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Sudanesa do sul durante as celebrações da independência do país | Goran Tomasevic/Reuters
Sudanesa do sul durante as celebrações da independência do país| Foto: Goran Tomasevic/Reuters

Lual D’Awol cultivou sua paixão por rap e basquete durante o tempo em que viveu em Baltimore, nos Estados Unidos. Hoje, ele está no Sudão do Sul, que neste fim de semana se torna o mais novo país do mundo.

Os sudaneses do sul estão retornando para a nova capital, Juba, para um país que muitos nunca viram. Em referendo, em janeiro, os habitantes do Sudão do Sul decidiram se separar do norte, a partir de 9 de julho. Para alguns, a adaptação é um desafio, já outros, como D’Awol, estão ansiosos por voltarem.

"Eu decidi vir mais cedo para poder me envolver em todo o processo do referendo e ver o nascimento de nossa nação", disse D’Awol. "Vou ficar aqui. Não vou voltar [para os Estados Unidos] porque não há nada mais que eu precise fazer lá."

Durante as duas décadas de guerra civil entre o norte e o sul do Sudão, milhares de "meninos perdidos do Sudão" passaram anos vagando pelo país fugindo da fome e da morte antes de irem para os Estados Unidos, para a Europa ou para outro país africano vizinho, como Egito, Etiópia, Quênia e Uganda. Mais de 4 milhões de sudaneses da parte sul do país deixaram suas casas, muitos a pé.

D’Awol, de 26 anos, teve sorte. Seus pais são diplomatas e estiveram fora do país durante a maior parte de guerra. Nascido na cidade de Nova York, agora ele está de volta a Juba trabalhando como auditor de um projeto financiado pelo governo americano.

Rapper nas horas vagas, sua última música recebeu o nome de "Scattered Overseas" ("Disperso no Exterior"). Sua mensagem aos cidadãos do país: "eu acho que eles deveriam voltar".

Para os que cresceram no exterior, o retorno pode ser um choque cultural. A infraestrutura no Sudão do Sul é, na melhor das hipóteses, elementar. A situação da segurança, sempre tensa, está piorando, particularmente as regiões de fronteira entre os dois países, e o nepotismo e a corrupção são comuns.

"Eu sempre quis voltar e sempre soube que tinha de fazer isso", disse Mading Ngor. "Após perder meus parentes na guerra eu senti um tipo de obrigação moral em contribuir com o país. Eu também voltei para ver se há um lugar para mim nesta nova república."

Ngor, de 28 anos, cresceu em Alberta, no Canadá, onde estudou jornalismo na Universidade Grant MacEwan. Ele é visto como um forasteiro aqui, tanto pelos motoristas de táxi quando pelos parentes da vila rural onde ele nasceu.

"Eu vim como jornalista porque a independência é a matéria do século e eu queria ser parte dela", conta ele. "E para avaliar se é um lar de verdade ou não."

Anônimo

Um antigo "garoto perdido" que cresceu no sul dos Estados Unidos disse que não pode ter seu nome publicado porque tem parentes no governo e no movimento guerrilheiro, transformado no Exército nacional. E advertiu que, embora milhões de sudaneses do sul tenham sacrificado suas vidas para conquistar a independência, a corrupção governamental, um velho problema africano, está aumentando.

O Sudão do Sul já nasce como um dos países mais pobres do mundo. Tem apenas alguns quilômetros de vias pavimentadas. Os níveis de alfabetização são baixos e as mulheres que dão à luz enfrentam grandes riscos por causa da falta de instalações médicas adequadas. Mas o Sudão do Sul dispõe de petróleo e aqueles que estão no controle dos fundos do governo parecem cada vez mais prósperos.

O ex-garoto perdido disse que os líderes do Sudão do Sul passaram de oprimidos a opressores. Como contador experiente, ele é visto por alguns líderes do governo como uma ameaça e não como possível colaborador. "Não é apenas comigo. Muitas pessoas que voltaram passaram por este tipo de situação", disse ele.

O país, porém, já está crescendo em outras áreas. Já possui uma seleção nacional de basquete, à qual Simon Mayen, de 21 anos, decidiu se juntar. Ele nasceu na Etiópia, perto da fronteira sudanesa, em meio aos descendentes dos combatentes guerrilheiros do sul. Seus pais tiveram um importante papel na luta pela libertação do sul e tinham recursos para que o filho fosse educado durante a guerra, com o objetivo de que ele voltasse para contribuir com o produto de sua luta, tão duramente conquistada.

Quando viajou pela primeira vez a Juba, vindo de Nairóbi, há cinco anos, Mayen ficou "chocado" com o que viu: nada de prédios, nenhum banheiro, nem água potável ou eletricidade. "Mas, ao mesmo tempo, eu sempre soube, meu pai sempre lutou, ele sempre nos fala sobre o dia em que iremos para casa. Ele é um homem velho agora", disse Mayen. "Ele sempre me disse que estamos fazendo que estamos fazendo agora para fazermos mais no futuro".

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