Trump. Ele é um presidente. Deveria ver os refugiados como seres humanos", disse Amini.
Não, imigrantes não estão roubando os empregos https://t.co/QkPXgqnHYo
â Ideias (@ideias_gp) February 4, 2018